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Nós estávamos tomando café. No mesmo silêncio que Sebastian me deixara mais cedo.
- Então meninos? A noite foi boa?
Eu não respondi. Nem ergui o olhar pra minha mãe. Só fingi que não era comigo.
- Foi sim, senhora Winters. - Sebastian me salvou e eu agradeceria mais tarde por isso.
- Então, eu vou indo pra casa. - disse Lisa se levantando de última hora.
- Agora? - mamãe perguntou.
- Sim. Minha mãe acabou de me enviar mensagem. - ela deu de ombros sem saber como se importar.
- Eu levo você. - eu ia me levantando.
- Não precisa. - ela deu um sorriso rosa e se dirigiu até a porta.
- Tem certeza?
- U-hum. Depois eu ligo para você. - eu assenti e ela beijou minha bochecha. - Tchau.

- Sim.
Tomei um susto quando ouvi a única palavra de Sebastian na cozinha, enquanto estava tão concentrado na louça.
- Sim, o quê?
- Qual foi sua pergunta de hoje cedo? - ele disse, se dirigindo para o meu lado na pia.
Demorou um tempo pra eu entender do que ele estava falando.
- Se você já... Se você já amou alguém. - minha voz foi morrendo.
Eu não sabia como prosseguir dali.
Quando eu o perguntei, pareceu um estigma que não deveria ser mexido, mas agora ele estava criando diafragmas na minha cabeça.
- Você quer falar sobre isso...
- Eu quero te ajudar com a louça.
- Ah. - eh entendi o recado.
Eu lavava, enquanto ele secava e guardava a louça.
- Como foi? - ele me olhou e me queimou. - Desculpa.
Ele continuou secando a louça, até um copo cair e quebrar. Pareciam pequenos prismas refletores de luz. Lembrei da aula de física do último bimestre.
- Foi trágico. - ele disse observando o copo quebrado numa hipnose irregular. - Ela me despedaçou por algum tempo.
Eu peguei a vassoura e a pá e ele me ajudou a recolher os cacos.
- Eu sinto muito, Sebastian.
- Mas mesmo assim... - ele varreu o último caco. - Foi a melhor coisa que me aconteceu. - e eu vi a verdade no fundo dele. - Foi... Intenso.
Se antes eu estava perdido, agora eu nem sabia qual era meu estado psicológico.
- Por que foi trágico?
Ele continuava encarando os cacos na pá de lixo.
- Ela foi embora. - ele fechou os olhos e trocou o palito de lugar. - Porque queria o mundo.
Eu me senti quebrado.
Eu preferia continuar me sentindo assustado por não saber de nada e aquilo poderia até soar meio rude dito em voz alta, mas não era assim que funcionava. Não era como se eu estivesse sendo egoísta; eu nunca seria egoísta com um amigo; com meu melhor amigo; com meu único melhor amigo.
O problema é que eu não tinha muita visão e experiência sobre as coisas, então eu só não sabia exatamente como reagir aquilo, e eu não achava que ficar olhando para cara dele com meu lábios contorcidos porque eu realmente achava aquilo tudo drástico, iria ajudar.
- Por isso Victor, - ele pareceu se recuperar do transe que na realidade eu achei ser eterno. - Nunca deixe uma pessoa dizer que você não é suficiente; nunca deixe uma pessoa te fazer a amar para depois quebrar seu coração, porque... Essa é a coisa mais cruel que alguém pode fazer.
Eu apenas assenti e ele nem viu, porque se virou de costas.
Eu nem sabia o que dizer.
Eu só queria ter algo confortante para dizer.
Eu queria ser um bom amigo para ele, assim como ele era para mim.
Me senti ineficiente.
Mas eu o abracei. Mesmo assim. Eu abracei as suas costas num casaco cinza que cheirava à terra molhada. Eu o abracei e eu quis chorar por alguém ter partido seu coração.
Eu quis chorar por saber que mais uma vez, ele tinha sido machucado.
- Tá tudo bem, Sebastian. Seu coração vai melhorar. - foi a única coisa que consegui dizer e eu sabia que não era de todo confortante, mas era o meu jeito de dizer algo bom.
Ele se virou e me abraçou de volta.
- Tem muita coisa em que meu coração precisa melhorar, Victor. Essa é só mais uma delas. - ele deu tapinhas nas minhas costas e me remanejou para um sorriso. - Eu quero que me prometa uma coisa.
- O quê?
- Que você não vai deixar nem Lisa, nem ninguém quebrar o seu coração.
- Mas por que a Lisa...
- Me prometa, Victor.
- Eu prometo, Sebastian. - eu senti a força daquilo quando ele tirou o palito da boca e o jogou no lixo.
Eu senti que aquilo deveria ter algum significado, eu só não sabia qual.
E foi assim que ele foi embora.

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora