57 - B r o t h e r

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- Filho? - abri meus olhos naquela tarde meio esquisita.
Não que fosse só aquela em particular; todos os dias desde o surto eram estranhos ou peculiares. E peculiares na minha linguagem não era uma coisa boa.
Nunca foi.
- Tem uma pessoa aqui, querendo te ver.
- Mamãe, eu não quero...
- Oi, Victor. - ele entrou com um sorriso que acabara de nascer mas que era um tanto torto.
- SEBASTIAN! - dei um pulo da cama e saí correndo até ele.
Ele estava sem seu habitual palito de dentes na boca e pensei que talvez por aquilo o dia estivesse tão estranho.
Ficamos parado um na frente do outro, até que tivemos o mesmo impulso, e nos abraçamos.
Eu fechei meus olhos e me senti totalmente pequeno de novo; mas dessa vez era infinitamente confortável.
- Sebastian... Eu... Eu... - eu suspirei - Obrigado.
- Você não tem que me agradecer. - ele se sentou na beirada da minha cama e passou a mão pelo cabelo escuro.
- Você me trouxe pra casa... - eu percebi que estava falando em voz alta, só por sentir minhas cordas vocais vibrarem. - Você ainda sim, conseguiu me acalmar.
- É.
- Só a minha mãe faz isso. Falando do meu pai. E você... Você... Conseguiu.
- Eu sabia que ele seria a primeira coisa que viria na sua mente.
- Como?
- Porque era exatamente igual quando eu tinha meus ataques. - ele ergueu a cabeça para mim e eu o olhei sem acreditar.
- Espera, - eu assismilava as coisas. - Você também tem ataques de pânico?
- Os meus pararam há uns anos atrás. Mas isso não significa que eles não possam voltar. - eu apenas assenti. - Eu entendo você.
- Obrigado. Acho que você é a segunda pessoa que consegue entender como sinto a falta dele.
- Deve ser. - um sorriso vesgo. - Sabe o que fui fazer aquele dia que saí daqui de madrugada?
- Não. O quê?
- Aquele dia era para ser aniversário do meu pai. - ele tirou um palito do bolso.
Agora o dia estava realmente normal.
- Fui o visitar.
- Como foi?
- Pela primeira vez... Foi bom. - ele deu um sorriso extremamente esplêndido.
Era o reflexo de prisma dela.
- Eu conversei com ele daquele jeito que você me ensinou. - eu vi uma versão frágil dele, quase quebrável, mas ele estava puro.
- Sebastian, eu preciso te falar uma coisa...
- Não. Eu não gosto de garotos. - ele complicou sua face.
Eu sorri um pouco. O primeiro sorriso em alguns dias.
- Quando você me achou naquele dia e me trouxe para casa, eu desejei que você fosse o meu irmão mais velho; eu só queria que você pudesse cuidar de mim como um irmão mais velho. - ele me encarou e assentiu com compreensão.
- Mas eu já encaro você como um irmão mais novo. - ele passou a mão no meu cabelo claro. - Você é um bom garoto e meu pai dizia, que temos que nos aproximar de pessoas boas.
- Eu fiz um desenho para você. - eu fui até minha bancada e peguei um papel azul e o entreguei.
Ele correu os olhos pelo desenho e seus olhos cresceram:
- Como?
- Eu vi a foto na sua carteira.
- Obrigado. Eu vou guardar...
- Oi. - direcionei o olhar para alguém que estava na minha porta com uma postura tímida.
- Lisa. - foi uma constatação eletricamente melancólica.
- Oi. - ela repetiu, segurando sua bolsa com força.
Isso devido a ponta branca de seus dedos.
- Bom, eu já vou indo. - Sebastian fugiu, como um raio.
Eu abaixei minha cabeça, enquanto ela se dirigia para o espaço na cama, ao meu lado.
E era óbvio que a primeira a falar era ela.
- Já fazem quatro dias. Quase cinco.
- Eu sei.
Eu sabia que fizera errado; eu sabia que deveria pedir desculpas, mas eu ainda estava imensamente assustado sobre o que acontecera, e tudo o que eu conseguia lembrar, era dela gritando comigo, como se eu estar tendo um ataque de pânico fosse besteira.
Eu continuava acanhado.
Mas eu não a quis machucar. Eu entendia perfeitamente que a culpa não era dela. As pessoas tinham diferentes reações aquilo tudo. Ela só apresentara uma.
- Como você está? - apontei a mesinha alta e verde, de lado da minha cama. Haviam algumas caixas de remédio:
- Tomando minhas pílulas felizes. - mas meu rosto não estava nenhum pouco contente. - Lisa, me desculpe.
Eu recuei mais uma vez, porque eu me sentia totalmente exposto.
- Eu a assustei e não era a intenção, é só que... Eu não posso controlar isso.
- Tá tudo bem. - ela juntou os dedos. - Achei que você estivesse zangado comigo.
- Por que eu estaria zangado com você?
- Você não quis me ver. - ela deu de ombros.
Eu neguei com a cabeça:
- Eu só estava envergonhado. Só isso.
Ela se levantou:
- Victor, eu posso te dar um abraço?
Eu levantei e abri meus braços de pijamas fofinhos.
Ela se atirou neles, mas com certa delicadeza; como se calculasse para me não machucar.

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