09 - U m b r e l l a ?

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Passei a noite me perguntando se eu deveria chamar ela para sair, ou se aquilo estava acontecendo de modo precipitado de mais.
Eu não tinha a mínima noção.
Era normal o coração de alguém bater duzentas e onze vezes por minuto? Porque era a minha freqüência cardíaca depois que ela entrou. E sim, eu contei isso no meio da rua, enquanto um monte de outras pessoas me encaravam e pensavam que eu estava tendo algum colapso, por conta de uma doença hereditária.
Eu me senti até tonto na hora. Não, eu me sentia tonto até agora.
Eu sentia que deveria fazer alguma coisa, mas simplesmente quando todas as sardinhas dela corava, meu coração também corava.
Meu Deus, eu sentia como se eu estivesse prestes a morrer.
Eu estava rolando na minha cama, enquanto sorria.
Ela era incrível.
E ela tinha um sorriso que acabava provocando erupções de fogos de artifícios nos meus átomos. E que bom que ela sorria toda hora.
Ela era realmente linda.
- Ela está me surtando. Acabando com tudo em mim. Mas é de uma forma tão bonita, que até é agradável.
- O que, querido? - mamãe colocou a cabeça para dentro do quarto.
- Nada, mamãe. Nada não.
- É sobre a garotinha?
- Ela é bem bonita.
- E você parece um disco arranhado.
- Mãe!
- Victor! - demos gargalhadas juntos. - Vem cá. - ela colocou um travesseiro no seu colo, no qual deitei minha cabeça. - Por que não chama ela pra sair?
- Eu não posso chamar ela pra sair agora. Só fazem uns - precisei lembrar. - sete dias que a gente se conhece.
- Você deveria chamar ela pra sair, Victor. Antes que alguém chame.
- Mas mãe, eu não consigo falar direito com ela. - me ajoelhei na cama e a encarei.
- Por quê?
- Ela... Ela... - suspirei. - Ela tira o meu ar, só de sorrir.
- Diga isso pra ela.
- Eu mal consigo dizer oi. - era conflito interessante.
- Uma hora você vai conseguir, querido. Você vai ver. - ela me abraçou e fez carinho no meu cabelo. - Agora preciso falar outra coisinha com você.
- O quê?
- Victor, eu estou saindo com alguém. - meu sorriso foi destilando, até se formar completamente. - Ué, por que você está sorrindo feito um maníaco?
- Isso é maravilhoso, mamãe!
- É, é? - eu assenti euforicamente. - Eu achei que você teria uma reação contrária.
- Eu quero que você seja feliz, independente de qualquer coisa. Você merece um universo de coisas boas. - beijei a bochecha dela. - Eu te amo, mamãe.
Ela encarou meus olhos:
- Também amo você, filho.
Ela disse sorrindo e saiu andando.
- Quando vou conhecer ele?
- Quando resolver chamar a Lisa pra sair. - ela jogou uma almofada na minha cara.
- Poxa, mãe.
- Sua mãe sabe das coisas. - ela disse e fechou a porta do meu quarto.

- Oi. - eu disse para as orelhinhas de pikachu.
- Victor. - ela abriu mais um sorriso e eu percebi que ela nunca era mínima.
Lisa era de sorrisos exagerados e gargalhadas altas. Ela era máxima.
- São seis e cinquenta. - chequei meu relógio de pulso. - O que você está fazendo na escola tão cedo?
- Eu queria ver você.
O que eu fazia agora? O que eu fazia? Eu não sabia reagir. Não sabia o que dizer.
- Você fica muito bonita com esse casaco. - foi a coisa mais apropriada que consegui dizer.
- Ah, obrigada. - ela fechou mais o zíper. - Eu sou meio ligada em cultura japonesa.
- Eu também.
- Ouvi dizer de uns eventos que vão ter em outubro.
- Olha, Lisa... - eu precisava fazer alguma coisa. - Você trouxe guarda chuva? - parecia uma pergunta deslocada, mas tinha um fundamento bom.
- Espera. Deixa eu ver. - ela pousou a bolsa numa das mesas do pátio e começou a revira-la.
Fiquei feliz de ela não me perguntar o porquê daquela pergunta; ou me chamar de idiota por uma suposta cantada.
- Não. Eu não trouxe.
- Então... Será que eu poderia te levar até em casa?
A boca dela se abriu num leve "O", enquanto seus dentinhos espaçados brilhavam.
- É que eu tenho guarda-chuva, sabe? E...
- Eu aceito. Sim. Sim. - ela começou a a assentir feito uma louca. - Então, você me espera para descer?
- Sim, eu espero.
- Eu costumo descer depois de todo mundo então se eu demorar é só porque quero deixar as pessoas irem - ela deu uma respirada funda, porque falara tudo sem pausa. - Não é como se eu não quisesse ir pra casa com você.
- Eu vou esperar você, Lisa. Mesmo que demore. - então os lábios dela torceram mais uma vez e ela corou.
Já estava se tornando um hábito, e ei gostei. - Boa aula. - eu disse subindo para minha sala.
- Boa aula, Victor.

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora