Depois de fazer mais curativos do que eu gostaria, minha mãe me fez um chocolate quente com marshmallow.
Eu adorava marshmallow. E foi incrível como aquilo me fez pensar nela. Pois em algum momento, eu achei que ela tivesse gosto de marshmallow, algo doce e macio.
- Mãe - eu disse no meu tom mais sério, quando o chocolate acabou me dando uma epifania. - Pode me levar até aquele bistrô no centro?
- Mas já são quase seis horas. Não sei se vai estar aberto.
- Não importa, eu tenho um pedido de desculpas para fazer.
Ela olhou nos meus olhos e sorriu.Respirei fundo antes de bater naquele portão branco.
Pareceu uma infinidade de tempo, que eu esperei para ouvir a porta do outro lado destrancar e passos adiantados vierem de encontro comigo.
- Pois não? - era o pai dela.
- Anh, Oi... Senhor Sandle... Hum. - respirei fundo e tomei coragem. - A Lisa está?
Eu não sabia o que esperar. Eu não sabia se ele estava bravo comigo também, porque eu magoara a filha dele.
Eu estava bem frequente na dúvida, quando o rosto dele se iluminou com um curto sorriso de boca pequena, alcançando seus pequenos olhos pretos.
O senhor Sandle tinha uma pele morena, com uma barba por fazer, que o caia bem; pensei que talvez sem ela, ele ficasse extremamente jovial. E seu cabelo era igualmente castanho, num tipo de liso batido para o lado.
- Eu posso falar com ela?
- Você sabe que a Lisa está meio chata, não sabe, rapazinho? - ele apoiou as mãos no joelho para ficar no meu nível.
- Eu sei. É minha culpa.
- Tem certeza que quer encarar?
- Eu não me importo. Eu só não quero que ela fique brava comigo. - revelei. - Quero consertar as coisas.
Aquilo era tudo. Era a essência de eu estar ali. Eu só sabia que deixar ela ficar brava comigo, não me fazia muito bem.
- Tudo bem. Pode entrar. - ele abriu mais o portão e eu entrei na garagem. - Pode vir, eu vou chamar. - eu me esgueirei pela passagem estreita entre os carros até a sala da casa dela.
Eu procurei pela senhora Sandle, mas ela não estava em nenhum lugar que eu pudesse ver, então eu só continuei quieto, esperando.
- NÃÃÃÃÃÃO! - ouvi acima das escadas e passos de corrida.
Confesso, ter ficado meio assustado; eu não sabia o que esperar. Eu estava com medo de ela descer e jogar um prato na minha cabeça.
Não demorou para eu ouvir uma porta se abrindo e logo passos retumbavam pela escada.
Eu estava envergonhado. Não. Eu estava muito envergonhado.
Eu não encarei os olhos dela de início, então a primeira coisa que vi, foram suas meinhas de renda salmão em seus pezinho pequenos.
E quando criei coragem suficiente para a olhar, o senhor Sandle já havia sumido:
- Oi, Lisa.
- Oi. - ela também não me encarava.
- Eu não queria ter a beijado. - então eu capturei o olhar dela para mim por algum momento. - Na verdade, eu não a beijei... Ela disse que gostava de mim e aí, quando eu vi...
- E você gosta dela? - eu vi, no fundo dos seus olhos, que ela esperava aquela resposta como o céu esperava um arcos íris depois de uma chuva ensolarada.
- Não. Eu não gosto dela. - eu respirei fundo - Porque o único cabelo que eu acho fascinante é o seu; e também porque eu gosto do jeito que você sorri e mais ainda do brilho dos seus olhos...
Eu disse tudo aquilo a encarando e ela abaixou a cabeça; suas bochechas quase corando.
- Eu gosto de você, Algodão Doce.
Eu nunca vi os olhos dela tão claros; eu nunca vi a boca dela naquele formato.
Eu só sabia que ela pareceu encantadora com aquela expressão de surpresa, num pijama de ovelhinhas, com meias de renda e o cabelo todo bagunçado.
Ela continuava linda.
Parecia uma criança. Mas eu gostava tanto...
- Você gosta... De mim?
Eu assenti, sem hesitar.
- Sim. - ela deu um grande sorrisão, daqueles espaçados e aí, ela gargalhou, bem alto. Para a cidade inteira escutar. De forma bem escandalosa.
Eu adorei aquilo.
- Eu trouxe uma coisa para você. - eu a mostrei uma sacola de papelão que vinha trazendo escondida.
- O que é? - ela pegou o pacote e começou a o fuxicar.
- Rodei praticamente a cidade inteira, mas consegui encontrar.
- Você me comprou sorvete de cereja? - ela segurava a caixinha com extremo cuidado, como se fosse a coisa mais preciosa da terra.
Ela colocou a caixinha dentro do pacote e o levou para a cozinha. Vi a geladeira abrindo e logo depois um silêncio.
Me perguntei se estava tudo bem, quando um fogo de artifício rosa veio na minha direção e me acertou em cheio num abraço animado.
Todo o meu corpo doeu duas vezes mais, mas eu não disse nada. Na verdade, eu sorri.
Ela estava me abraçando:
- Obrigada!
Então ela se afastou, bateu as mãozinhas e sorriu, até seus olhos se fecharem.
- Victor? - perguntou a mãe dela fechando a porta.
- Olá, senhora Sandle. - eu acenei.
- Meu Deus do céu, o que houve com você?
- Um garoto me bateu na escola. - eu observei a expressão de Lisa evoluir para um pânico crítico:
- Me diga quem é, e eu vou arrebentar a cara dela.
- Opa, opa, mocinha! Fique quietinha na sua, se não quem vai arrebentar você, sou eu. - disse ela e Lisa fez cara feia.
- Está tudo resolvido? - o senhor Sandle surgiu de novo.
- Sim! - ela sorriu.
- Então querida - ele disse indo para o lado da esposa. - Acha que pode colocar mais um prato na mesa?
- Acho que posso providenciar, sim. - ela deu um sorriso travesso, pondo os braços em cima do marido, que a abraçava.
- E temos sorvete de cereja para a sobremesa! - Lisa gritou, indo para a cozinha.
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U m a P r i m a ve r a Q u a l q u e r
Romance"Eu só queria uma resposta. A resposta do que é o amor. Eu queria encontrar uma definição num livro, na internet, mas a única definiçao que eu podia encontrar, era em mim mesmo e aquilo me dava medo, porque... E se eu nunca encontrasse?" - Victor...