71 - Mum

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T r ê s  D i a s

Eu não estava pronto para honrar a tradição.
Eu não estava pronto para sair do meu quarto.
E o meu olho estava inchado.
Minha mãe viera com meus remédios, mas eu os recusei. Eu não estava prestes a surtar; eu só estava consideravelmente triste.
Eu não fora ver Sebastian e eu também não conversara com mamãe sobre o que acontecera na casa de Lisa aquele dia. Eu não queria falar. Para ninguém.
Eu me sentia tão invisível.
E eu sabia que talvez mamãe estivesse  louca de preocupação. Não, eu sabia que ela estava preocupada, porque vez ou outra, eu a flagrava  me olhando da porta do meu quarto.
Eu não queria ter a deixado daquele jeito; Deus do céu! Eu nunca quis, mas... Eu não tinha o que fazer. Eu não podia controlar seus sentimentos.
Mesmo assim, eu me senti culpado por ser a circunstância de ela estar com aquele olhar recorrido sobre mim.
Lisa me ligara umas vezes, desde que eu botara meus pés para fora de sua casa, e tudo o que eu fiz foi colocar o celular para baixo do travesseiro, para abafar o toque.
Isso nas primeiras vezes.
Depois, eu o silenciei e agora? Agora ele estava desligado e guardado dentro da gaveta da minha cômoda de cabiceira.
Aquilo doía bastante, na verdade.
- Mamãe? - eu desci até a cozinha e me encostei na parede de azulejos, com a minha blusa de manga longa passando da conta. - Existe algum remédio que faça o coração parar de doer?
Eu sabia que não.
Aquilo causaria praticamente uma guerra.
Mas eu sabia que aquilo faria mamãe me abraçar e eu me sentir confortável, externa e talvez internamente.
E foi o que aconteceu. Mas meu tumulto interno apenas se aquietou um pouco.
- O que aconteceu, meu príncipe? - ela segurou meu rosto, e eu me encolhi á menção daquela palavra. - Por favor, Victor. Conta pra mamãe o que aconteceu?
- Foi a Lisa, mamãe. - eu funguei e enxuguei os olhos apertados com a manga da blusa. - Ela foi tão cruel comigo e ela disse coisas tão maldosas para mim e eu... Eu... - me perdi no meio de alguns soluços.
- Meu amor! - mamãe segurou minha cabeça no seu abraço. - O que ela te disse?
  - Ela me fez sentir horrível, mamãe. Ela me fez sentir exatamente como um brinquedo que não pode ser consertado. E eu me senti tão tolo; como se eu não fosse importante...
- Me escuta, - ela se agachou para ficar do meu tamanho e eu me senti naquele mesmo episódio de quando eu tinha 12 anos e um garoto me batera na escola. - Nunca, nunca na sua vida, Victor, você pode deixar alguém dizer que você e seus sonhos não são importantes, está me ouvindo? Nunca! Porque se ela não percebe a sua importância, ela não é uma pessoa pura de coração, me entendeu? - ela secou minhas lágrimas com os dedos e foi como um anestésico. - Você me ouviu, Victor?
- Sim, mamãe. - as lágrimas foram diminuindo. - Mas eu me sinto mal.
- O mundo é um lugar mal, Victor. Muito mal. E você só está se sentindo tão triste assim, porque você é puro demais para toda essa maldade. - eu olhei para ela e apenas assenti.
- Mamãe? Pode me dar mais um abraço?
- É claro, querido.

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