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Eu batia desesperadamente na porta de Sebastian, como se tivesse alguém me perseguindo.
- Meu Deus do céu, achei que alguém estava morto, Victor. - ele disse abrindo a porta. - Entra.
Eu fiquei plantado na sua sala, o olhando com terror nos olhos:
- O que aconteceu?
Puxei o capuz, revelando meu pescoço e suas manchas; eu não sabia o nome daquilo, então achei que era melhor ele ver por si só.
Sebastian olhou para aquilo e colocou a mão na frente da boca, para soltar uma risada disfarçada.
- O que foi? - perguntei, num brando de confusão.
- Lisa foi meio maldosa com você. - Sebastian disse, se dirigindo até sua pequena geladeira branca.
- Maldosa? Como assim? - eu perguntei num misto quente de palidez e medo.
Ele puxou uma cadeira e apontou para ela, enquanto puxava as geleiras do congelador:
- Olha o tamanho das manchas que ela deixou.
- Sebastian, isso sai? Eu não entendi como ela me machucou tanto, porque eu não senti dor, na verdade eu senti uma coisa boa e...
- Toma, pega isso e pressiona aqui em cima. - ele me deu duas compressas de gelo que eu pressionei em cima das manchas. - Isso vai ajudar a diminui o tamanho e um pouco do roxo.
- Obrigado. - eu fiquei segurando aquela coisa gelada no meu pescoço, enquanto observava o piso impecavelmente limpo de Sebastian. - Mas o que é isso?
- Quando você leva sua boca á pele de uma pessoa e faz pressões com os lábios, você acaba criando esses aglomerados, pois você prendeu a circulação sanguínea por um momento, então ele se manifesta assim, se amontoando num mesmo lugar.
"Em outra linguagem, isso é um chupão".
Aquilo soava tão obsceno que eu abaixei a cabeça; eu me senti constrangido e eu não soube o que responder.
Na realidade, eu não quis nem levantar o rosto; eu não quis nem existir para presenciar aquilo.
Lisa tinha "chupado" meu pescoço? Mas aquilo não era uma coisa que as pessoas faziam quando elas queria... Bem... Quando elas queriam... Fazer aquelas outras coisas que geravam bebês?
Eu fiquei com um pouco de medo.
Ainda bem que eu não tinha feito aquilo nela; eu me sentiria mortalmente culpado e ficaria na paranóia até aquela coisa sair do pescoço dela.
- Mas... Essa coisa... Ela não é feita quando você... Quando você quer... Hum... Você sabe. - eu tentei, mas não foi muito definido.
- Geralmente isso acontece nas preliminares, mas não significa que seja propriamente só pra isso. - ele me explicou pacientemente.
- Eu to com medo disso não sair. - eu tirei o gelo e voltei a esfregar a pele manchada.
- Não vai sair agora, mas vai. - Sebastian disse saindo do meu campo de visão.
- Sebastian?
- Hum? - e ele voltou com uma pasta de dente, sabe-se lá Deus para quê.
- É normal sentir... Bem... Sentir... Hum, como eu posso dizer...
- Uma coisa estranha no corpo quando isso acontece? - ele apontou para meu pescoço e eu apenas assenti. - Sim, na realidade essa é a sensação que tem que ser causada.
- Ah.
- Você também fez isso no pescoço dela? - ele perguntou passando a pasta de dente no meu pescoço com a ponta dos dedos.
- Eu tentei, mas não sabia como fazer, então ela foi me mostrar. - eu não encarei o rosto de Sebastian, porque eu sabia do sorriso que estaria ali, e eu já estava me sentindo suficientemente restrito.
- Da próxima vez que ela quiser brincar com você, peça para ela ir mais devagar. - foi sua consideração. - Pronto. Agora, espera uns três minutos e você lava com água quente.
- Tudo bem.
Eu fiquei sentado na cadeira, com as mãos estendidas em cima da coxa, tamborilando os dedos inquietamente.

Depois de passar o que eu achei ser compressa de água gelada, água quente, álcool, hidratante e me mandar massagear os pontos machucados, Sebastian enfiou uma base em cima, para pelo menos tentar camuflar.
- Continua passando gelo que vai diminuir consideravelmente de tamanho. - ele me aconselhou.
- Ah, obrigado. - eu disse, passando do seu portão. - Tchau, Sebastian.
- Até mais, Victor. - ele fechou o portão e o barulho seguinte, foi o da chave girando na fechadura.
Eram quatro e trinta e dois, se tudo desse certo a minha mãe não estaria em casa ainda.

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora