19 - M i s u n d e r s t a n d i n g

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Eu só sabia que as minhas pernas doiam, atrás dela, mas eu também sabia, que deixá-la ir, não era nem uma opção.
As coisas passavam como estrelas cadentes ao meu redor, como complicados borrões e aquilo me fez lembrar da aula de arte, enquanto eu entrava em pânico.
Ela parou de correr.
Eu freei.
Fiquei de frente para ela. Os olhos dela eram redomas de vidro castanhas que seguravam o peso de mil flores senso regadas.
Aquilo me despedaçou. Como o buquê.
Então ela encarou o chão e ficou em silêncio, segurando o braço. Foi quando eu percebi que deveria dizer alguma coisa:
- Lisa, eu não quis...
- Vai pra casa, Winters.
E eu fiz jus ao meu sobrenome naquele momento que ele saiu da boca dela. Foi como ver fantasmas ao meu redor e sentir o frio que eles me causavam.
Então eu comecei a nevar pelos meus olhos.
- Não. Não faz isso. - ela ergueu o olhar pra mim, mas não estava chorando.
Eu era tão fraco.
Ela era o total oposto com aquelas flores brotando e brotando em seus lindos olhos, enquanto se eu tivesse alguma, ela estaria saindo da redoma.
- Me desculpa, mas ela...
- Até. - ela virou as costas e saiu andando, apertando a bolsa marrom.
- Algodão Doce... - sussurrei para os meus fantasmas e para algum cheiro de naftalina.
Eu a segui.
- Não me chame assim e não venha atrás de mim também. - ela gritou e disparou.
Ela me queimou. Com o próprio frio.
Eu havia a machucado.

Eu estava sentado no chão, com as costas numa parede que precisava de uma pintura não tão urgente assim, com o rosto pousado nas mãos, úmidas de tanta chuva.
Será que ela também estava chorando? Ou ela estava falando com a mãe dela o quanto eu era uma pessoa horrível? Será que o pai dela viria mais tarde para "conversar" comigo?
Eu não ligava para as perguntas na minha mente, mas o fato dela chorar, me deixava atordoado.
A porta se abriu, mas eu não liguei. Só continuei no meu conjunto fonético de soluços e suspiros, e ofegos...
- Victor, pelo amor de Deus, o que aconteceu? - ouvi minha mãe dizer enquanto jogava a bolsa de lado, para se ajoelhar à minha frente. - Você se machucou?
Eu assenti.
- Aonde ?
Apontei para o lado esquerdo do peito.
Mamãe me abraçou forte, sufocando agora meus gritos agoniados e fazendo carinho no meu cabelo claro.
- Mamãe, está doendo. Está doendo. - eu soluçava, entrecortando tudo. - Eu a magoei. Eu a magoei.
- Quem? O que aconteceu? - ela se distanciou de mim e segurou meu rosto com as mãos de dedos finos, limpando minhas lágrimas com seus polegares. - Me conta o que houve, Victor.
- Uma garota na escola... Ela... Ela me beijou. - outro soluço. - A Lisa viu.
- Meu amor...
- Eu acho que gosto dela e agora... Agora...
- Mas meu amor, você não fez nada de errado. - mamãe tentava entender, mas eu conseguia ver nos seus olhos, o quão irracional aquilo parecia.
- Fiz sim, mamãe. - eu assenti num choro perplexo - Eu a magoei.
- Victor, me escuta. - ela segurou meu rosto de modo mais firme. - Pare de chorar e me escute. - ela enxugava meu rosto com seus dedos. - Se você acha que a magoou, tem que ir e consertar as coisas com ela.
- E como eu faço isso?
- Você tem que pedir desculpas. E tem que mostrar o quanto se importa com ela. - eu assenti. - Tenho certeza que se você for sincero, vai ficar tudo bem.
Será mesmo?

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora