U m a P r i m a ve r a Q u a l q u e r

73 - G o o d b y e , C o t t o n

Foi ela quem abriu o portão.
Foi justamente ela quem abriu o portão e eu encarei seus legítimos, castanhos olhos.
Eu não disse uma só palavra:
- Victor! - ela ia abrindo um sorriso e ia lançando os braços em cima de mim, com festa, mas eu apenas desviei e passei pelo portão, me dirigindo livremente até a sala, como um ponto central.
- Victor?
- Oi, Lisa.
Eu a olhei. Ela estava com uma blusa amarela, e com seu cabelo rosa preso num rabo de cavalo na lateral. Ela usava um pequenino brinco verde de coruja, o qual eu já me lembrara de ter visto antes.
Pensei em como aquilo tudo deixava ela mais jovem do que realmente seus dezesseis lhe davam.
Ela parecia uma criança de exatos dez anos. E aquilo foi exatamente o que eu pensei quando ela veio falar comigo pela primeira vez.
Mas havia uma diferença; naquele dia, o meu coração estava louco, estava mandando além de sangue, cargas elétricas pelas minhas veias. Dessa vez não. Não haviam cargas elétricas; apenas o meu sangue pulsando pelas minhas veias.
E de repente, quando eu a olhei naquele momento, ela não me pareceu mais tão bonita.
Ela era uma pessoa normal, que pintara seu cabelo e pela qual eu havia me apaixonado.
Não deixei aquele pensamento mórbido abalar nenhum átomo meu.
- Você me disse que eu era tolo. E disse também que eu não servia para ser um namorado.
- Victor, eu...
- Você me fez sentir horrível, Lisa. Como se eu nunca pudesse ser bom o suficiente. Nem para você. Nem para ninguém.
- Eu não quis...
- E eu sei, Lisa. - pisquei calmamente. - Sei que talvez parte do que você esteja dizendo, seja verdade.
"Eu não dou presentes em todas as datas comemorativas; eu não sou tão interessante como você, ou tenho tantas histórias engraçadas para contar.
"Eu tenho dúvidas e inseguranças. E ah, eu também não sei deixar essas marcas que você sabe, mas isso não significa que eu não possa ser um bom namorado.
"Mas eu tentei, Lisa. Eu realmente me empenhei em ser o melhor para você. O melhor que eu podia ser. E você não entendeu isso. Você não entendeu que eu te ofereci tudo.
"Os meus desenhos, os meus sonhos, as minhas inseguranças, os meus medos, os meus sorrisos. Tudo. Tudo o que estava dentro do meu coração.
"E eu me expus para você. Me expus porque confiei que você não seria maldosa. Confiei porque achei que isso seria o suficiente para uma pessoa gostar da outra, mas Lisa...
"Você... Você partiu o meu coração".
Uma lágrima desviou do curso natural.
Mas não foi minha.
Pela primeira vez naqueles seis meses que eu conhecia ela, eu a vi chorar.
Eu fiquei um pouco orgulhoso.
Não por a fazer chorar, mas por não me fazer chorar.
- Você foi tão cruel Lisa... Que não percebeu que tudo que eu a tinha para oferecer era o meu coração.
- Victor, eu... Eu nunca quis machucar você. - ela argumentou, tentando se aproximar, mas a cada passo que ela dava, eu recuava dois.
- Mas você me machucou.
- Victor, eu amo você!
E foi naquele momento que eu tive duas certezas.
Aquilo, aquela coisa medíocre e viral, não era o amor.
E foi olhando para o rosto dela que eu conclui mais uma coisa:
- Eu ainda estou apaixonado por você, Lisa. - eu disse segurando a curva do seu rosto. - Mas eu não amo você.
Foi trágico.
Tão trágico que eu inclinei minha cabeça para o lado e ela começou a soluçar, sem um único som.
Eu não a amava.
E eu soube disso desde que decidi que aquilo acabaria, mas só tivera coragem de tomar ciência disso agora.
A minha mão foi caindo do contorno perfeito do seu rosto, como se fosse óleo.
- Victor, por favor! - ela segurou minha mão junto ao seu rosto e fechou os olhos. - Por favor! Me dá uma segunda chance, eu prometo que vou melhorar. Eu não posso perder você...
Eu segurei sua cabeça com as duas mãos, olhei em seus olhos, me inclinei, beijei sua testa e me voltei ao seus olhos:
- Tchau, Algodão Doce.