12 - R e n ê ?

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Cheguei em casa e minha mãe me deu um peteleco na cabeça:
- Onde você estava? Eu fiquei preocupada, sabia? Já são quase duas horas, Victor!
- Mãe, desculpa. - eu disse, ainda com a mão na cabeça. - É que estava chovendo muito e eu levei a Lisa em casa...
Ela estava com aquele rosto que se parecia muito com o meme de lua.
- Mãe, não faz essa cara, por favor.
- Você levou ela em casa, é?
- Eu consegui pedir para levar ela em casa! - eu disse, empolgado. - E eu também disse que o cabelo dela é bonito.
- E o que mais?
As vezes eu me perguntava como ela fazia aquilo. Assim como a tia que tem as chaves da escola, aquilo era um superpoder? Adivinhar coisas? Podia chegar até a ser assustador.
- Ela me deixou pegar no cabelo dela.
- E como foi?
- Fiquei com medo dela ouvir meu coração.
- Que coisa fofa! O meu garotinho está apaixonado! - ela explodiu de emoções.
Apaixonado?
- O que a senhora esta fazendo em casa tão cedo?
- Tirei folga hoje. - eu assenti e ia subindo as escadas. - Victor, será que pode me ajudar com o jantar hoje?
- A senhora vai fazer jantar?
- Lembra que eu disse que estava saindo com alguém? - eu assenti. - Ele quer te conhecer.
Eu soltei a bolsa no pé da escada e sai correndo para a abraçar:
- Vamos fazer o melhor jantar do mundo.
- É, eu sei que sim. - ela deu um tapinha nas minhas costas. - Agora vai tomar um banho, que você está imundo.

- Você está no ensino médio? - eu assenti. - E do que você mais gosta.
Lisa Sandle foi o que me veio em mente num primeiro momento.
- História. E também gosto de matemática, apesar de ser complicado.
- Eu adorava Geografia. - ele disse com um sorriso branquinho de dar inveja.
Renê era uns três anos mais velho que a mamãe. Ele usava roupas sociais e tinha um cabelo castanho claro, parecido com o meu, mas o dele era baixo e liso, arrumado de lado.
Ele tinha olhos pequenos e verdes e tinha um rosto meio quadrado, com a pele fina e morena.
- Você tem namorada, Victor?
Engasguei com o suco de morango.
Minha mãe deu uns tapinhas nas minhas costas.
- Victor está gostando de uma menina. E ela tem cabelos rosa. - mamãe revelou.
- Rosa?
- É, rosa. - ela concordou com um sorriso.
- Ela deve ser bem autêntica. - eu apenas assenti.
Eu não falava sobre Lisa com outras pessoas. Só com a mamãe e comigo mesmo; não me sentia muito confortável, porque eu me sentia mais bobo que o normal quando pensava sobre ela.
Quando eu falava de Lisa, era sempre como se eu fosse uma criança em seus primeiros anos, aprendendo a balbuciar alguma palavra, de forma boba, mas consideravelmente fofa.
- Sua mãe disse que você desenha, é verdade?
- Não exatamente. - eu dei uma garfada no meu macarrão. - Eu só copio algumas coisas.
- Eu gostaria muito de ver.
- Sério?
- Sim. - ele demonstrou evidente interesse.
Eu gostei daquilo.
Por mais que meus desenhos fossem só rabiscos de linhas tortas, ele estava interessado.
- Eu vou buscar então. Mamãe, me dá licença? - eu me levantei.
- Claro, querido. - ela me deu um sorriso.
Subi correndo as escadas atrás do meus desenhos. Achei alguns na gaveta da minha cama.
Desci correndo:
- Cadê a minha mãe?
- Foi no banheiro. - eu assenti e o entreguei os desenhos.
- Você realmente gosta da minha mãe? - perguntei sem enrolar.
- Sim, eu gosto muito da Nina.
- Você vai fazer ela feliz, não vai? - ele assentiu, sem hesitar.
- Sem dúvida.
- Olha, ela voltou a cantar, desde umas semanas atrás. Talvez tenha a ver com você.
Ele sorriu de novo.
- Só não conte para ela que eu te disse isso.
- Tudo bem. - ele apertou minha mão. - Vai ser nosso segredinho.

Gostei de Renê. Ele parecia um cara legal e mamãe estava cantando no banho há uns trinta minutos.
A conta de luz viria meio alta esse mês.
Eu gostava dela cantando. Ela tinha uma voz baixa e bonita; ela não conseguia alcançar notas muito altas, mas era engraçado ver ela tentar.
Desde aquilo ela parara de cantar.
Eu gostava do jeito que a voz dela soava na atmosfera; isso era sinônimo dela estar bem.
Estava pensando nisso, quando pegava no sono, mas aí, algo colidiu com meus sistemas de pensamento.
"Que coisa fofa! O meu garotinho está apaixonado!".
Olha, dizer que pensar naquilo me deu pânico, era o mínimo.
Pensar sobre a Lisa, me deixava com um gosto de morango na boca,e os olhos dela me lembravam cereja; e o cabelo dela? Algodão. Algodão rosa e doce.
Então era isso? Eu estava apaixonado por Lisa Sandle?

U m a   P r i m a ve r a   Q u a l q u e r Onde histórias criam vida. Descubra agora