54 - P a n i c A t t a c k

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- Você acha que ele vem? - Lisa me perguntava e eu simplesmente dei de ombros, porque não fazia a mínima noção.
Eu a olhei.
Ela estava Linda. Mas meu Deus do céu, muito Linda! Eu não sei o que ela tinha hoje, ela estava perfeita.
Ela estava vestindo uma blusa azul de frente única, com alguns enlaces dourados, que deixava seus ombros à mostra. Naquele dia ela estava me lembrando pirulitos coloridos, ainda mais pelo seu cabelo rosa preso de lado, por um fino elastiquinho preto.
- Você está muito Bonita.
Ela me olhou com girassóis nos seus olhos.
- Obrigada. - ela correu os dedos até os meus e nutrimos um mesmo olhar.
Eu me aproximei mais dela, e quando eu cerquei o contorno de seu rosto com minha própria mão, eu esqueci de todo aquele turbilhão de gente ao nosso redor; esqueci que aquilo era uma festa e não uma representação artística de como eu me sentia extasiado por ela estar perto.
- Deus do céu, eu gosto mesmo de você. - ela disse checando meus olhos como uma verdade absoluta.
Eu dei um leve sorriso e me inclinei à ela.
Nossos lábios se encontraram, de forma densa um sobre o outro.
Era engraçado como os meus olhos sempre pesavam quando aquilo acontecia; era como uma forma eletromagnética que expressasse isso através dos meus olhos.
No fim, ela encarou meus olhos e piscou com os dela:
- Victor, eu não ia comentar, mas já que você tá perguntando, adoraria um refrigerante. - ela piscou de novo, dessa vez de forma mais astuta.
Eu sai e fui para a cozinha, atrás de refrigerante de laranja, que eu sabia ser seu predileto, porque eu roubara esse detalhe, da senhora Sandle.
- Moça, você pode me dar... - ela se virou e percebi que na verdade era Sophia. - Ah, oi Sophia.
- Olá, Victor. - ela escolheu um abrangente sorriso. - O que você ia dizendo?
- Você por algum acaso teria refrigerante de laranja? - ela assentiu e se dirigiu a geladeira.
- Pegue um copo. - ela apontou os descartáveis e eu obedeci.
- Sophia escuta, eu queria agradecer. - eu disse, observando o conteúdo alaranjado ganhando cada vez mais níveis dentro do copo.
- Ué, pelo que exatamente, Victor? - ela terminou e fechou a garrafa, a voltando à geladeira.
- Por ter falado com Lisa. - ela assentiu quietamente.
- Tudo bem, era o certo a se fazer. - ela parecia pensar em algo, enquanto olhava fundo para a ponta da mesa de vidro. - Sabe Victor, se estamos fazendo a coisa certa, acho que te devo desculpas.
Eu a olhei, sem entender exatamente um terço do que ela estava falando.
- Por aquele dia, que beijei você. - ela levou a mão ao braço, de forma desrregularizada. - Eu não tinha esse direito; me desculpe.
- Sophia? - ela voltou o olhar pra mim. - Já passou; tá tudo bem.
Ela assentiu com um devido sorrisinho.
Eu estava dando os passos de volta, quando a voz dela, sentenciou algo:
- Ei Victor, você o viu por aí?
Demorou uns dois segundos até que meu cérebro fizesse a associação sobre quem ela estava falando:
- Desculpe, mas não.
- Tudo bem. - aquele foi o olhar mais decepcionado que já vi. - Volte pra sua garota. - ela sorriu e virou de costas.
Saí andando e quando me sentei do lado de Lisa, notei que haviam coisas erradas por ali.
Lisa estava totalmente quieta e encarava seus próprios pés numa sapatilha azul qualquer.
- Seu refrigerante? - eu a entreguei e ela me emprestou um sorriso educado.
- Obrigada. - ela colocou a boca na borda do copo e seus olhos acompanharam o líquido laranja.
- Lisa, aconteceu alguma coisa? - eu perguntei.
Eu havia feito mais alguma coisa errada?
Ela abriu a boca para falar, mas antes que ela pudesse, dois garotos se prostraram nos pés da escada que era onde estávamos:
- E aí, Lisa? - o mais alto soltou.
Ela não respondeu, só abaixou o olhar.
- Como vai, boneca? - o gordinho com um pirulito na boca disse.
Talvez pela expressão desconfortável no rosto dela, talvez pela ponta de deboche e o apelidinho incoviniente, eu não gostei daquilo. E cada átomo do meu corpo ativou seus elétrons.
- Vocês podem ir embora, por favor? A Lisa não está se sentindo confortável. - eu disse com os olhos baixos, os correndo de forma esquizofrênica pelo chão.
- E quem é você? O guardas costas dela? - riu o do pirulito.
E o mais alto soltou um som de desprezo e encostou no rosto dela.
Me senti incomodado, muito incomodado:
- Não encosta em mim, seu estúpido. - ela tirou a mão dele e empurrou ele da escada.
- Mas que valente. - ele riu com o amigo.
- Não... Encosta... Nela. - eu disse, de cabeça baixa, sentindo minhas bochechas arderem.
Eles me ignoram. Totalmente. Como se eu nem existisse ali.
Como se eu fosse insignificante.
Aquele alto deu um passo e encostou de novo no rosto dela.
Lisa soltou um grito agudo, meu olho arregalou e eu voei em cima dele.
Eu o segurei pelo colarinho e tudo o que eu conseguia sentir, era que os meus punhos batiam contra a carne do rosto de alguém. E depois de bater na parte macia, eu senti algo se romper; eu não me importei nenhum pouco; eu continuei.
Eu não sentia minhas mãos, nem meu corpo, eu me sentia um átomo. Um átomo furioso.
Aquilo costumava acontecer quando eu estava sem controle e eu sabia que estava, mas não podia fazer exatamente nada, além de deixar aquela onda de caos, fluir.
Além de assistir.
- Eu - cada palavra - disse - era um soco diferido. - para... Não... Encostar... Nela!
- Victor, para! - eu ouvi uma voz cortar a noite.
Senti ânsia de vômito.
Minhas mãos estavam cheias de sangue e o garoto parecia inconsciente no chão. O garoto do pirulito olhava atordoado para cena, assim como as pessoas ao redor.
Eu vi o rosto de choque de Lisa; vi os cabelos rebeldes e pretos de Sebastian e eu me senti muito, muito aéreo e enjoado.
Todas aquelas pessoas, estavam me olhando com um olhar que me fez ter vergonha de mim mesmo. Eu me senti mal. Senti vontade de chorar.
Então eu fiz a única coisa que podia fazer: sai correndo.
- VICTOR! VICTOR! - ouvi a voz forte do meu amigo atrás de mim, mas eu não quis que ele me alcançasse.
Eu só queria ficar sozinho e chorar um pouco.

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