32 - L i t t l e Prince

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Eu cheguei em casa e bati a porta atrás de mim; eu passei o caminho todo sem reação e eu ainda estava sem reação.
E quando a minha mãe chegou em casa, eu ainda estava sem reação.
- Victor? Tá tudo bem? - mamãe disse, pousando a bolsa no cabideiro.
- Sua cara tá estranha.
- Mamãe, lembra do cara que me bateu? - ela fez uma careta até se recordar:
- O dos ingressos?
- Isso.
- O que tem ele? - ela ficou na defensiva.
- Ele é meu amigo. - olhei para ela com cara de ilustração. - Ele me disse isso. É verdade.
Mamãe sorriu e o sol bateu nos seus brincos de argolas, como se entoasse a dose de humor exata.
- Ele também disse que eu tenho um bom coração, mamãe.
- Mas é claro que tem. - ela passou a mão na minha cabeça e beijou o alto dela. - Fico feliz que tenha um amigo, agora. Mesmo que ele tenha te dado uma surra, para começar.
- Ele tem uma história meio triste, sabe?
Eu considerei explicar os detalhes para ela, mas desconsiderei como uma nuvem de algodão se dissipando; eu não queria a magoar, tocando num assunto que indiretamente se precipitava para o grande trauma das nossas vidas.
Mamãe estava tão bem agora. E eu prometia a Deus todas as noites, que ninguém estragaria isso.
- Mas eu consegui o ajudar.
- Esse é o meu garoto. - ela passou a mão pelo meu queixo. - Já fez o café?
- Está pronto. - eu puxei meu casaco verde do cabideiro e o vesti.
- Vai a onde, mocinho?
- Vou dar uma passada na casa de Lisa...
- Você não desgruda dela, nenhum dia, não é? - ela deu um sorriso orgulhoso.
- Na verdade, eu vou lá para ver a dona Suzana. Ela está doente.
- Tudo bem. - ela assentiu. - Mas quero você aqui até o jantar. Estou com saudades de jantar com o meu garotinho. - ela me abraçou de novo.
- Tudo bem, Mamãe.
- Deveria comprar flores para ela. - ela me deu algumas notas de dinheiro, que eu recusei.
- Eu ainda tenho o dinheiro que a senhora me deu mês passado. - ela apenas assentiu.

- Obrigada pelas flores, Victor. - a senhora Sandle sorriu, colocando as únicas três flores que eu achei bonitas o suficiente, numa jarra verde e bonita, na bancada da cozinha.
- Por nada, senhora Sandle.
- Oi! - Senti algo pequeno abraçando minhas costas.
- Algodão Doce. - meus olhos brilharam com aquele cabelão rosa.
Ela estava com o mesmo coque de dias atrás, mas a diferença era que ela usava brincos de coruja; eles eram verdes e era como se cortonassem o rosto bonito dela.
- Gostei dos brincos.
- Obrigada. - ela tocou a orelhinha. - Foi o meu pai que me deu. - ela emplumou o peito, parecendo orgulhosa do resultado. - Ei, eu tenho uma coisa pra te mostrar. - ela agarrou minha mão e saiu me puxando pelas escadas, num ritmo á lá Lisa.
Eu adorava esse lado impulsivo dela, porque segundo á ela, eu nunca sabia o que ia acontecer.
Ela era imprevisível.
- Olha, eu gostei tanto do seu desenho, que eu decidi que precisava fazer algo para retribuir. - eu observei que meu desenho estava pregado no mural, acima da sua cama, com preguinhos rosas, roxos e azuis.
- Então... - ela foi até uma das gavetas de sua cômoda alta e saiu girando com um papel até chegar em mim. - Eu fiz isso.
Ela parou bem perto do meu peito. Na verdade, ela parou com as mãozinhas apoiadas no meu peito, com a respiração no meu rosto e um sorriso me iluminando.
- Eu fiz para você.
Eu peguei a folha de sua mão.
Era uma leve folha de caderno, com contornos um tanto tortos e uma quantia devairada de laranja.
Ela tentara copiar a minha raposa e eu sorri pela sua tentativa.
Ela realmente a desenhara bem torta, mas eu adorei aquilo.
Eu peguei o desenho e o dobrei até chegar num tamanho que coubesse no bolso do meu casaco.
- Você gostou?
- É a coisa mais bonita que eu já ganhei de alguém. - eu disse, observando seus olhinhos e ela deu uma risadinha solta.
Ela me abraçou, passando os bracinhos curtos de forma apertada ao meu redor. Eu me senti tão confortável. Mesmo com ar quase deixando meus pulmões. E eu passei meus braços pelos seus ombros:
- Você é tão pequenina, Algodão Doce. - eu disse, quando ela ergueu a cabeça para mim.
- Gosto de ser pequenininha. - ela se aconchegou ainda mais no meu abraço. - Assim, eu posso ouvir seu coração, princepezinho.
Algo tocou meu coração. Onde nada, nem ninguém conseguira e por Deus, eu não achei que ela pudesse me fazer gostar ainda mais dela...
- Principezinho?
- É como eu imagino você. - ela me olhou de novo. - Você é tão nobre.
Eu não soube o que dizer, então eu só me abaixei mais um pouco e afundei meu rosto na curva de seu pescoço:
- Obrigado. Por achar um apelido para mim.

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