13 de abril de 2007 - Quinn começa a fazer dieta

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(Quinn)

Apesar da professora de desenho insistir que tenho talento com um pincel em mãos, escolhi o projeto de fotografia na aula de artes. Eu tinha uma boa câmera e toda vontade do mundo para apontar meu equipamento e abusar do botão disparador. Quando tinha oito anos, meu pai me deu o que considero até hoje um dos melhores presentes: pagou um curso de fotografia analógica para crianças. Era uma atividade de dois dias sem nada aprofundado, mas ver a imagem aparecendo no papel mergulhado em químicos foi uma das coisas mais incríveis que presenciei. Desde esse dia, tornei-me uma apaixonada pela fotografia. Ano passado, meu pai me deu uma câmera semi-profissional que substituiu uma velha da Barbie que usei até quebrar.

Ainda fico confusa quando penso no que levou meu pai a me dar algo assim: logo ele que insistia em me ver rodeada de bonecas, bichos de pelúcias, saias e vestidos, além dos brinquedos de casinha: coisas que mocinhas precisavam ter. E mamãe sempre o apoiava. Também não me arriscaria em perguntar a ele. Meu avô costumava dizer que em cavalo dado não se olha os dentes. Seja lá a razão de ele ter me dado a máquina bem equipada em vez de algo mais simples, só posso agradecê-lo. A fotografia era uma paixão que eu não compartilhava com os colegas de escola. Acho que foi por isso que a professora estranhou quando escolhi um projeto diferente de fazer um quadro a tinta óleo, como ela esperava. A verdade é que eu só gosto de desenhar como passatempo: fotografia que era a paixão que, por hora, reservava a mim mesma.

"Vou fotografar a festa anual de caridade." Kelly era uma das poucas meninas que conversavam comigo. Não achava que gostasse de mim. Ela só falava comigo porque nossas mães faziam parte da comissão organizadora dos eventos da igreja onde meu avô era pastor. Então ela tinha de falar comigo. Eu é que não fazia questão de falar com ela. "Não é uma idéia genial?"

"Acho que sim." Era obrigada a concordar. Ai de mim se achasse chato qualquer coisa que fosse feita em favor da nossa comunidade cristã. Poderia ser punida com a palmatória.

"E você?"

"Ainda não sei."

Eu sabia sim. Queria fotografar pessoas no parque de diversões, mas não diria isso a ela. Vai que ela desiste de fazer a festa da caridade só para roubar a minha idéia?

"Ainda estou surpresa por você não ter escolhido o projeto de desenho. A professora sempre elogia os seus trabalhos."

"Não desenho tão bem assim."

"Você é modesta, Quinn. E estranha."

As pessoas não costumavam me chamar de estranha. Talvez só a Kelly. Mas a opinião dela não me importava. Kelly era uma boba.

"Já te convidaram para o baile?" Ela perguntou.

"Ainda não."

"Brad me chamou para ser o par dele, e eu aceitei." Ela disse com os olhos sonhadores. Senti vontade de rolar os meus. "Mas não se preocupe." Tocou no meu braço como se estivesse me consolando. "Tenho certeza que alguém vai te chamar logo." Sorri por educação. Queria mesmo era acabar com aquela conversa boba e ir para o meu canto.

Parecia uma epidemia. De repente, todas as minhas colegas passaram a falar de garotos. Eu não tinha o que dizer a respeito, por isso só escutava as conversas entre elas, como se fosse um figurante nas pequenas rodinhas. Preferia não estar nelas, mas também não queria que chegasse aos ouvidos dos meus pais que eu era uma freak solitária e pouco popular na escola. Não quando era criada para ser o contrário disso. Então era melhor ficar com as meninas populares da minha igreja de vez em quando na hora do intervalo.

A verdade é que gostava mais da minha câmera fotográfica do que de garotos ou de pessoas em geral. Falando dos garotos, tirando Sean, não ligava para nenhum deles. Todos eram barulhentos, implicantes e cheiravam mal. Sean era o único passável: ele gostava dos Beatles, dos filmes do "Poderoso Chefão" e fazia imitações engraçadas dos outros colegas da escola e dos professores. Mas daí a pensar nele como meu par no baile ou mesmo como namorado era outra história.

Saga Berry-Lopez e Fabray (história 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora