30 de dezembro de 2010 - Pacto da cerveja

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(Rachel)

"Ray?"

Santana entrou no meu quarto. Trazia duas latas de cerveja consigo. Eu estava arrumando o meu guarda-roupa para descartar as peças que não usava mais. Era um hábito que tinha baseada numa superstição. Abuela sempre dizia que era preciso se desfazer das coisas velhas para que as novas pudessem entrar e a melhor época para tal era dezembro, próximo a virada do ano. Nesta mesma época, tia Maria organizava uma campanha de doações de roupas para o grande bazar que tradicionalmente acontecia na igreja em janeiro. Eles vendiam as peças e objetos doados a um preço simbólico para famílias pobres. Havia uma explicação racional para isso: a pessoa costuma valorizar muito mais o que ela compra, mesmo que seja usado e barato, do que as coisas que são doadas. Fazia bem para a auto-estima. O dinheiro arrecadado ia todo para a manutenção da paróquia.

Sempre acreditei que fazer o bem independia de religião e tinha prazer em doar as roupas e coisas que não queria mais. Santana também fazia lá sua contribuição, mas não era disciplinada e ritualista como eu. Por ela, tanto fazia doar em dezembro quanto em maio. Era só uma questão de disposição.

"Não vai fazer a sua seleção deste ano?" Estava com uma pilha de roupas mutuadas no chão.

"Estou com preguiça!" Revirei os olhos. Típico da minha irmã. "Vim te propor um brinde." Esticou a lata de cerveja para mim. Não entendi aquilo. Santana sabia que eu não bebia. A não ser o shot de tequila com sal e limão que abuela mandava eu tomar quando estava gripada. "Isso é por a gente ter passado no exame de motorista."

"Cerveja?"

"O que tem?"

"Santy, é ilegal beber até que se tenha 21 anos."

"Negativo. É ilegal comprar bebidas e se embriagar publicamente até que se tenha 21. Não estamos em público!"

"Impressionante como você distorce a lei."

"Só quero fazer um brinde e ter um bom momento com a minha irmã. Não posso?"

"Tomando cerveja?"

"Uma lata não vai te embebedar!"

Talvez ela tivesse razão. Bebia root beer sem álcool e gostava. Diziam que cerveja tinha gosto próximo e era só uma latinha. Meus pais sequer colocavam cervejas sob a proteção da mini adega.

"Ok!"

"Ok?"

"É só para experimentar, certo?"

"Eu só tenho essas duas latas, Ray. Juro!"

Peguei uma latinha e abri. Cheirei o conteúdo e não achei o odor particularmente atraente. Beberiquei um pouco. O gosto tinha um amargor que não era de todo mal. Além disso, o baixo teor alcoólico fazia a bebida descer bem a garganta, bem diferente do shot de tequila. Descobri que era mentira do gosto ser parecido com root beer, mas até que cerveja não era de todo ruim. Tinha lá algum apelo.

"Então?" Santana ficou na expectativa.

"Não é tão mal assim. Vamos brindar ao exame somente?"

"Sei lá... Ao ano que se aproxima?"

"Que tal aos nossos amores?"

"Brindar a Finn Hudson? Nem pensar!"

"Mas você não deseja que eu seja feliz? E eu brindaria a Puck e a Brittany."

"Ray, Brittany e eu..."

"Santy, eu não nasci ontem e Brittany freqüenta nossa casa desde quando tínhamos sete anos. Além disso, eu já vi vocês duas juntas na piscina algumas vezes."

"Você tem um ponto. Então vamos brindar a nossa permissão para dirigir, ao ano novo e aos nossos amores."

"No seu caso..."

"Nem comece a falar, toupeira." Era bom provocar Santana quando ela estava de bom humor. Em vez de bronquear, ela ria e relaxava. Levava tudo na esportiva. Gostava de ver minha irmã nesse estado. "Precisamos brindar também a esse ano maluco. Olha só? Sobrevivemos."

"E não é que é verdade? Eu sobrevivi aos seus planos malucos, aos slushies, a Quinn Fabray, àquela conversa com papai por sua culpa".

"Eu sobrevivi a Andy Mastrantonio, a uma apendicite, a Frannie Fabray, a Sue Sylvester..."

"Não te entendo!"

"Não entende o quê, Ray?"

"Está claro que não gosta tanto assim de ser cheerio. Você confessou nas competições locais que o coral é a melhor parte do seu dia. Então porque você não faz a troca de uma vez?"

"Eu perderia a minha popularidade e você sabe o quanto isso garante certa proteção naquele raio de escola."

"Entendi..."

"Britt adora ser cheerio." Santana desabafou. "Ela gosta de dançar e as apresentações das cheerios são sempre muito físicas e artísticas. Isso cai como uma luva para ela. Eu é que tenho de passar um dobrado para acompanhar." Tomou um gole da cerveja e riu sozinha.

"É verdade que você pode ser capitã das cheerios agora que Quinn está definitivamente fora por causa da gravidez?"

"Se não for eu, vai ser Britt. Mas a treinadora disse que só vai anunciar depois do break".

"E se ela te confirmar?"

"Eu viro intocável, mesmo também fazendo parte do coral."

"E eu continuo sendo a diva deslumbrada alvo de slushies..."

"Desculpe, Ray. Se bem que você já não é mais o alvo preferencial."

"Não. Artie e Kurt são."

"Então ao que vamos brindar?"

"Agora que a minha cerveja está quase no fim?"

"Ah! Você gostou!"

"É bom ficar tomando enquanto se conversa. E momentos assim entre nós ficaram muito raros neste ano. Por que Santy?"

"Acho que faz parte de crescer. Não sei..."

"Será que nós vamos nos afastar a ponto de se falar pouco e depois ser quase desconhecidas uma para a outra?"

"Que bobagem! Apesar de tudo, você é a minha irmãzinha 29 minutos mais jovem."

"Mas acontece a todo instante. Não vê aquelas histórias de irmãos que moram longe e ficam anos sem se ver e até mesmo sem se falar?"

"Não será o nosso caso."

"Mesmo você me odiando?"

"Eu não te odeio. Só às vezes!" Santana sacudiu a lata. Não restava muito do líquido dela. Ela esticou uma das pernas, que inicialmente estavam cruzadas. "Em vez de fazer um brinde, vamos fazer um pacto: seja lá o que acontecer depois de irmos para a faculdade: você para Nova York e eu para o onde o vento levar. Ou independente do que a vida aprontar, nós não vamos nos distanciar por muito tempo. Sempre vamos encontrar uma forma de tomar uma cerveja juntas nem que seja só uma vez por ano. O que acha?"

"Pacto da cerveja?"

"Se você quiser nomear desta forma..."

"Parece bom!" Estendi a minha lata quase vazia. "Que o pacto da cerveja seja feito!"

Santana chocou a latinha dela contra a minha e bebemos o último gole do líquido.

Saga Berry-Lopez e Fabray (história 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora