07 de maio de 2011 - Segunda despedida

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20 de abril de 2011

(Quinn)

Era tão estranho, nesses últimos meses estive no quarto de três homens diferentes que me fez observar muitas coisas sobre o universo masculino.

O quarto de Finn Hudson era pequeno, com pôsteres do Kiss e dos Browns nas paredes, um criado mudo, um pequeno guarda-roupa, e uma pequena cômoda em que ele colocava troféus e medalhas que conquistou jogando futebol em Junior high e em outras competições que sequer podia identificar. Não era improvável que fosse algo relacionado com dardos, a julgar pelo tabuleiro pendurado na parede, com significativo desgaste nas regiões mais centrais do alvo. A verdade era que moleque gostava de fazer competição de qualquer coisa. A meninice de Finn era personificada na televisão enorme que tinha no quarto, que ele usava quase que exclusivamente para jogar videogame. O computador da casa ficava praticamente encostado. No criado mudo havia revistas Playboy, catálogos esportivos e revistas em quadrinhos do Homem Aranha. Basicamente essa era toda literatura que se podia encontrar naquele quarto. Eu sempre pegava a Playboy para ler e para ver. Estava numa fase da gravidez em que o sangue circulava mais nas minhas regiões e isso me deixava mais excitada: as revistas ajudaram.

O quarto do Puck não era tão diferente. Era ligeiramente maior, mas por Puck não ter uma condição financeira tão boa, não tinha uma televisão no quarto: a única da casa ficava na sala, em que ele tinha de disputar com a mãe e a irmã caçula. Em compensação, havia uma guitarra preta e um pequeno amplificador no canto do quarto. O único cartaz que tinha na parede era no Metallica, o que mostrava a predileção dele por bandas de metal dos anos 80. A cama era de casal, onde ele se servia de todas as meninas que trazia para casa quando a mãe, que era uma representante comercial, precisava viajar. A irmã sempre ficava na casa de uma tia nessas ocasiões, já que a mãe de Puck não confiava nele como guardião. Isso me fez ver muitas coisas sobre deixá-lo assumir a minha filha: se ele não tinha responsabilidade para cuidar da irmã dele, que era relativamente independente, o que dirá de um bebê? Viver com Puck só me deu mais certeza de que colocar a minha filha para adoção era a decisão mais acertada.

Assim como Finn, a literatura de Puck era uma piada. Tudo que havia nas gavetas eram revistinhas de partitura e Hustlers e outras revistas pornográficas da editora. Foi nessa época que eu comprei um pequeno vibrador numa sex shop com ajuda de uma das garotas regulares de Puck, uma atendente que trabalhava no cinema. Ela foi muito generosa e me ajudou a escolher um modelo pequeno, mas eficiente e que me deixava confortável, que eu apelidei de Mr. Pinky. Nessas horas, eu fazia uso da Hustler.

Ethan Jones estava na faculdade em Montana. O quarto dele era quase o oposto dos outros dois. Pra começar, havia um quadro na parede, uma reprodução da zebra de Andy Warhol. E havia livros. Sim, livros de verdade! Clássicos tão bons que me fez desenvolver um amor quase platônico por Ethan Jones. Quando Mercedes me convidou para sair da casa de Puck, eu encarei um gesto não só como um ato de caridade dela para comigo, como um ato de libertação: finalmente eu poderia ir embora daquela casa e deixar de escutar as asneiras de Puck e os resmungos da mãe dele, que me via como uma infiel que estava ali para arruinar a vida do filho dela. Como se ele não tivesse ajudado a arruinar a minha!

Mas o maior ganho em se estar no quarto de Ethan não eram os bons livros e o visual limpo: o que eu mais gostava era poder descer as escadas para jantar e encontrar Mercedes e o resto da família pronta para cear junta. O senhor Jones falava sobre coisas do trabalho, a mãe de Mercedes, que era artesã, falava dos planos que tinha para após a feira, Mercedes falava de coisas engraçadas na escola e o irmãozinho dela, Maicon, de apenas nove anos, contava piadas e tentava me impressionar. Foi a segunda vez que vi o quanto era bom estar no meio de uma família normal. O primeiro aperitivo que tive foi quando jantei com os Berry-Lopez. E agora podia vivenciar tal experiência diariamente com os Jones. Olhava para minha gestação avançada, e observava aquela família. Eu sabia que não poderia ficar ali para sempre, mas rezava todos os dias para que minha filha pudesse encontrar um lar como aquele: um bem melhor do que tive. O tempo estava chegando depressa.

Saga Berry-Lopez e Fabray (história 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora