17 de maio de 2008 - Teatro amador

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(Rachel)

"Bom dia."

"Será que você falou?" Procurei fazer uma entonação melhor

"Mas certamente. Como vai você?" Santana continuou com o tom lacônico.

"Muito bem, obrigada. E você como vai?" Procurei gesticular e não me deixar envolver pela falta de cooperação da minha irmã.

"Eu não me sinto nada bem não é nada divertido passar uma calhada de dias enxotando um bando de ervas daninhas no meu corpo ou os corvos que querem almoçar a minha cabeça. Oh, como sou um estúpido burro e infeliz!"

"Santana!" Estava chocada com a atitude dela.

"O quê?" Ela me olhou com cinismo.

"Esse não é o texto!" Como era difícil fazê-la ler um simples roteiro da maneira correta.

"Bom, isso se chama improviso."

"Você está improvisando de forma difamatória em um dos musicais mais importantes da história do teatro."

"Ray, eu não estou no raio desta peça, não acho o filme grande coisa e já repassei este texto umas mil vezes contigo!" Ela gritou comigo. "Dá um tempo!"

"Você não entende! Esta é a minha primeira protagonista. É um ícone da literatura, e preciso ter um desempenho memorável."

"Ray, você será Dorothy numa série de três apresentações da turma juvenil do teatro comunitário de Lima com capacidade máxima para 300 pessoas. Ninguém importante vai aparecer e tudo que os perdedores que gastarem 10 dólares vão fazer é torcer para que você desafine em Somewhere Over de Rainbow. Assim, eles terão assunto durante o verão!" Ela disse num tom tão cínico que fez o meu sangue borbulhar. "Eu já repassei esse texto contigo um zilhão de vezes. Decorei a fala de todos os personagens, inclusive o seu. Esse texto é imbecil. Não passa de uma cópia barata e resumida do próprio filme!"

Encarei Santana com perplexidade. Como ela podia ser tão cruel? Passei o último mês ensaiando esta peça duas vezes por semana e praticando as músicas em casa até a exaustão. Será que ele não entendia que esta era a minha primeira grande chance de brilhar? Essa peça ia ficar no meu currículo. Quando os meus biógrafos fossem pesquisar sobre minha carreira, citariam o palco do Teatro Reiner, de Lima, como o primeiro a testemunhar o talento da grande Rachel Berry-Lopez.

"Você não entende... Eu preciso chegar à perfeição."

"A estréia desse treco é hoje. Ou você está preparada ou não está!" Santana jogou o roteiro em cima da minha cama. "E depois, metade dos lugares vai ser preenchida por nossa família e a outra metade pela família dos outros atores. Ou seja: a sua atuação pode ser merda, mas todo mundo vai aplaudir no final."

Fiquei com vontade de pegar o primeiro objeto que alcançasse e atirá-lo na cabeça dela. Mas se fizesse isso, minha irmã ia revidar me estrangulando. Adeus voz e, possivelmente, adeus Rachel. Era melhor deixar Santana sair em paz se sentindo a senhora da verdade. O pior é que, lá no íntimo, ela tinha parte da razão. O texto não era grande coisa, nossa montagem era barata e o teatro era só um lugar mais ou menos em downtown de Lima. Até o auditório da minha escola era melhor e tinha mais lugares. Ainda assim, as condições não importavam e isso não era justificativa para ser menos do que perfeita. Decidi que se minha irmã não ia ajudar, então ensaiaria só. Recobrei a compostura e continuei.

"Você não pode descer?" Fiz uma pausa fingindo que o espantalho respondia. "Eu me chamo Dorothy e estou a caminho da Cidade das Esmeraldas. Vou pedir ao Grande Oz que me indique o caminho de volta ao Kansas." Outra pausa. "Não me diga que você não sabe!" Mais uma pausa. "Oh, sinto muito."

Saga Berry-Lopez e Fabray (história 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora