13 de outubro de 2015 - Encontro

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(Quinn)

A luminosidade estava uma porcaria para se controlar. Sabe quando a proposta do roteiro era de um dia nublado, melancólico, que refletisse com perfeição o espírito do personagem. Existia uma razão para que se rodasse no outono para tal. Então chega o dia das filmagens em que a equipe se dispõe realizar o projeto e faz sol em Nova York.

"Vamos usar lente azul." Disse para o câmera e para o diretor. "Sinto muito, mas a não ser que se crie uma metáfora de conflito entre clima interior do personagem e clima exterior, essa é a solução mais rápida e barata que temos."

"Usar metáforas?" Ryan, o diretor, me questionou.

"É... como mostrar o personagem em conflito ao lado de pessoas tomando picolé na rua, crianças no parque e coisas assim. Você cria o truque, eu não preciso mexer com lente de cor e a gente não perde o dia."

"Use a lente." Ryan decidiu. "A idéia da metáfora é boa caso tivéssemos tempo. Não é o caso."

Acenei, puxei o câmera e os assistentes para trabalhar com a lente azul. Peguei minha câmera e meus equipamentos para fazer a melhor análise de tom. Não poderia exagerar. Precisei de vinte minutos para organizar tudo e ter a aprovação de Ryan. Então ele mandou o ator se posicionar, fizemos uma última medição antes da ação. O curta-metragem era sobre o último dia de uma pessoa. O morto narra o dia em que ele morreu de forma inesperada. Ele passa o dia inteiro com uma sensação estranha, melancólico, saudoso. E depois do único momento de felicidade frívola que ele teve naquele dia, que foi um beijo no rosto que recebeu de uma desconhecida depois de um favor, sofre um ataque fulminante no meio da rua.

O alvo do filme era o festival de Tribeca de 2016, mas como a grana tinha saído naquela época, teria de ser gasta ou orçamentos poderiam ser alterados. Nunca era possível arriscar.

"Você está saindo da posição toda hora." Reclamei com o ator depois que filmamos o primeiro take. "Se ficar indo pro lado da rua vai estourar a luz."

"Mas a movimentação é melhor assim." O ator reclamou. "Vai parecer mais natural."

"Então ponha o seu talento à prova e pareça natural dentro da marcação determinada, Phill." Comemorei a ordem de Ryan. Atores achavam que o mundo era o palco deles. As coisas não eram assim.

A cena saiu. Assim como todas as outras do dia até que o fim da tarde chegou e Ryan dispensou a equipe porque não havia mais como gravar as externas. Coloquei minha câmera e meus equipamentos próprios na mochila e saí correndo para a imobiliária. Precisei fazer acordos com o patrão. Tinha dois apartamentos para fotografar e colocar as fotos no site no mesmo dia.

"Oi Quinn." Rose, a recepcionista, fez cara de entediada. Estava passando da hora do expediente e entendia a razão de ela mal esperar para dar o fora dali. Era ela quem abria e fechava o escritório todo santo dia. "Marion deixou as chaves dos apartamentos e os endereços. Disse que estão vazios e que é para você colocar as fotos até as dez da noite."

"Obrigada."

Peguei os envelopes e deu vontade de morrer quando vi que um apartamento ficava na E 4th St, Bowery, Manhattan, e o outro em 510 Jefferson Ave, Bed-Stuy, Brooklin. Isso para depois voltar para casa em Washington Heights, periferia de Manhattan. Por favor, me mate.

Peguei o metrô e fui para o Brooklin primeiro. Precisei consultar o mapa no meu celular para ver qual estação descia e como chegaria. A solução foi simples: gastando a sola do meu sapato. O problema era que estava escuro, mas que remédio? O apartamento ficava ao lado de uma fábrica antiga. Era vazado, mobiliado e custava uma fortuna que eu não tinha mais condições de arcar. O espaço era excelente, com dois quartos, cozinha separada da sala, banheiro e lavabo, além de área verde atrás a ser dividida com quatro vizinhos. Tirei as fotos o mais rápido que pude, fechei o apartamento e corri de volta a Manhattan. Tive medo de adiantar trabalho no metrô e ficar sem todas as minhas coisas. Pelo menos o apartamento da Bowery ficava mais próximo da estação. Este era um de três quartos gigantes que estava à venda no prédio da esquina com a Segunda Avenida. Outro ótimo imóvel que só teria nos meus mais belos sonhos.

Saga Berry-Lopez e Fabray (história 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora