09 de julho de 2012 - Primeira Vez

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06 de julho de 2012

(Rachel)

"Songbook", de Nick Hornby não é um livro teatral. Era um conjunto de crônicas e críticas do autor inglês a respeito de canções que ele gostava ou que serviam de trilha sonora de algum momento. Em resumo, era uma relação direta da música com memórias específicas. Mark Millar e James Golvi se inspiraram nesse livro de crônicas, quase jornalístico, e montaram uma peça essencialmente original numa narrativa sobre a trilha sonora da vida preservando certas considerações e observações de Hornby. São cinco atos de cinco personagens: Rob, Sally, Charlie, Jamis e Christina, sendo o sexto, Nick (interpretado por Mike, que ganhou o papel no suor dos ensaios), o ponto de ligação entre eles.

Christina era a minha personagem. Era uma jovem estrangeira (falava quatro linhas em espanhol na peça), filha de um norte-americano, que se apaixonou pelos Estados Unidos não pelas memórias do progenitor e sim pelos relatos de Danny, filho de um amigo do pai. Ela se apaixona pela música, pela dança e pela televisão. A versão de "First I Look at The Purse", de J. Geils Band, que foi a mais perfeita personificação desses desejos. Era a imagem da excitação. Então ela tem a chance de ir aos Estados Unidos, a Nova York, e começa a ter problemas de relacionamento com o pai por causa do desejo que tinha em experimentar o modo de vida americano, era uma obsessão. Eventualmente, ela fica na cidade. Com o passar do tempo, Nova York perde as cores mágicas e torna-se apenas uma grande cidade. É quando "First I Look at The Purse" muda o sentido: torna-se realidade.

"Some fellas look at the eyes/ Some fellas look at the nose/ Some fellas look at the size/ Some fellas look at the clothes", eu quase berrava durante a peça. Tinha de colocar fúria e excitação na minha voz. "I don't care if her eyes are red/ I don't care if her nose is long/ I don't care if she's underfed/ I don't care if her clothes are worn/ First I look at the purse!/ Some fellas like the smiles they wear/ some fellas like the legs that's all/ some fellas like the style of their hair/ want their waist to be small/ I don't care if their legs are thin/ I don't care if their teeth are big/ I don't care if their hair's a wig/ Why waste time lookin' at the waistline?/ First a look at the purse."

Sim, Christina torna-se uma garota de programa em Nova York. O diretor James Golvi entendeu que eu era perfeita para o papel por não exalar sexualidade. Muitas das profissionais da cama que ele conhecia – as caras e discretas (James conseguia listar pelo menos 20 tipos diferentes de garotas de programas, era impressionante) –, eram assim: só se tornavam-se sexuais durante o ofício. O resto do dia eram mulheres reservadas. E Christina estava contando sua história, não trabalhando. Foi um desafio e tanto interpretá-la.

Christina se transformava em personagem de apoio nos outros atos, quando fazia mais dois solos: "You Had Time", de Ani DiFranco, no ato de Jamis (uma estudante universitária em crise com a sexualidade); e "Your Love is The Place Where I Come From", do Teenage Fanclub, que não era de ato algum, mas que era a música de Nick e também servia como resumo de "Songbook". Era encenada no final da peça comigo cantando a Nick. "Your sadness don't lie/ your feelings can't hide/ you always know why/ but your reasons are sly/ you neves deny/ what you fell inside/ i desappear when you're not here/ in my life". Os outros cinco harmonizavam comigo. "I can't slip away when i see your face/ i lose my confusion/ your Love is the place where i come from/ when i'm on my own i'm lost in space/ my freedoms a delusion/ your Love is the place i come from".

A estreia na sexta-feira foi um marco para mim. Foi aterrorizante e lindo ao mesmo tempo. Estava nervosa como nunca: é diferente você encarar um auditório fazer uma coreografia, uma dança e ir embora. Teatro, em especial naquele formato econômico de musical onde o peso da interpretação dramática vale muito mais do que a potência da sua voz, era muito mais difícil. Precisei me controlar para não me emocionar em cena. Era Broadway. Independente das dificuldades, dos sacrifícios, das dores no corpo, do dinheiro contato. Era a minha grande estréia. Era o palco do Flea. Grandes atores pisaram ali no início da carreira.

Saga Berry-Lopez e Fabray (história 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora