17 de abril de 2010 - Sexo não é namoro

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(Santana)

Um detalhe sobre cheerios e atletas da escola: eles precisam ser homofóbicos. Não importa se entre quatro paredes, Ross e Clive do time de hóquei agiam como coelhos no cio ou se as cheerios Jenna e Hillary eram tão próximas quanto eu sou de Brittany. Por mais doloroso que o aviso de Quinn fosse, era preciso entender que ser gay e fazer parte das camadas mais populares da micro-sociedade quadrada de McKinley High eram coisas incompatíveis.

O pior é que não raro aparecia no noticiário algo para me lembrar disso. Na última quarta-feira, um escândalo que aconteceu na cidade de Marion. Um estudante se matou e deixou uma carta de despedida confessando ser gay e que era freqüentemente currado por bulliers. Currado. Os garotos machos alfas não mais deixavam bilhetes humilhantes em armários ou batiam: eles estupravam também. Que mundo doentio era esse? A reportagem dizia que as autoridades estavam investigando o caso e que os promotores públicos pesquisavam uma forma de identificar e punir os agressores, mas era complicado. Não havia uma linha na lei que pudesse condenar uma pessoa pelo suicídio do outro. Também não havia provas do estupro: só uma carta que sequer citava nomes. O máximo que aconteceria dali adiante seriam campanhas anti-bulling que costumavam ser recorrentes de tempos em tempos nas escolas. Educar era fundamental, mas as mudanças demoram. Principalmente aquelas que visam mudança de mentalidade.

Eu vivia o preconceito e a discriminação por causa dos meus pais. Não era fácil para eles serem um casal assumido e casado na pequena e conservadora Lima, por mais que fossem bem integrados socialmente. Sempre haveria um Russell Fabray da vida para lembrar que as coisas não eram perfeitas. Muitas pessoas não estavam completamente ok em conviver com um homossexual em qualquer esfera. Como a senhora Spilter, do mercadinho. Ela sorria e era muito educada com meus pais. Sempre. Depois comentava com outra pessoa que morreria de desgosto se tivesse um filho gay, como ouvi uma vez.

Papi ainda tinha pequenas vinganças ocasionadas pela profissão. Como no dia em que operou de emergência e salvou a vida de Lars McTold, o valentão que ameaçava papai toda vez que ficava bêbado e os dois cruzavam na rua. Lars nunca mais abriu a boca contra minha família. Mas isso não quer dizer que ele mudou de idéia.

Olhava para o garoto Hummel, o melhor amigo de Mercedes Jones. Ele nem precisava sair oficialmente do armário para as pessoas saberem que era gay. Era só olhar e pronto: não tinha erro. Acho que ele era quem mais recebia slushies naquela escola depois de Rachel. No ranking dos rejeitados – ou mais atacados – era fácil fazer uma lista dos cinco mais atacados:

– minha irmã;

– gay Hummel;

– o garoto nerd na cadeira de rodas;

– Mercedes Jones;

– Suzy... bom... uma psicótica maluca que só vestia vermelho e que todo mundo dizia que ela dava para o professor de espanhol.

Aquela não era uma escola segura. Achava que não era uma escola de gente.

Às vezes penso em como as coisas seriam se tivesse ido para Carmel. Claro que há idiotas em todos os lugares, mas era provável que eu não estaria tão preocupada em ser popular para salvar a minha pele e de Brittany. Provavelmente Rachel estaria feliz no tal consagrado programa de artes da escola e não saberia o que era sofrer bulling em bases regulares. Seríamos mais felizes?

Daí penso em Brittany: ela não tinha lugar em Carmel. O que seria de mim sem a minha Britt Britt? Provavelmente estaria feliz sem poder vê-la todos os dias, sem pode apreciar o sorriso dela todas as manhãs, ou sem poder me aventurar entre os locais mais sossegados da escola só para poder roubar um beijo dela sem correr riscos de alguém indesejado nos flagrar. O que seria de mim se não pudesse ficar quieta num canto apenas para observá-la? Não sei a razão, mas Brittany tinha capacidade de iluminar ambientes.

Saga Berry-Lopez e Fabray (história 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora