20 de fevereiro de 2010 - Apendicite

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(Quinn)

Passei um bom tempo observado Rachel, quando ninguém estava vendo, para identificar cacoetes recorrentes da pequena diva. Percebi que alguns deles refletiam idéias e estados de espírito. Quando estava prestes a aprontar alguma coisa, olhava fixamente para o alvo e mordia tampa da caneta. Se não estivesse com uma, então mordia o canto dos lábios inferiores. Quando estava triste, usava calças. Quando estava melancólica, usava vestidos de cores escuras. O estado normal era com as saias horríveis e blusas que não tinha idéia aonde ela comprava. Por isso todo mundo pensava que só podia roubar aquelas coisas do guarda-roupa da avó. Ou era cliente de um brechó muito ruim.

Havia uma expressão nova que Rachel começou a fazer nas últimas semanas: franzia a testa acompanhada de um inacreditável olhar de filhote de cachorro. Cara de apaixonada e para identificar essa nem é preciso conhecer bem uma pessoa. Rachel direcionava tal olhar a Finn Hudson.

Quem era Finn Hudson?

Bom, ele era reserva do time de futebol da escola. De fato, era um sujeito bonito, alto, porém era um baita bobalhão que tinha o mesmo poder de atração de uma barata, na minha modesta opinião. Finn só falava asneiras, e era bem possível que nunca leu um livro sem ilustrações na vida. Provavelmente, a noção que ele tinha de política vinha do Capitão América. Sabia que ele foi criado pela mãe viúva, e que o pai morreu na guerra. Ser filho de veterano herói de guerra o fazia ter alguns pontos na pirâmide da popularidade.

Conversava com ele por tentar ser educada e tolerante com um sujeito que era naturalmente popular e andava no "meu" grupo. Depois, Finn era um dos poucos garotos que não me passava cantadas baratas e nojentas, e por isso eu lhe dava algum crédito. Resumindo a história: Finn era um idiota, mas era um bom rapaz.

Se qualquer outra garota olhasse para ele, não daria a mínima. Mas quando percebi que Rachel Berry-Lopez, a garota que era obrigada a torturar quase todos os dias, era quem suspirava por ele, aquilo me enfureceu. Demorou a admitir para mim mesma que sentia ciúmes dela, e por isso comecei a ter raiva contida do gigante paspalhão. Rachel jamais olharia da mesma maneira para sua maior torturadora da escola. Mesmo um lerdo como Finn perceberia cedo ou tarde que havia uma menina adorável perdidamente apaixonada o observando pelos cantos da escola. E se ele a quiser? Pensar nisso me dava azia e dor de cabeça.

Era terrível conviver com Rachel sendo obrigada a torturá-la quando na verdade tudo que queria era poder falar normalmente com ela, ser amiga dela. Sinceramente, estava confusa com tudo aquilo. Sei que não deveria me importar porque, cedo ou tarde, Rachel teria namorados na escola mesmo com toda sua impopularidade. Oras, ela era uma garota bonita! Mas vê-la apaixonada por Finn Hudson me causava um sentimento estranho, um aperto no peito, um incômodo que não sabia dizer a razão. Talvez devesse ter um namorado e começar a pensar em outra pessoa que não fosse Rachel Berry-Lopez.

O problema é que não conseguia me sentir atraída por garotos. Sim, achava alguns deles muito bonitos, assim como achava algumas meninas lindas. As amigas de Frannie tinham seios... atraentes. Só que não sentia a menor vontade em ficar com meninos, e também me recusava penar mais a fundo sobre as meninas.

No refeitório, continuei a observar Rachel observando Finn. Queria abstrair e seguir em frente, mas não conseguia. Tudo que desejava era que ela ficasse bem longe daquele idiota. Por isso decidi agir: afinal, era uma Fabray e tinha uma irmã-tutora que me ensinava muito bem nas artes maquiavélicas. Se odiava tanto na possibilidade de ver Rachel com Finn Hudson, então decidir que eu ficaria com ele, mesmo com toda opinião que tinha a respeito.

Não seria difícil porque ele estava na minha. Bastava estalar os dedos. Quem sabe até ficar com ele poderia acabar com minha confusão e me libertar da agonia que era gostar de uma menina. A investida valeria a pena: ficaria em paz com minha família e comigo mesma.

Saga Berry-Lopez e Fabray (história 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora