26 de novembro de 2014 - Beth

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(Quinn)

Uma das noites mais importantes que tenho da memória foi a do nascimento de Beth. Logo depois da primeira apresentação do coral nas regionais, minha mãe veio ao meu encontro dizer que meu pai havia a abandonado por uma mulher tatuada. Minha bolsa estourou. Lembro que houve um rebuliço dos meus colegas de coral, acho que me colocaram no carro de Santana e Rachel, ou foi da minha mãe? Não lembro bem. Só sei que no hospital pedi a presença de Mercedes para acompanhar o meu parto. Puck e minha mãe iriam de qualquer forma, mas era Mercedes quem tinha me acolhido de braços abertos. Ao passo que Finn e Puck me acolheram por obrigação, ou pena, os Jones foram quem me deram abrigo porque me queriam lá, de verdade. Foi a minha primeira grande experiência com uma família normal, com café-da-manhã barulhento, conversas casuais e descontraídas à mesa. Lógico que de todas as pessoas, era Mercedes quem eu gostaria que estivesse ao meu lado.

Beth era o bebê mais lindo. A pele clarinha, como a minha, os olhos curiosos de quem em breve começaria a desbravar o mundo. Eu me apaixonei por ela imediatamente e foi por essa mesma razão que abri mão de criá-la. Não poderia dar àquele ser tão maravilhoso uma vida de incertezas na companhia de um casal de adolescentes que brincariam de casinha por um tempo e se destruiriam em seguida. Sobretudo quando o maior sentimento que dispensava a Puck era de carinho e respeito. Nunca o amei e nem poderia. Não quando, desde aquela época, meu coração pertencia a outra pessoa, por mais que eu negasse o fato para mim mesma. Que tipo de futuro poderia dar a Beth, logo a pessoa que instantaneamente era quem mais amava no mundo? Então, quando Shelby se aproximou do berçário do hospital eu tive certeza que se a entregasse Beth a ela, estaria dando de presente à minha filha a melhor das mães. Sabia que Shelby se arrependia amargamente por ter aberto mão de Santana e Rachel, por isso, ela procuraria compensar todo amor que negou às filhas biológicas. Então entreguei a minha filha. Passei as férias de verão destruída por dentro, mas fiz tudo por ela, por Beth.

E depois as pessoas me criticam tanto por eu manter a minha fé inabalável em Deus apesar de tudo de errado que aconteceu na minha vida. Do porque faço sempre o melhor possível para ir à igreja para escutar o sermão do pastor e fazer a minha parte. Não sou nenhuma fanática religiosa, não sou daquelas que empurra a minha fé goela abaixo nas pessoas. Está aí o meu relacionamento com uma judia para provar. Mas acredito na justiça divina, acredito que Deus abençoa e recompensa quem procura fazer a coisa certa. Ele só reserva o que há de melhor para nós. Meu sofrimento me abriu horizontes, me libertou de amarras. Não temia por mais nada em minha vida. Meu rompimento com meu pai e a desaprovação da minha mãe a respeito de algumas novas ideias me deram forças para que clamasse a minha liberdade. Lembro que o dia chave desta minha mudança de postura, quando criei coragem para lutar por tudo que queria: no dia que Hiram Berry-Lopez morreu.

Sei que é horrível, mas foi o que aconteceu. Shelby estava na casa dos Berry-Lopez tentando dar suporte às filhas no momento difícil, quando todo o coral invadiu a casa pela tarde com o mesmo propósito. Puck e eu mal entramos naquele casarão e logo vimos Beth, já com meses de idade, pela primeira vez desde o nascimento dela. Minha filha estava tão crescida e bem cuidada. Não contive minhas lágrimas. Meu primeiro instinto foi de correr, tirá-la do colo de Santana e fugir dali. Rezei para me conter. Shelby também agiu rápido ao pedir uma palavra comigo e Puck. Ela disse, em poucas palavras, que permitiria que eu e ele visitássemos Beth algumas vezes por ano, desde que ficássemos em nossos lugares: não tínhamos nenhum direito legal sobre ela e nem mesmo éramos mais reconhecidos como pai e mãe. Assim como a própria havia feito 17 anos atrás, Puck e eu assinamos um documento abrindo mão de Beth.

Shelby foi dura, mas correta. Puck agradeceu a oportunidade e foi embora. Eu pedi permissão para que pudesse vê-la. Então subi as escadas, até o quarto que sabia ser de Rachel. Encontrei a minha filha na cama entre as irmãs Berry-Lopez: Santana cochilava e Rachel, também deitada, brincava com Beth. Sentei na cama e a observei primeiro. Toquei o corpinho dela: tão linda, tão perfeita. Senti uma emoção enorme, difícil de conter. Santana acordou, disse para eu pegá-la no colo. Não era o momento. Eu precisava lidar com as novas informações com calma. Naquele instante, o que mais me interessava era saber que Beth estava bem, com uma ótima família que a acolheu com amor.

Saga Berry-Lopez e Fabray (história 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora