04 de maio de 2015 - Lobos Maus

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(Santana)

Acordei com a cabeça pesada e com uma leve ardência no meu estômago. Uma que estava ficando familiarizada. Tinha consulta marcada e sabia mais ou menos o que esperar: fazer endoscopia, levar injeção na veia, perder a memória uns 15 minutos por conta da medicação, e perder quase um dia inteiro grogue. Tinha feito isso uma vez em Lima com um médico amigo de papi. O resultado foi gastrite leve na ocasião e eu passei 20 dias tomando remédio e uma gororoba de suco verde no café da manhã.

Era dia. Eram poucas as vezes que dormia noites inteiras por causa dos trabalhos da Columbia e da Rock'n'Pano. Sorte que o semestre estava no fim. Seria um alívio ficar praticamente três meses empenhada apenas na minha pequena empresa. Levantei, escovei os dentes e fui arrastando o meu chinelo até a cozinha. Rachel e Quinn estavam de pé. Minha irmã tinha uma série para gravar. Parece que as coisas andavam bem no set.

"Bom dia, Santy." Rachel abriu um sorriso, desses que ela dava depois de uma boa trepada com a Quinn. Como aquilo era repugnante. "Já preparei o seu café da manhã." Apontou para o copo com uma coisa verde dentro e gelatina com frutas. Eu gostava de gelatina, mas não no café. E aquela coisa verde...

"O que diabos é isso?"

"Suco de couve com um pouquinho de leite só para quebrar um pouco o amargo e dar um gosto bom."

"Esquece... cadê meu café?"

"Nada de café, Santana! Se você estiver mesmo com uma gastrite, a cafeína vai ferir ainda mais o seu estômago. Couve faz bem e ajuda a curar. E depois isso é receita da abuela."

Abuela era a doutora da medicina alternativa. Ela e papi viviam discutindo sobre eficácia de chás e outras coisas naturais. Papai é que adorava as receitas e concordava com muitas delas. Os dois se davam muito bem. As receitas de abuela incluíam suco de limão com bicarbonato para difícil digestão, chá de olho de goiabeira para cortar diarréia, ameixa preta para prisão de ventre, couve e purê de batata para gastrite, chá de maracujá para insônia, boldo para cortar ressaca, um shot de tequila para aliviar dor de garganta. A primeira vez que tomei um shot de tequila foi sob supervisão de abuela quando era criança. Eu e Rachel cansamos de tomar chá de erva cidreira para ver se a gente ficava mais calminha quando passávamos o dia na casa dela.

"No voy a tomar esa bazofia!"

"Si usted no bebe, me quedo de pie todo el dia y no voy a dejar trabajar".

"Me dá essa droga!" Admito, o suco de couve não era ruim.

"Se as duas me dão licença, acho que vou pegar o meu caminho." Quinn disse assim que terminou o café dela.

"Você vai gravar hoje?" Perguntei.

"Sim... vou aproveitar que segunda é o dia mais tranquilo no estúdio e vou sair mais cedo para gravar o doc."

"Legal."

"Você não acha legal?" Ela desdenhou.

"Não acho. O tema deste doc. é clichê."

"Santana! Acho que é um pouco cedo para embates, correto?" Rachel se meteu.

"Se me dão licença..." Quinn deu um beijo nos lábios da minha irmã, pegou a mochila dela e saiu.

Estava morrendo de vontade de tomar o restinho do café da garrafa. O sexto sentido da minha irmã funcionou mais uma vez e ela derramou o precioso líquido negro na pia. Quase chorei.

"Não trapaceie quando chegar na Columbia." Ela me deu um beijo no rosto e me entregou minha mochila.

"Isso, me expulsa de casa!"

Saga Berry-Lopez e Fabray (história 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora