23 de setembro de 2009 - O primeiro slushie

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(Quinn)

Ao contrário da opinião pública, Rachel não era uma pessoa ruim, muito menos chata. Ela só estava sem foco. O semestre em McKinley mal havia começado e ela ficava andando de um lado para outro pelos corredores como uma barata tonta. Circulava entre um clube e outro. O pior: todos não passavam de reuniões de losers. Não sei o que estava tentando provar ao fazer tantas coisas ao mesmo tempo, como se ela já não tivesse atividades suficientes. As roupas cafonas e antiquadas caíram no radar de todas as garotas, não apenas das populares, que não se cansavam em fazer comentários maldosos até mesmo de quem tinha bom gosto fashion. Nem mesmo eu evitava fazer piadas, porque, para ser sincera, Rachel tornava tal tarefa impossível.

Noutro dia, ela colocou um colar de pérolas falsas, desses grandes que dão duas voltas, junto com brincos enormes, uma saia xadrez, sapato com meia na altura das canelas e suéter de coruja. Nada contra o suéter de coruja, que poderia ser fofo caso ela vestisse, pelo menos, uma calça jeans normal, mas o conjunto estava lastimável. Até mesmo eu, que nunca fui uma fashionista como Frannie, não evitei um comentário maldoso.

"Meu Deus, parece uma atração de circo no zoológico!" Desabafei sem querer para Frannie e as amigas dela, que riram alto. Juro por Deus que o comentário veio da minha perplexidade.

Eu não sei qual o problema que Santana tem com Rachel para não dizer uma palavra a respeito. Tudo bem que ela agora era uma cheerio, assim como eu, e teoricamente não lhe seria mais permitido ter relações sociais com perdedores, como dizia nossas leis informais e orais. Mas elas não eram irmãs? Sei que elas chegavam juntas à escola e saiam juntas, mas no tempo entre uma coisa e outra, sequer se falavam. Imagino que a relação entre elas dentro de casa deva ser pior do que qualquer outra que tinha em casa.

Olhe que falo de uma irmã que me trata como se fosse uma seguidora, de uma mãe que anda bebendo bastante, de um pai cujo lema era "faça o que digo, e se não fizer eu te apresento ao educador." O educador era uma tábua envolvida em couro que ardia até a alma quando entrava em contato com a pele.

Às vezes pensava que Rachel deveria ser uma cheerio. A treinadora Sylvester nos obrigava a usar os uniformes todos os dias por uma questão de território e status. Para mim era uma boa forma de poupar minhas roupas, que no final representava economia. No caso de Rachel, usar uniforme seria a solução para o lapso de senso de moda. Por outro lado, tinha de ser realista: ela nunca entraria no time. Além de não ter o perfil e nem interesse, Frannie tentaria vetar, como quase conseguiu fazer no caso de Santana. É que a Lopez número 1 fez um dos melhores testes entre as novatas, perdendo apenas para mim e para Brittany. Os anos de balé contaram ao meu favor, neste caso. Se Rachel passasse no teste e por Frannie, tinha certeza que seria expulsa no dia seguinte por enlouquecer a treinadora.

Apesar de tudo, eu a admirava. Era só uma menina de 14 anos ainda desengonçada, mas que estava cheia de planos e certezas. Quantas pessoas naquele colégio podiam dizer o mesmo? Eu não conseguia fazer o simples exercício de me imaginar no próximo mês. Acredito que a determinação dela intimidava as pessoas e isso era um elemento a mais para tratá-la como se ela fosse uma aberração. E também tinha a altura. Rachel era a mais perfeita personificação da baixinha invocada magricela que ninguém levava à sério. Santana não era muito maior que a irmã, embora fosse tão magricela quanto. Mas ninguém a importunava: é que Santana tinha séria tendência à delinqüência juvenil.

Era impressionante como o uniforme vermelho e branco funcionava como um escudo protetor naquela escola. Brittany era um bom exemplo. Ela era uma pessoa peculiar que frequentava a turma especial para os alunos com dificuldade no aprendizado, conhecida como a "turma dos retardados", como diziam as cheerios e muitos dos atletas, em especial dos jogadores de futebol. Mas ninguém mexia com a Brittany: uma razão era para não enfrentar a ira de Santana, e a outra porque ela era uma cheerio das mais talentosas. O que digo é que, se ela não fosse cheerio, nem a ira de Santana a salvaria.

Saga Berry-Lopez e Fabray (história 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora