26 de novembro de 2013 - Tracy

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(Santana)

Às vezes me perguntava se Rachel realmente ia às aulas na NYU. Tirando um livro ou outro que a via ler, para mim ela não estudava. Pelo menos julgava que fazer curso de artes cênicas tinha alguma coisa tinha teoria, coisas como história do teatro, algo some paradigmas, semiótica, estudo do mito. Essas coisas que povoam os cursos de humanas. Verdade que ela pegava o mínimo de créditos por semestre, ainda assim, estranhava. As únicas coisas que a vi fazendo foram dois ensaios sobre as adaptações para teatro da obra de Jane Austen e sobre cultura pop. Ela pediu para que eu formatasse e colocasse no padrão acadêmico. Estavam muito bem escritos, devo admitir. Muitos dos professores começaram a passar os trabalhos finais de semestre em meados de novembro, além de provas. Foi uma época que eu enfiei o nariz nos livros e no computador. Ficava até o final da tarde na biblioteca, ia para casa, comia alguma coisa e estudava mais até o início da madrugada. Quinn me acompanhou algumas noites fazendo os próprios trabalhos.

Para ajudar a enfrentar as madrugadas de cara no livro, Mike preparava lanches e os deixavam prontos na geladeira. A gente pouco se encontrava naquela segunda metade de novembro. A peça de Mike ia rodar pela costa leste e ele estava fazendo muitos eventos promocionais para a peça e também para a pizzaria que ele era garoto propaganda. Pela manhã, quando ficava em casa, eu, Quinn e Rachel (acho) estávamos na faculdade. Eu continuava na faculdade pela tarde e as meninas trabalhavam. De noite, sempre a partir de quinta-feira, ele tinha a peça.

Rachel fazia chás. Ela passava uns 10 minutos no mercado escolhendo os sabores e que levaria na semana. Tinham alguns muito bons. Gostava de um de pêssego que ela raramente comprava. E quando fazia essa caridade, resmungava. Não é que ela não gostasse. O problema era que eu gostava daquele sabor do chá e muitas vezes Rachel estava brigada comigo. Então ela não comprava só para implicar. O detalhe é que minha irmã sempre fazia chazinho para Quinn nas madrugadas... eu só recebia o que sobrava. Não adiantava nem protestar porque as minhas reclamações passavam direto pelos ouvidos dela.

Só descansei um pouco dessa loucura de fim de semestre quando deixei a maioria dos trabalhos prontos antes do feriado de ação de graças. Quinn, Rachel e eu fomos para Lima. Quando chegamos à cidade ainda na terça-feira, tivemos de lidar com algumas novidades e uma agenda cheia. Papi começou a namorar Tracy, uma massagista (!), e comprou um cachorro: uma filhote de labrador de cor chocolate chamada Sherry. Simplesmente linda. A cachorra animal, embora a cachorra humana não fosse de se jogar fora.

"Papi? Sherry? Sério?" Ele fez cara de inocente.

"No sé lo que quieres decir!" Abraçou-se com Tracy.

"No te parece que Sherry se asemeja a Shelby?"

"Creo que lo nombre es perfecto!" Rachel disse enquanto brincava com a filhote.

Quinn entendeu do que estávamos falando. Ela não conseguia falar bem o espanhol, mas na convivência comigo e Rachel, ela começou a entender melhor o idioma. Pelo jeito, parecia que também não aprovava, mas não cabia a ela opinar sem ser chamada. Então ficou na dela.

"Do que vocês estão falando? Da cadela?" Tracy sorriu como se estivesse confusa. Por alguma razão, eu não conseguia engolir aquela inocência.

"Não é da sua conta!" Respondi grosseiramente. Mas aquela mulher me irritava.

"Santana!" Papi gritou comigo. "Peça desculpas!"

"Nem sonhando!" Saí de perto deles.

Tracy era uma aproveitadora, sentia o cheiro dessa gente de longe. A história de vida dela era clichê demais para não pensar o contrário. Uma mocinha de 23 anos que veio de carona de algum lugar remoto de Kentucky e era recém-chegada na cidade sem muito dinheiro no bolso e vivendo de aluguel num quartinho. Ela trabalhava no único spa de Lima, onde conheceu o papi, e depois largou o emprego para "tentar algo melhor". Conversa fiada. Papi a encontrou numa casa de strippers e ela fez programa com ele. Como isso deve ter se repetido algumas vezes, e o meu velho estava solitário, ele achou que deveria dar um de bom samaritano. Claro que Tracy iria aproveitar: um homem bem-sucedido e absurdamente carente por causa de uma dor de cotovelo –, vivendo sozinho num casarão com um filhote de cachorro. Agora vem dizer que é amor? É pilantragem! Tracy seduziu um homem fragilizado com sexo do bom. Eu ia lutar para dar um fim nessa história antes que fosse tarde demais.

Saga Berry-Lopez e Fabray (história 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora