28 de jan de 2007 - Rachel tem o primeiro período

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(Rachel)

A primeira menstruação costuma ser um divisor de águas na vida de qualquer menina. Muitas vezes ela confirma o que já está presente no corpo e nas atitudes: é a entrada sem volta para a adolescência. Eu entendia bem a inevitabilidade do amadurecimento do corpo. Podia ver a pelagem que invadia minhas partes íntimas e debaixo dos meus braços. Nunca fui uma criança peluda, mas as minhas pernas estavam diferentes. Olhava minha imagem no espelho e ficava frustrada com os dois caroços que cresciam por dentro das minhas auréolas e faziam com que elas ficassem estufadas e doloridas. Achava que meu quadril estava um pouco mais largo. Pelo menos mais do que o de Santana. E minhas pernas eram compridas e desproporcionais. Ainda assim, continuava a ser uma menina baixinha.

Brittany já tinha períodos. Ela menstruou aos 11 anos, mas este era um assunto que Santana evitava. Achava repugnante a idéia de que a nossa amiga poderia ter um bebê e que ela não podia cair na piscina ou vestir o biquíni em alguns dias do mês. Mas ainda tinha minhas dúvidas. Brittany tinha um corpo lindo e muito mais harmonioso do que o meu desengonçado. Minha voz estava difícil de controlar nas aulas de canto porque ela estava se modificando e amadurecendo. Não era como a dos meninos, ainda assim uma pessoa com ouvido sensível para a música como o meu perceberia. Estava difícil domar certas notas, em especial as mais altas. Às vezes tropeçava no nada nas minhas aulas de dança e a professora da companhia comunitária de teatro tinha dificuldade de me enquadrar. Ou ela preferia Dolores, a menina de 14 anos, para os papeis mais velhos, ou as outras garotas de 9 anos para fazer literalmente as crianças. E eu ali naquele plano intermediário estranho.

Se menstruação significasse que toda essa angústia ia acabar, que assim seja. Por outro lado, Santana tinha razão ao dizer que era algo nojento sangrar entre as pernas. Imagine? Suspirei diante do espelho e terminei de vestir a minha roupa. Ainda tinha neve lá fora e precisava ir à escola, mesmo que não estivesse disposta. Encontrei Santana e meus pais na cozinha tomando café da manhã.

"Buenos días, mi estrellita." Meu pai foi o primeiro a me receber com um beijo na minha cabeça.

"Buenos días, papi." Forcei um sorriso. "Bom dia, papai" Sentei ao balcão da cozinha e tratei de me servir com frutas, pão integral, geléia e chá.

"Você dormiu comigo?" Santana resmungou.

"Desde quando se importa se desejo ou não um bom dia a você?"

"Desde quando eu sou civilizada e você é uma toupeira."

"Muito inteligente! Interessante que a sua extraordinária habilidade com números não consegue se repetir com as palavras ou na capacidade de produzir um bom argumento. Seria isto um estranho bloqueio?" Encarei minha irmã e Santana apertou os olhos, daquele jeito que prometia volta e me fazia temer por minha integridade física.

"Vocês duas podem parar agora!"Papai advertiu. "Essa lengalenga todo santo dia é dose!"

"Aborrescentes!" Meu pai sorriu e bebeu um pouco do chá.

"Bem que avisaram que a gente ainda tinha visto nada." Os dois trocaram sorrisos e foi a vez da minha irmã e eu revirarmos os olhos. "Meninas... horário!" Apontou para o relógio. Eu sempre apressava o meu café, mas Santana ignorava. Apesar dos diários esforços dela, a gente não chegava atrasada a escola. Papai sabia a controlar.

Terminamos nossa refeição e eu só tive o trabalho de pegar a minha mochila em cima do sofá enquanto Santana sempre voltava ao quarto porque esquecia alguma coisa. Entrei no banco de trás do jipe, sempre atrás do motorista, que era o meu lugar cativo. Santana, como sempre, tentava persuadir papai a deixá-la sentar no banco da frente. Era uma luta perdida que ela insistia em travar todo santo dia. Acabou, como sempre, me fazendo companhia no banco de trás. Isso me dava alguma satisfação. Chegamos à nossa pequena Junior High School e Santana, como sempre, foi a primeira a descer sem falar com ninguém e a correr para longe do carro. Eu esperava para ver se papai tinha algo a dizer.

Saga Berry-Lopez e Fabray (história 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora