4 - A Mulher Vermelha

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"Quando a estrela vermelha sangrar e a escuridão se agrupar, Azor Ahai renascerá entre a fumaça e o sal para acordar os dragões de pedra."

Melisandre

***

Ela chegou em Pedra do Dragão durante uma noite límpida e fresca. Na sala do trono, todos permaneceram em silêncio, entreolhando-se, enquanto Daenerys continuava imóvel, profundamente mergulhada nas palavras de Melisandre. A sacerdotisa estava toda vestida de cetim escarlate e veludo cor de sangue, com os olhos tão vermelhos como o grande rubi que cintilava na sua garganta, como se estivesse em chamas. Estava naquela ilha outra vez para cumprir sua última missão.

— Já ouvi muitas profecias. — Disse Dany a ela, desconfiada — Todos parecem saber o meu destino.

— Não há destino além daquele para o qual o Senhor da Luz decide nos guiar. — Sorriu Melisandre, visualizando fogo nos olhos da garota Targaryen — Nos livros antigos de Asshai foi colocado um aviso, dizendo que chegaria um dia, após um longo Verão, em que as estrelas sangrariam e o bafo frio da escuridão cairia, pesado, sobre o mundo... Então o Último Herói surgiria para derrotar as trevas. 

— E você crê...

— Creio que você tem um papel a desempenhar nessa era, majestade, assim como Jon Snow.

— Jon? — Tyrion, que estava um pouco atrás observando as duas, se surpreendeu ao ouvir aquele nome — Está falando do bastardo de Ned Stark?

— Chame-o. — Disse a sacerdotisa, sem tirar os olhos de Daenerys — A grande guerra está chegando.

— Obviamente está.

Melisandre fez que não.

— Você não está olhando para onde os ventos sopram, majestade. Há milhares de anos chegou em Westeros uma noite que durou uma geração. Reis congelaram em seus castelos, assim como os pastores em suas cabanas. As crianças nasciam, viviam e morriam na completa escuridão. A neve se acumulava em mais de trinta metros de altura e as mulheres sufocavam seus bebês para não vê-los morrer de frio e de fome. E quando essas mães choravam o sangue que tinham nas mãos, suas lágrimas congelavam em suas faces... Essa é a Grande Guerra, a única que importa, minha Rainha.

Dany sentiu um arrepio percorrer sua nuca. A Longa Noite era apenas uma história, uma antiga lenda, mas ela não duvidava mais desse tipo de coisa depois de tudo que viu Além do Mar Estreito. Havia mais magia em sua vida do que ela um dia imaginava que haveria.

— Você trouxe mais profecias para mim, mas elas são sempre vagas.

— Profecias são complicadas. — Confessou a Mulher Vermelha — Mas se há algo certo, é que dragão e lobo precisam se unir para combater a Longa Noite.

— Jon Snow? — Perguntou Daenerys, franzindo a testa e estudando o nome.

— Chame-o. — Insistiu Melisandre — Como comandante da Patrulha da Noite ele uniu todo o Norte e salvou milhares de pessoas. Ele lidera um enorme reino, muito poderoso e selvagem, e que pode ser decisivo em seu caminho.

— Como poderei confiar nele?

— A verdade estará à sua volta, bastará olhar para ela. A noite é escura e cheia de terrores, o dia, luminoso, belo e cheio de esperança. Uma é negra, o outro, branco. Há gelo e há fogo. Ódio e amor. Amargor e doçura. Dor e prazer. Inverno e verão. Mal e bem. O Senhor da Luz, em sua sabedoria, nos fez macho e fêmea, duas partes de um todo maior. Nessa união haverá poder. Poder para criar vida. Poder para criar luz. Poder para gerar sombras...

Houve um incômodo silêncio e então Tyrion pigarreou.

— Eu o conheço, majestade. — Ele se aproximou das duas com cautela, como quem interrompe uma cerimônia — Confio em Jon Snow e, mais do que isso, na força do Norte.

— O que quer dizer? — Dany desconfiou.

— Creio que podemos fazer o que planejávamos em Essos. — Disse ele, usando o dobro de cautela, pois sabia que Daenerys não iria gostar — O Norte não se dobra facilmente, ainda mais depois de tudo que aconteceu nesses últimos anos. Eles vêm crescendo com muita força, vem se tornando perigosos e podem tomar o continente a seu favor se não os determos. Sabemos qual a forma mais fácil de fazer essa aproximação entre Norte e Sul.

— Outro casamento? — Dany estava cansada de homens — É isso que está me propondo de novo?

— Creio que um acordo entre Norte e Sul tenha de ser feito para que você chegue mais fácil ao Trono de Ferro. — Explicou Tyrion — Quero dizer, se deseja conquistar o trono pacificamente. Apesar de ser apenas um dos reinos, o Norte é um dos mais perigosos no momento. Você poderia conquistar tudo com os dragões e os exércitos, mas o custo seria muito alto. Muitas vidas seriam ceifadas nesse caminho e haveria rebeliões em toda parte, pode ter certeza. Com um casamento, pelo contrário, você ganharia a aprovação de muitas famílias e diminuiria as chances de ser atacada e de sofrer emboscadas, pois se fixaria aqui com a família Stark, que é uma das mais tradicionais de Westeros.

Daenerys o observava com ferocidade. Não seria fácil convencê-la de se casar outra vez.

— Você já se casou por motivos menores e com homens bem piores quando estava em Essos. — Insistiu Tyrion — Jon Snow é um bom homem, correto e, se o poder dele, no Norte, é tão grande quando os rumores dizem, é a pessoa que precisamos ao nosso lado.

Dany respirou fundo.

— Tudo bem, chame-o. — Disse, por fim, lançando um olhar terrível para Tyrion — Deve levar mais de quinze dias para chegarem, então você estará de volta de Porto Real quando ele desembarcar aqui. Até lá eu vou pensar no que fazer. Não sei se quero ser tão pacífica quanto você.

Melisandre sorriu satisfeita e então se aproximou de Daenerys, estudando seus olhos até ficar assombrada. O que viu a encheu de horror e esperança.

— Três cabeças tem o Dragão...

— O que está dizendo agora? — Dany se incomodou.

Melisandre sorriu.

— Que o sol irá se por no leste e os mares secarão, princesa.

___

Nota: Em Essos, Dany se casa com Hizdahr para tentar restabelecer a paz em Meereen e quando está se preparando para viajar para Westeros, ela termina com Daario justamente por pensar em se casar com alguém em Westeros. A série estava levando tudo no caminho de um casamento arranjado entre Dany e Jon, que era algo muito mais lógico, pois casamentos sempre foram usados para acordos políticos. Por algum motivo eles não fizeram isso, então aqui eu aqui resolvi fazer.

Uma coisa que eu não entendi na série foi o motivo da Melisandre não ter falado nada sobre a Grande Guerra para a Daenerys. Ela apenas deixou o Jon se virar. Foi um péssimo cupido na série haha. Aqui ela fala um pouco, ainda que de maneira simbólica. Esse capítulo, assim como a maioria que vocês vão ler, estão cheios de frases retiradas da série e dos livros.

Final alternativo para GOT (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora