66 - A canção de Jenny (✓)

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Nos longos e altos corredores
dos antigos reis que passaram,
Jenny dançava com seus fantasmas.
Eles a giravam em torno de
velhas pedras molhadas.
Durante o dia, e na neve que estava no corredor, eles dançavam.
Tiravam dela toda a tristeza e toda a dor.
Eles dançavam do inverno ao verão
e logo ao inverno novamente.
E Jenny nunca queria partir...
Nunca queria partir...
Nunca queria partir...

Canção de Jenny

***

Daenerys entrou no salão e viu Sansa e Bran à sua espera. Jon chegou logo em seguida com Arya atrás dele. Os cinco se entreolharam e então a voz do Corvo soou, alta e terrível, o suficiente para causar calafrios. 

— Os mortos atravessaram os vilarejos à oeste, logo se unirão aos mortos ao leste e chegarão a Winterfell em questão de horas.

O corpo de Sansa se arrepiou, Arya apertou os punhos na espada e Jon e Dany trocaram um olhar decisivo. A hora se aproximava. Não eram mais apenas alguns ataques isolados à vilarejos. Todos, absolutamente todos os mortos se juntariam e seguiriam a passos largos para Winferfell. Se vencessem, todo o continente seria devastado.

Havia notícias de ataques em todas as regiões do Sul de Westeros, mas eram de dezenas ou centenas de mortos. Os milhares estavam apenas no Norte, pois os exércitos ali estavam cercando os ataques, mas o Rei da Noite e muitos vagantes brancos haviam conseguido atravessar as fronteiras na surdina e começavam a criar um novo exército no sul.

— Eles podem se unir do outro lado e voltar com o dobro de força sobre nós. — Disse Sansa à Daenerys — Eles formaram um exército de mortos no Norte e agora foram para o Sul formar um novo exército. Vão voltar e nos encurralar.

— Não haverá tempo para isso. — Respondeu a Rainha — O Rei da Noite levou anos para juntar seu exército. Vamos vencer essa batalha e matá-lo antes que forme outro exército no Sul.

— Você parece ter muita certeza das nossas chances. — Disse Sansa com um sussurro nervoso — Bran disse que eles tem cerca de cem mil a mais que nós. Isso aqui no Norte. Não sabemos quantos o Rei já tem no Sul.

— Os vivos irão vencer essa guerra, Sansa. Tenho certeza disso. — Respondeu Daenerys — Só não tenho certeza quem de nós estará entre os vivos no final.

***

Em questão de instantes, milhares de pés estavam correndo de um lado e outro, dentro e fora do castelo. Sor Jorah falava em dothraki com os guerreiros de longas tranças e pele bronzeada, repassando as ordens de Daenerys. Verme Cinzento, do outro lado, repetia o mesmo aos imaculados. Davos, os nortenhos e os líderes dos exércitos do Vale começaram a se organizar pelas ordens de Jon.

As catapultas foram preparadas. O fogovivo, trazido da capital, foi colocado nas valas ao redor do castelo e os arqueiros prepararam suas flechas logo atrás das chamas esverdeadas.

Sansa, no interior do castelo, começou a levar as crianças, as mulheres, os idosos e todos os que não podiam empunhar uma espada para o grande salão de Winterfell. Enquanto preparava tudo, se encontrou com Arya no corredor.

— Isso é pra você. — Ela entregou à Sansa a adaga que fora de Mindinho e ela a segurou sem jeito.

— Eu não sei usar.

Arya a abraçou, despedindo-se como Jon um dia se despediu dela.

— Espete neles a ponta afiada.

Sansa viu a irmã partir para a escuridão do lado de fora e colocou a adaga na cintura antes de voltar ao trabalho. Estava tremendo, suando frio e pronta para o que viesse.

No pátio, com o rosto feroz e infantil, a pequena Lyanna Mormont, a líder da Ilha dos Ursos, organizava os homens na defesa dos portões do castelo. Sor Jorah, que tanto prazer havia sentido ao conhecê-la, não conseguiu fazer com que o ouvisse.

— Você ainda é uma criança e é o futuro da nossa casa. — Ele havia tentado convencê-la.

— Não pretendo ficar tricotando enquanto homens lutam por mim. — Foi sua resposta — Lhe desejo sorte, primo.

Mães e filhos se abraçaram naquelas horas. Pais se despediram de seus meninos e de suas meninas. Maridos seguraram apertado suas esposas que não queriam soltá-los para a guerra os destruir. Idosos disseram adeus à vida e mergulharam em um sono profundo, sem vontade de acordar.

Do lado de fora, Arya foi até Cão de Caça, que estava sentado no muro alto. Ela se sentou ao seu lado em silêncio. Ele estava bebendo e ela tomou dele o cantil, virando um grande gole.

— Vai ficar sempre me roubando? — Chiou ele, sem realmente se importar. Ficar em silêncio com ela, à espera da morte, era um grande prazer.

No interior do castelo, Sansa sentou-se sozinha na mesa do grande salão, tendo centenas de olhos virados para ela. As pessoas do Norte acreditavam em sua proteção sob aquele teto, mas ela mesma sentia cada pedaço dentro de si estremecer. A adaga em sua cintura estava fria como gelo.

Em outra sala, no interior do castelo, Brienne, Podrick, Beric, Thoros, Tormund e vários outros se reuniram em volta da lareira a esperar. O tempo passava e estavam todos ansiosos e ao mesmo tempo entendiados. Foi quando Podrick começou a cantar para distraí-los.

— Que música é essa? —   Perguntou um deles.

— A canção de Jenny. — Respondeu Brienne, enquanto Podrick seguia cantando aquela melodia tão triste — A Jenny de Pedravelha.

— E essa quem é?

— Foi uma plebeia que se casou com o príncipe Duncan Targaryen... — Suspirou ela, que tanto gostava dessa história — Segundo dizem, ele abriu mão da coroa do pai para se casar com Jenny. Na tragédia de Solarestival, quando o rei tentou trazer os dragões extintos de volta à vida, houve um acidente com fogovivo que matou todos os que estavam no antigo castelo. A canção é sobre a Jenny. Dizem que ela não morreu, mas escolheu ficar lá, junto dos fantasmas dos mortos.

— Essa música era cantada pelo Príncipe Rhaegar Targaryen. Ele foi um grande guerreiro, mas gostava mesmo era de cantar, de tocar sua arpa... — A voz de alguém soou, mas Brienne já não ouvia. Ninguém ouvia. A noite estava silenciando os ouvidos para todas as vozes e mesmo para todo o desespero.

Quando Sam estava indo para o castelo, para encontrar Gilly e o filho, viu Bran no pátio olhando para o céu, completamente só.

— O que faz aqui? Precisa de ajuda com a cadeira?

Bran não se mexeu.

— Não preciso. Hoje eu irei voar.

___

Nota: Editei um pouco a letra de Jenny's Song, mas nada que tire o sentido dela. Achei que poderia ser legal colocar um personagem explicando um pouco o significado dessa música. Deixei ela aí pra quem gosta de ouvir lendo
Fiz a preparação para a guerra um pouco parecida com a série, mas não irei fazer a parte das criptas (mesmo que muitos gostem), porque achei meio idiota ninguém raciocinar que os mortos se ergueriam lá dentro 😂

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