"Escute as minhas palavras e testemunhem os meus votos. A noite chega e agora começa minha vigia. Não terminará até a minha morte."
Votos da Patrulha da Noite
***
Daenerys e Missandei desceram as escadarias que levavam à praia naquela tarde. Elas sorriam ao conversar sobre algo que Jon Snow não conseguia ouvir daquela distância. Ao se aproximar mais delas, deixando a caverna, ele viu o semblante risonho de Dany se endurecer. Por um instante pareceu ter visto uma menina brincar naqueles traços suaves, mas a Rainha implacável retornou assim que o viu.
- Posso lhe falar um instante, majestade? - Perguntou ele.
Dany fez que sim, deixando Missandei um pouco para trás e indo para onde o mar encontraria seus pés e para onde o olhar misterioso daquele homem a atraía. Jon voltava da caverna em que estavam minerando vidro de dragão. Ela ainda não entendia a utilidade daquilo, mas não negou seu pedido.
- Agradeço por permitir, majestade. - Disse ele, com a feição menos carrancuda do que Dany havia visto dias antes - Já começamos a trabalhar, mas há algo que preciso que veja.
Daenerys estranhou aquilo, então deu ordens aos dothraki para que os acompanhasse. Não confiaria em entrar sozinha naquela caverna com Jon Snow, ainda que ele estivesse desarmado.
Eles entraram, pisando no chão lamacento e nas rochas escorregadias até a passagem ficar estreita. Apenas uma tocha de fogo na mão de Jon iluminava o caminho e quando ele parou e a elevou para o alto, Daenerys visualizou todo o vidro negro entranhado nas pedras. Mas não era só isso, havia também desenhos ali, símbolos que Dany nunca havia visto, mas que lembrava a ela algumas histórias que Sor Jorah costumava lhe contar. Eram os Outros, aqueles que caminhavam a estrangular os humanos, o terror de uma guerra em completa escuridão.
- Posso ser muitas coisas, mas não sou um mentiroso. - Disse Jon, ao mostrar a ela todas aquelas figuras de horror, tudo o que ela não imaginava que pudesse existir ali em Pedra do Dragão, mas existia - Tudo que te contei é real, tão real que seus antepassados sabiam.
Dany olhou para os desenhos nas pedras, lembrando-se do que a Mulher Vermelha havia lhe dito. A Longa Noite, a que cobriu o mundo de escuridão e neve, estava voltando. Tudo estava bem ali nos desenhos daquela caverna. Lembrou-se da Casa dos Imortais mais uma vez e das visões que teve lá. Tudo que tinha acontecido naquele lugar não a permitia ser cética como Tyrion.
- Conte-me, Jon Snow. - Ela se aproximou, sentindo que deveria ouvi-lo - Conte-me quem é você e o que viu.
Ele respirou fundo e se aproximou dela, olhando firme em seus olhos arredios. Ficaram frente à frente, um tanto impressionados um com o outro. Era como se já tivessem se visto na vida, mas toda memória disso tivesse sido apagada.
- Há alguns anos eu decidi ir para a muralha e me tornar um patrulheiro. - Jon se sentou em uma pedra e ela se sentou ao lado dele - As coisas que aconteceram desde então, me tornaram quem eu sou hoje.
Dany analisava os desenhos nas pedras enquanto Jon narrava os momentos mais assombrosos de sua vida, os que ocorreram desde que escolheu vestir o negro. Muitas coisas ficaram de fora, mas Daenerys sentia que, de algum jeito, sabia de tudo aquilo.
- Muitos homens morreram além da muralha. - Contava Jon, moldando sua voz rude para falar com ela de um jeito suave - Muitos homens mortos também se levantaram depois da morte. E eu lutei com eles.
Conforme os olhos dela iam ganhando brilho diante das chamas, Jon se sentia mais incentivado a revelar cada lembrança. Confiava nela informações que nem aos irmãos havia confiado e se espantou com a facilidade que tinha em conversar com Daenerys.
- Pelo que me disse, um Patrulheiro deve servir até a morte.
- E eu servi. - Respondeu Jon.
Ela estranhou a resposta, mas não perguntou do que ele falava, pois seu rosto não era nada amigável. Dany ainda não sabia que o rosto de Jon era quase sempre assim. Mas ela também sentia que não receberia uma resposta satisfatória, então apenas ouviu o resto da história.
Ao fim, após um longo momento de conversa, resumindo o terror em palavras que o vento carregava facilmente, Jon acreditou que Daenerys parecia finalmente entender quem ele era e pelo que estava lutando.
- Me parece um bom homem, Jon. - Disse ela com sinceridade - Tem lutado por algo maior que o poder e entendo que queira proteger seu povo de todas as ameaças. Ameaças como eu também.
Jon se calou e ponderou as ideias. Não sabia se a considerava confiável ou não. Queria parar de encará-la, mas procurava nela lembranças de sonhos que tinha nas noites frias na muralha. Os homens diziam que ele sonhava por não frequentar os bordéis.
- Dizem que você também protege seu povo. - Disse ele, desconcertado com os pensamentos.
- Protejo. E todos os povos são meus.
Daenerys ficou alguns segundos olhando nos olhos de Jon. Eram duros como o vidro de dragão entranhado nas rochas, mas havia calor neles em algum lugar. Ela apenas sentia que precisava cavar para chegar naquelas chamas. Não duvidava de sua história, mas não o deixaria escapar tão fácil de suas mãos. Havia coisas em Jon que ela ainda desejava descobrir.
- Quero que fique aqui por mais alguns dias. - Disse ela - Há muito para conversarmos ainda e há algo que quero que veja.
***
Naquela noite, sentados em frente à lareira em uma sombria sala de Pedra do Dragão, Daenerys e Tyrion conversavam tranquilos, como bons amigos. Ela estava curiosa para saber o que o conselheiro achava de Jon.
- É teimoso como uma mula. - Tyrion havia lhe dito antes de um gole de vinho - Me lembro dele sempre de cara fechada e desconfiado quando o conheci em Winterfell. Mas ele também foi gentil comigo, devo admitir isso.
- Não é a melhor apresentação que já ouvi sobre um pretendente. - Ela ergueu as sobrancelhas, espantada.
- Jon é um homem melancólico que não sabe nada da própria história. - A voz dele soou triste - Nunca se sentiu à altura dos irmãos e sei disso porque eu me vi nele quando o conheci. A mesma sensação de inferioridade... - Ele balançou a bebida na taça e, por um segundo, voltou muitos anos atrás, quando seu pai ainda estava vivo - Depois da última vez que o vi, Jon perdeu toda a família no Jogo dos Tronos. Só lhe restou uma irmã, justamente a que nunca foi muito próxima dele. Terminou a vida muito mais sozinho e pobre do que antes. Diferente de você, que nasceu em uma família nobre, tem um nome poderoso, fortunas incalculáveis e milhares de homens e mulheres para servi-la, Jon tem apenas a si mesmo.
- Ele tem o Norte.
- Tem? - Tyrion a encarou sabiamente - Jon não é idiota. Ele sabe que você tomará toda Westeros. Ele sabe que não pode fazer nada para impedir que lhe tire o Norte, por bem ou por mal. Ele veio aqui pedir sua ajuda para salvar a humanidade, sem se importar se você o mataria ou não. Ele é um homem que se arrisca pelas pessoas, não pelo poder.
- Chama isso de coragem ou imprudência?
- E há alguma diferença?
Dany riu.
- Ele pode parecer difícil à primeira vista. - Disse Tyrion - Mas, se você o ajudar nessa guerra, ele a agradecerá e jurará sempre honrá-la. Depois, tendo cumprido seu dever, ele voltará a ser um bastardo de bolsos vazios e ninguém nunca se lembrará de tê-lo chamado de Rei do Norte um dia. Esse é Jon Snow, majestade, ele não vive para ele mesmo.
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Nota: Essa ligação deles nesse capítulo faz referência aos paralelos dos dois. É como se eles se conhecessem mesmo, pois sempre sentiram a presença um do outro. Nos livros isso é evidente, mas não na série. Mudei um pouco a cena da caverna, deixando eles se conhecerem. Aqui também coloco Tyrion para falar um pouco de Jon para a Daenerys, mostrando um pouco mais da personalidade dele (que a série modificou totalmente).
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Final alternativo para GOT (concluída)
FanfictionVocê também odiou o final de GOT? Então venha aliviar seu coração com esse final alternativo. Essa história é sobretudo para os fãs de Daenerys Targaryen, mas todos os personagens tiveram seus destinos reformulados. Busquei ser o mais coerente e fi...