"A criança assustada que se abrigou na minha mansão morreu no mar Dothraki, e renasceu em sangue e fogo. Esta Rainha dos dragões que usa o seu nome é uma verdadeira Targaryen."
Illyrio Mopatis
***
Tudo o que eles sabiam era que a muralha havia sido atacada. Ninguém voltou lá para ver como tudo acabou. Os patrulheiros, os selvagens e todos que estavam durante o ataque tomaram o rumo de Winterfell a toda velocidade e sem olhar para trás.
Os dias de viagem de volta foram bem mais difíceis do que imaginavam. Todos que haviam se ferido em batalha experimentaram febre, dores e todo tipo de mal estar. As noites eram preenchidas pelo som de vozes delirantes, vômitos e gemidos de dor.
— Tem algo neles, nos mortos! — Tormund não cansava de repetir — Estão mais fortes! Os músculos enfraquecem perto deles e o coração acelera até parecer que vai explodir... E as armas que os malditos usam? Elas parecem envenenadas, se quer saber!
As efusões de ervas e os caldos preparados nas grandes cozinhas de Winterfell ajudaram a curar e a aquecer os enfermos assim que o grupo regressou ao castelo. A única exceção foi Daenerys, que já vinha doente bem antes de ser atacada. Nada parecia fazer sua face recobrar a cor e seu corpo aquecer.
— Ela não fala comigo. Ela fala com você? — Perguntou Jon à Gilly, que era quem cuidava de Daenerys — O que ela tem, me diz?
— Ela não fala com ninguém, Jon. Há uma tristeza muito profunda nela, mas também está envenenada pela lança do vagante branco. Algo a feriu mais do que consigo entender.
— É o calor que tem nela. — Pensava Jon — Os Outros eram o frio e ela era o calor. Eles a feriam mais do que a qualquer pessoa.
Desde o ataque, Daenerys não despertava, mesmo depois de todos os outros estarem acordados. Quando começou a abrir os olhos, foi logo perguntando por seus dragões, mas quando ouviu a resposta, foi como se não reconhecesse mais ninguém. Não falava, não olhava nos olhos e não reagia nem mesmo à dor de suas feridas.
O corte em seu braço a havia feito perder muito sangue, mas não era apenas isso que a enfraquecia. O fogo que havia em seu coração estava se apagando ainda mais rápido sem a presença de Drogon e Viserion.
***
Em uma madrugada, já em casa, Jon acordou com febre e nauseado. Ainda não havia se recuperado totalmente também. Percebeu então uma corrente de ar congelante no quarto e se assustou ao ver Daenerys nua diante da janela aberta. Ele se levantou rapidamente, fechou a janela e a envolveu um manto de peles.
— O que está fazendo, Dany? — Ele segurou o rosto dela, trêmulo e gelado. Ela não tinha expressão e não olhava diretamente para ele, mas para a janela e para o céu enegrecido atrás das vidraças.
— Estou esperando meus filhos voltarem.
A esperança alucinada dela fez Jon se sentir triste e perdido. Vê-la dia após dia na janela esperando os dragões voltarem era angustiante e desesperador. Dany era sua única luz naquela escuridão e estava se apagando. Como uma chama no fim de uma vela, ela estava se desfazendo diante de seus olhos.
— Os dragões estão mortos, Dany.
Ela não respondeu e sequer alterou a expressão vazia em seu rosto. Apenas se afastou dele e foi se deitar na cama. Ela passara os últimos dias perdida em febre e delírios, mal conseguindo se levantar. Gilly a ajudava a caminhar, pois a ferida em sua cabeça, de quando caiu de Drogon, ainda a fazia ter vertigens e vomitar toda vez que se levantava. Passava a maior parte do tempo inconsciente, viajando em sonhos com seus dragões. Ela sentia frio, muito frio, como se estivesse o tempo todo deitada sobre a neve, sendo consumida pelos Outros, sugada pelo gelo da espada que havia entrado em sua pele.
Os Targaryens eram conhecidos por sua resistência. Dificilmente adoeciam e tinham força e saúde como poucos seres humanos no mundo. Mas aquilo, Dany sabia, não era uma doença do corpo, aquilo era magia, a mais vil e perigosa magia que estava entranhando em seu sangue e roubando sua alma.
Jon segurou a vontade de ir até ela, mas estava em conflito consigo mesmo. Poupá-la não a ajudaria, mas também não queria feri-la ainda mais. Decidiu então ir até a lareira e começar a reacender o fogo.
— Eles não morreram. — A voz dela veio como um sopro gelado nos ouvidos dele — Eu os vi voando abaixo do sol, nas campinas e entre a relva. Meus filhos estão vivos, Jon, estão voltando para mim.
Enquanto Jon ajeitava a lenha e tentava não ouvir, Daenerys seguia olhando para o quarto frio e escuro, mas, em vez dele, enxergava uma casa grande em um dia de sol quente, como o sol de Braavos. Uma menininha tímida e de olhos brilhantes saiu de uma porta vermelha soltando uma risada que encheu ouvidos de Dany de música. Era uma criança pequena, muito magra, com os cabelos longos e prateados. Ela corria, levando a mão a uma mariposa que voava à sua frente. Lágrimas continuavam descendo dos olhos de Dany até o sorriso que ela imaginava que tinha em seu rosto.
— Você é a mãe. — Afirmou a menina à Dany — Mãe do fogo!
Naquele sonho, ela caminhou até a criança, vendo a si mesma naqueles traços infantis, e quando estendeu a mão e tocou a mariposa que ela perseguia, o inseto começou a bater as asas muito rápido. A menina sorriu para Daenerys, que viu na criança seu próprio olhar feroz e cruel. E então a mariposa se incendiou entre as duas e o fogo vermelho aumentou até tomar toda a sua visão.
— Eu sou Mão de Dragões. — Repetiu Daenerys, sem saber se sua voz estava soando em sonho ou acordada — Eu tenho o sangue do dragão.
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Nota: Como podem ver, estou tentando tornar os Outros mais malignos, perigosos e violentos do que na série, pois acho eles meio sem graça nela. Nessa fanfic eles afetam sobretudo os dragões e a Dany, justamente por serem opostos (frio e calor, vida e morte, etc...)
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Final alternativo para GOT (concluída)
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