54 - A terceira cabeça do dragão (✓)

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"Mas terá de haver mais um. O dragão tem três cabeças."

Rhaegar Targaryen

***

Ao ouvir a história que os três tinham para contar, Jon se levantou, passando a mão no rosto e andando de um lado para o outro. O turbilhão de pensamentos começou a irritá-lo e seu sangue ferveu de ódio. Sempre quis saber quem era sua mãe, mas aquele não era o melhor momento e a resposta não era o que ele imaginava.

— A rebelião de Robert Baratheon começou porque ele pensou que Lyanna Stark havia sido raptada e violentada por Rhaegar Targaryen. — Explicou Gilly timidamente — Mas Rhaegar e Lyanna fugiram juntos e se casaram. Eu vi nos livros quando Sam e eu estávamos na biblioteca da Cidadela.

— Você é fruto desse casamento, Jon. — Completou Sam — Seu nome é Aegon Targaryen, você é filho de Rhaegar e Lyanna.

— Não. — Respondeu ele em voz baixa, sentindo asco — Eu sou Jon Stark.

— Lyanna pediu a meu pai que protegesse você. — Bran o ignorou — Robert te mataria também, como estava fazendo com todos os Targaryens.

— Eu os renego como pais. — Respondeu Jon, amargo — Elia e os filhos morreram por culpa deles! Daenerys e o irmão foram exilados por culpa deles!

— Rhaegar e Lyanna se amavam. — Disse Sam, com cautela — Como você e Daenerys.

— E por esse amor eles destruíram o destino de milhares de pessoas.

Jon cuspia as palavras com um ódio que nunca pensou que sentiria. Não aceitava essa verdade, muito menos o fato de Ned não ser seu pai. Essa era a única certeza de sua vida e agora caía por terra.

— As coisas feitas por amor podem ser devastadoras. — Bran olhou para ele — Não há como provar que você é Aegon, mas você deve saber que o sangue do dragão também corre nas suas veias. Isso tem um propósito, ainda que você não queira.

— Um propósito? — Perguntou Jon, descrente e irritado.

— Existe magia no sangue de um dragão, assim como existia no sangue dos antigos valirianos. — Explicou o Corvo — Daenerys é a última descendente pura de Valyria, mas você também possui o sangue deles. Vocês dois compartilham a magia pelo sangue.

Jon estava, por fim, se dando conta de que Daenerys era irmã de seu pai. Eles eram parentes próximos e ele havia se casado com ela.

— Isso não foi certo. — Pensou alto.

— Isso é o certo. — Disse Sam — Os Targaryens sabiam e por isso se casavam entre si. A esperança para a primavera reside em vocês dois e em um terceiro.

— Que terceiro?

Sam olhou para Gilly, encorajando-a a falar.

— Eu cresci em uma casa cheia de mulheres e, bem, posso garantir...

— Garantir o quê? — Jon estava impaciente.

— Que Daenerys carrega uma criança em seu ventre.

Nos primeiros segundos em que essa informação entrou nos ouvidos dele, o asco e o ódio que estavam no coração de Jon se mesclaram à ternura. Uma onda de alegria que parecia errado sentir.

— Não. — Sussurrou ele, descrente — Eu sou filho de Ned Stark. Daenerys não pode ter filhos. As verdades são essas.

— O que aconteceu não pode ser mudado. — A voz de Bran continuava a irritar os ouvidos de Jon — Você é filho de quem é, e será pai de uma criança que eu vejo nas chamas e que deverá ser grande também.

— Ela não pode engravidar. — Repetia Jon para si mesmo.

— Eu a vi no mar dothraki. — Relembrou Bran — Ela havia fugido com o dragão, estava doente e o sangue de um feto morto descia por suas pernas. Ela pode engravidar. Ainda não sei como, mas a maldição de Mirri Maz Duur se transformou em uma profecia que começou a se cumprir ainda em Essos.

— Como você não sabe? — Interrompeu Jon — Não está dizendo que pode ver tudo?

— É estranho como funciona, não é? — O corvo sorriu — Tenho certeza do passado, mas não do futuro. Não tenho a precisão de como as coisas serão, pois não tenho controle das escolhas dos seres humanos. A maldição da bruxa tem segredos ainda difíceis de compreender. A sua criança pode nem nascer, Jon, porque uma parte da maldição dizia que Daenerys não conseguiria dar a luz a um filho vivo, então talvez ela possa conceber, mas a criança morra. Então daqui há alguns meses pode ser que eu veja outra coisa nas chamas em vez dos olhos de um terceiro Targaryen, da terceira cabeça do dragão.

Jon foi até a janela escura e olhou para baixo. O vapor de sua respiração nervosa embaçava a vidraça. Gostaria de ter pensado um pouco mais, mas não houve tempo. Os cães latiram e os homens gritaram. Algo estava acontecendo no pátio de Winterfell.

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Nota: Ouçam essa música linda que fala da vinda da vinda de um dragonborn, coisa mais linda do mundo, acho que tem tudo a ver aqui.

Odiei o Jon ser Targaryen na série, mas não tive como tirar isso da história, pois não posso fingir que isso não existe. Provavelmente ele é mesmo um Targaryen. No entanto, farei de um jeito bem diferente, começando pela reação dele à essa informação. Penso que ele não tinha do que se orgulhar nesse parentesco e seria bem mais coerente sua vergonha, a raiva e a negação do que a cara de pastel que ele fez na série.

Não fiz Dany engravidar para ser bonitinho, mas para resolver a terceira cabeça do dragão. É preciso um terceiro Targaryen para isso. Muitos até cogitam nos livros que seria o Tyrion ou o Jovem Griff. Poderia ser outro personagem nessa fanfic? Poderia, mas eu não quero extinguir a casa Targaryen, muito menos privar a Dany de ter uma descendência, alguém a quem ela acredite que possa passar a coroa. Não estou dando spoilers, tudo pode acontecer, até porque não escrevi o final ainda.

Final alternativo para GOT (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora