26 - Juntos

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"As palavras proferidas pelo coração não tem língua que as articule."

Saramago

***

Jon se sentou à frente de Daenerys em uma noite após os acontecimentos no Fosso dos Dragões. Estavam sozinhos em um dos salões mais escuros e sombrios do castelo. A Rainha parecia calma, mas havia nela uma melancolia constante, algo que Jon reconhecia. Era o luto, o frio e cortante dedo da morte pressionando o coração.

Daenerys estava olhando para o nada, distante dali e muito perto ao mesmo tempo. Tantas feridas pulsavam em seu espírito. Pensava em Rhaegal dentro daquele oceano escuro e frio, pensava no lar que não encontrava em nenhuma parte, em nenhum castelo em que entrava e pensava em todas as traições que nunca paravam de acontecer. 

Ela também pensava nas pessoas que estavam sofrendo em Porto Real desde que Cersei a incendiou e de sua parcela de culpa nisso. Pensava no dia da execução e como tudo havia saído de seu controle. Pensava, por fim, em Tyrion e no preço que havia cobrado para crer de novo nele. Ele havia estrangulado a irmã como ela pedira, mas não sabia se isso o havia trazido para ela ou o destruído em vez disso. Ela não fazia ideia em que circunstância ele havia matado a irmã.

— Tyrion a traiu. — Jon estava confuso — E você entrou nas chamas para salvá-lo.

Dany ergueu os olhos lentamente para ele. Seus olhos de primavera. Aquele violeta claro e belo que um beija-flor beijaria, confundindo-os com as flores.

— Você tem família, Jon. — Explicou ela calmamente — Eu sou a última do meu sangue. Tenho de manter as pessoas na minha vida.

— O povo logo vai ver quem você é e os ataques vão cessar. — Disse ele, seguro — Os famintos estão sendo alimentados e as casas estão sendo reconstruídas. Muitas pessoas já tem esperanças em você.

— Há sempre mais a se fazer, sempre pedem mais.

— É preciso estudar uma forma de cuidar dessas pessoas.

Dany assentiu e engoliu a tristeza.

— Tenho navios e ouro. — Explicou, orgulhosa — Eu os alimentarei, ainda que isso custe tudo o que tenho.

Jon deu a ela, pela primeira vez, uma sombra de seu terno sorriso. Era tão raro que sorrisse, tão raro que sentisse vontade de sorrir. Ficou observando-a, suas mãos pequenas e frágeis unidas sobre o colo não denunciavam quão fortes poderiam ser. Quis saber qual seria a sensação de segurá-las, de confortá-las entre as suas.

— Arya quer que voltemos para Winterfell e eu penso que já é hora. — Disse Jon, para a surpresa da Rainha.

Daenerys sentiu-se ainda mais pesarosa por saber que os dois Starks iriam embora. Havia se habituado muito à presença deles. Arya era uma jovem muito inteligente e habilidosa, e havia se dado bem com os dothrakis, algo que Dany achava divertido de ver. E Jon... Ela não sabia dizer, só não queria que ele partisse. Queria pedir para que ficasse, mas não pediu.

— Eu não os impedirei. — Foi o que disse, no fim das contas.

Jon estava ansioso, mas firme na decisão que havia tomado na noite anterior, sobretudo depois do que Arya contou que ouviu dizer a Varys: "Vou confiar nos Starks." e "Eu não preciso manipulá-los, eles verão quem eu sou."

Depois de tudo que a viu fazer em Porto Real, tinha certeza de que deveria fazer sua aposta nela, do mesmo jeito que ela apostava neles. Lutaria contra todo seu orgulho e todo seu medo para fazer isso.

Final alternativo para GOT (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora