"O medo fere mais profundamente que as espadas."
Syrio Forel
***
O alerta soou algum tempo depois, congelando o espírito de todos. Os mortos já eram avistados à distância, correndo rápido na escuridão. Não havia mais para onde fugir. As crianças tremiam ao lado de suas mães e cada pessoa com uma espada na mão se despedia da vida.
Arya e Gendry estavam olhando de cima do muro a formação dos exércitos. Eram milhares e milhares de pessoas armadas com lanças, espadas e flechas. Havia catapultas, fogovivo queimando nas trincheiras de dois metros de profundidade e enormes barricadas de madeira, com afiados espinhos que impediam a passagem dos Outros.
— Alguma vez você viu tanta gente reunida para uma guerra? — Perguntou ele.
— Geralmente essas pessoas estão matando umas as outras, não lutando juntas. — Respondeu Arya.
— Olhe... — Apontou Gendry, com voz falha. Uma massa escura se aproximava ao longe, como lama escorrendo pela encosta — São os Outros...
Arya olhou para aquilo e foi tomada de pavor, então se virou para Gendry, paralisado ao seu lado. Ele estava com o queixo tenso e respirava com força. Ela ficou imaginando que aquela poderia ser a última vez que o via. Estavam sozinhos nas alturas quando ela o puxou pela gola da camisa e juntou sua boca à dele. As mãos do rapaz desceram para sua cintura instintivamente e ela sentiu a língua dele na sua por um instante antes de soltá-lo. Ela o encarou e Gendry estava de olhos arregalados.
— Se quiser continuar de onde paramos, trate de ficar vivo.
E, dizendo isso, ela desceu, puxando-o pela mão sem que ele oferecesse resistência. Gendry a acompanhou, sem conseguir formular qualquer pensamento naquele instante. Porém, ele segurou o martelo na outra mão e se preparou para lutar como nunca por sua vida.
***
Do lado de fora do castelo, Brienne e Podrick cavalgavam até a frente, até onde os nortenhos estavam posicionados. Não se ouvia nada além dos sons dos cavalos riscando o casco no chão e bufando junto aos cavaleiros. Por mais medonho que aquilo fosse, os homens estavam frios e centrados. Eles sabiam que se morressem, morreriam como heróis e que não haveria morte mais louvável para qualquer guerreiro nos últimos milênios.
— Isso está muito estranho. — Disse Podrick, com um arrepio passando por todo o corpo. Um cheiro bizarro pairava no ar, algo apodrecido, mas que parecia se misturar ao hálito de um velho bêbado. A neblina descia sobre eles e o frio enrijecia os músculos.
— Essa não é uma guerra como as outras. — Falou Brienne — Não faça bobagens. Elas podem custar a nossa vida.
— E por que nós estamos na frente?
— Todos os que servem ao Norte tomarão a frente, atrás das valas com fogovivo. — Ela apontou para as chamas altas logo à frente. Eram verdes, muito mais violentas que o fogo comum e poderiam queimar por horas e horas.
— Por que nós? Somos em menor número!
Brienne olhou para ele, impaciente.
— Porque é o nosso dever proteger essas terras! Os imaculados e os dothrakis não tem que morrer por nós. São estrangeiros. Estaremos na primeira fila, logo atrás das barricadas e das trincheiras, depois vem os arqueiros, os dothrakis e imaculados. Por último estarão as catapultas que também usarão fogovivo para atirar bolas de fogo à longas distâncias e a Rainha Daenerys tentará cercar o máximo possível o avanço dos mortos com o Dragão. Isso deve abater uma boa parte do exército deles e poupar o nosso por um tempo.
Brienne olhou para o lado e Tormund piscou para ela, deixando-a nervosa e envergonhada. Focou então na vista à frente, tentando acalmar o cavalo, como os demais cavaleiros estavam fazendo. Todos os garanhões estavam nervosos e, de fato, não se via nenhuma ave ou lebre há semanas. Todos os animais haviam fugido com a aproximação dos mortos.
— Podrick... — Chamou ela, com o peito apertado.
— Sim?
— Eu lhe disse um dia que se ficasse comigo, iria adormecer quase todas as noites com bolhas nas mãos e manchas negras nos braços, e ficaria tão dolorido que quase não dormiria.
— E eu disse que queria isso mesmo. As manchas negras e as bolhas. Quer dizer, não queria, mas queria, milady.
— E eu disse pra não me chamar disso. — Sorriu ela, despedindo-se dele — Você foi o melhor escudeiro de todos, Podrick Payne.
O garoto sorriu, grato, e pegou a espada nas mãos. Nenhum dos dois se falou mais.
***
Daenerys esperava na encosta da montanha com Drogon, a fera negra de olhos em chamas. Os dragões vermelhos de sua armadura reluziam à luz da tocha de fogo que ela usava para clarear o caminho. Braços e tórax estavam protegidos com o aço negro, de curvas escarlates. Gendry havia feito esse presente de agradecimento por tê-lo nomeado Gendry Baratheon.
— Tive medo que não servisse quando estivesse pronta. — Ele havia apontado para a barriga dela, mas Dany não tinha volume ainda. O Norte a enfraquecia e estava emagrecendo em vez de engordar.
— Se sua armadura proteger meu filho, eu serei sempre grata a você.
Dany sentiu o vento gélido mover sua longa trança e trazer seus medos mais profundos. Teria de tomar muito mais cuidado para não cair ou ser atingida, ou a criança não vingaria. Ela sentia que não suportaria perdê-la.
— Meus filhos... — Dany colocou a mão sobre Drogon, sentindo seu calor emanar, então pensou também em Viserion e Rhaegal — Sempre estou levando-os para a morte...
***
Jon estava à frente dos selvagens, com sua armadura cinzenta e o elmo na mão. Parecia muito concentrado, muito certo de que havia vivido para aquele momento. Em sua mente passava sua despedida de Daenerys, seu pedido ao pé do ouvido.
— Volte pra mim...
E ele jurava segundo a segundo que assim seria.
— Vê isso? — Tormund cutucou um homem que estava ao seu lado — O Rei vai na nossa frente nessa guerra, de espada na mão e peito aberto. E a Rainha, que tá prenha, vai montar numa porra de um dragão e se enfiar no meio dos Outros! Nunca gostei das majestades desse lado, mas devo admitir que gosto desses dois desgraçados.
Uma segunda corneta soou na torre de vigilância de um dos castelos. Era a hora de todos se posicionarem para o ataque. Em questão de minutos haveria um banho de sangue na neve, o maior massacre dos últimos tempos.
Jon puxou sua espada e todos os homens e mulheres fizeram o mesmo. Cada movimento dele era uma ordem. O som metálico, frio e medonho foi repetido por milhares de espadas. Então ele olhou para Garralonga brilhante e assassina diante de si, e olhou para o lado para ter uma última visão de seus homens. Muitos deles, Jon nunca mais voltaria a ver.
Ele voltou a olhar para frente, colocou o elmo na cabeça e apertou o punho na espada. Foi quando a voz de alguém chiou logo atrás:
— Que os deuses nos protejam.
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Nota: A Grande Guerra será dividida em atos, ainda não sei quantos. Estou mostrando outros pontos de vista pra começar a dar um fechamento para personagens que eu não falo tanto, como Podrick, Lyanna, Cão, etc.
Penso que uma das grandes diferenças é o Jon no chão, ele não voa em dragão nenhum. Acho bem mais emocionante ele de espada na mão. Foi até algo que o Kit reclamou. Também resolvi fazer a Dany usar armadura porque foi meu sonho ver ela usando uma na série.
Fiz uma formação um pouco diferente dos exércitos. Eles estão organizados em camadas e não grupos. Criaram defesas cavando valas, usando fogovivo, catapultas, etc. Achei que na série eles não se protegeram tanto, então incrementei um pouquinho.
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Final alternativo para GOT (concluída)
FanficVocê também odiou o final de GOT? Então venha aliviar seu coração com esse final alternativo. Essa história é sobretudo para os fãs de Daenerys Targaryen, mas todos os personagens tiveram seus destinos reformulados. Busquei ser o mais coerente e fi...