43 - O julgamento do Rei

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"O caos não é um poço. O caos é uma escada. Muitos que tentam escalá-lo falham e nunca mais vão tentar novamente. O outono os quebra. E alguns têm a chance de escalar, mas se recusam. Eles se apegam ao reino, ou os deuses, ou amor... ilusões. Apenas a escada é real. A escalada é tudo o que existe."

Petyr Baelish

***

Jon se levantou pouco antes do amanhecer e foi até a janela observar a densa neblina que se deitava sobre a paisagem nortenha. Dany estava dormindo em sua cama, com o cobertor até a cintura e as mãos unidas embaixo da bochecha. Um dos seios estava visível e por suas costas nuas se estendiam as mechas do cabelo bagunçado.

Sorriu para si mesmo enquanto cobria seu próprio torso nu com a camisa. Jon conservava muito vivas as lembranças daquela noite de núpcias, dos lábios quentes dela em seu pescoço, dos gemidos e das mãos agarradas em seu traseiro, puxando-o para si. Os músculos de suas pernas e abdome estavam fadigados do jeito que gostava de percebê-los depois de uma noite com ela. Ainda estaria na cama acalentando sua doce esposa nos braços se o ardor das cicatrizes em seu peito não o tivesse acordado.

— Um golpe no coração. — Ele se lembrou do assombro de Dany ao ouvir sua história naquela noite — Como alguém sobrevive a um golpe no coração?

— Não sobrevive. — Disse ele — Melisandre me trouxe de volta, quando meu corpo já estava frio... Não que eu quisesse voltar.

Jon nunca havia desejado voltar da morte, não depois de ter sido traído daquela forma. Ele contou tudo à Daenerys, toda a dor de acordar, todo desespero de morrer, toda a raiva que o corroía desde então. Queria que ela soubesse de tudo, de suas estranhezas, de sua luta, de sua obscuridade e de cada cicatriz visível e invisível. Ele pertencia à ela, assim como ela pertencia à ele. Antes do que os esperava, era preciso sinceridade.

— Você não voltou atoa, Jon. — Ela havia dito, deitando com a pele suave sobre suas cicatrizes, em um aconchego excitante enquanto lhe sussurrava ao ouvido — O mundo saberá de você.

Ainda pensando na conversa daquela noite, no casamento e na noite de núpcias, Jon deu as costas à imagem adormecida da esposa assim que terminou de vestir as roupas e olhou seu reflexo no espelho. Os cabelos escuros e a barba grossa o confundiram momentaneamente com a lembrança que tinha de seu pai. Era muito mais jovem do que ele era quando morreu, mais mal humorado também, mas se sentia mais parecido com Ned do que qualquer um de seus irmãos. Talvez Arya fosse uma concorrente, mas ainda assim não se parecia tanto.

Jon sentiu o peso do casamento logo pela manhã. Era agora um homem de família, um marido e um líder. Não era mais um bastardo envergonhado e solitário. Isso significava que precisava defender aqueles que amava e vingar a morte de seu pai e de seus irmãos, pois isso significava sua honra, sua força e era sua responsabilidade. Estava começando a escrever uma nova história e precisava tomar decisões difíceis.

— Dany entenderá, eu sei que sim. — Pensou ele — Ela faria o mesmo pelos que ama.

Engolindo o luto, como fazia todos os dias pela manhã, Jon abriu a porta e saiu para os corredores. Acordaria suas irmãs e reuniria os nortenhos o mais rápido possível. Não morreria uma segunda vez por traição.

***

Pouco mais tarde, quando Daenerys acordou, viu-se sozinha e estranhou. Ainda era muito cedo para que Jon precisasse sair. Ainda assim, ela se vestiu com tranquilidade, sem qualquer pensamento a incomodar sua mente. Estava leve e feliz como não imaginava que um dia seria capaz de estar.

Final alternativo para GOT (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora