38 - Winterfell

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"Frio e úmido, é como os sulistas veem o Norte. Mas sem o frio, um homem não valoriza o fogo em sua lareira. Sem a chuva, um homem não valoriza o teto sobre sua cabeça. Que o Sul fique com o seu sol, as flores e afetações. Nós, nortenhos, temos um lar."

Jon Snow

***

O Norte era uma imensa região, apesar de pouco povoada em comparação ao Sul. Seu clima era, em geral, áspero de se sentir, mas variava de temperado-marítimo em torno do Gargalo, a temperado-gelado em torno de Winterfell, e a subártico na Muralha. As terras que iam do sul de Winterfell até o Gargalo eram quase tão férteis quanto as Terras Fluviais ao sul, sendo a região agrícola mais produtiva do Norte. O próprio Gargalo era cheio de pântanos. A queda de neve geralmente aumentava à medida que se adentrava para norte ao longo da Estrada do Rei.

Naquele dia de neve, os nortenhos tumultuaram as estradas. Os navios de Daenerys haviam ancorado em Porto Branco, causando pavor com seus imensos estandartes com dragões negros e vermelhos, algo que ninguém via há muitos anos. O boato de que o Rei do Norte estava se aproximando com um grupo de estrangeiros para aquelas terras se espalhou rapidamente por toda a região, gerando curiosidade e revolta.

Os imaculados e dothraki tomavam todo o horizonte que os olhos alcançavam. Nem o mais idoso dos nortenhos havia visto um exército tão grande em toda a sua vida. Mas o que a maioria esperava era apenas vê-la: a Rainha Dragão. Alguns sonhavam em atirar-lhe uma flecha, outros apenas desejavam ver com seus próprios olhos um maldito Targaryen outra vez. Porém, quando Drogon e Viserion sobrevoaram suas casas, não sobrou dignidade em qualquer humano ou animal daquela terra. Os dragões, aqueles deuses assassinos, dobraram seus joelhos com um simples bater das asas, fazendo gritos e choros serem ouvidos em todos os cantos do Norte.

— Ela chegou, milady. — Disse Mindinho aos ouvidos de Sansa na tarde em que Winterfell foi tomada pelos exércitos de Daenerys. Eles estavam sobre as muralhas do castelo, observando a neve ao longe — Jon e Arya fazem parte da escolta e não creio que seja apenas gratidão pela ajuda que ela vem oferecer.

— Eles gostam dela. — Deduziu Sansa, nervosa.

— Jon e Arya sempre foram parecidos.

— Mas eu não me pareço com eles.

— Pensa que os dois seriam mais felizes se Robb, Bran ou mesmo Rickon estivesse vivo no seu lugar?

Sansa se virou para ele com pesar. A forma como Mindinho colocava suas próprias ideias na mente das pessoas, fazendo-as pensar que eram delas mesmas, era sua maior arma. 

— Isso pode ser uma verdade a se aceitar. — Ela respondeu com frieza — Parece que o único que me resta é você, Lorde Baelish.

— Não, não sou apenas eu. — Ele passou de leve os dedos pelo rosto dela. Sansa sentiu um arrepio de repulsa, mas não se afastou — A maioria dos nortenhos preferem você. Eles a querem como a Rainha do Norte.

— E como sabe?

— As pessoas me revelam segredos. — O sussurro dele era doce como uma melodia — Tudo que precisa saber é que comecei o meu trabalho com eles. Retomaremos o Norte pra você.

— E o que acontecerá com meus irmãos?

— Você se preocupa mais com eles do que eles com você, minha querida. — A expressão de falsa pena no rosto dele a irritou — Não se tornará rainha se continuar agindo como uma garotinha inocente.

Ela o encarou e sorriu.

— Nunca esteve tão certo, Lorde Baelish.

***

A neve começou a cair no exato momento em que Sansa conheceu Daenerys. A jovem Stark estava do lado de fora, nos portões de entrada, como um dia seus pais estiveram para receber o Rei Robert Baratheon e toda sua família. Agora, no entanto, ela era a única Stark de pé ali, rodeada pelos lordes e soldados nortenhos, agindo com a cordialidade que aprendera com sua mãe. Havia uma grande melancolia em tudo isso.

Assim que desceram do cavalo, Jon foi até Daenerys, que parecia intimidada pelo frio. Ela nunca havia sentido nada parecido, por isso seu corpo se contorcia com calafrios. Ele lhe deu um sorriso encorajador e ofereceu o braço à ela. Dany o segurou de bom grado, sentindo que Jon queria que ela se sentisse bem ali.

— Essa foi a minha casa a vida toda. — Ele lhe disse baixinho enquanto caminhavam até Sansa, em frente ao castelo — Eu fui muito feliz aqui, Dany... E, apesar de tudo o que nos espera, quero você seja também.

Daenerys observou todo o lugar, com cores cinzentas e brancas, sentiu o vento frio e a neve que tocava sua pele, e entendeu que não seria muito fácil para um dragão ser feliz ali. Ela também conseguia sentir o mal estar que um sulista causava nos nortenhos. Os homens e as mulheres, ao redor da única Stark ali de pé, pareciam desafiadores. A menina ruiva, de tristes olhos azuis, não se parecia com Jon, mas seu rosto era tão duro quanto o dele.

— Winterfell é sua, majestade. — Disse Sansa, com gentileza, após uma educada reverência, assim que Daenerys se aproximou dela — Agradecemos por se juntar a nós na guerra que se aproxima.

— E eu agradeço por me receber em sua casa, Lady Stark. — Dany respondeu com seriedade e um longo silêncio se fez naquele instante.

Enquanto se encaravam, Dany sentia que algo estava acontecendo e Sansa também. Algo que não poderia ser dito em voz alta. Era como se seus olhos conversassem, discutissem, entrassem em acordos silenciosos...

Lorde Baelish não deixou de encarar a Rainha Dragão durante toda a recepção, o que não agradou a Jon. Ele já não gostava da forma como Mindinho olhava para Sansa e agora tinha o dobro de motivos para querer matá-lo ao notar o mesmo olhar direcionado à Daenerys.

Winterfell era calorosa e acolhedora, ainda que aquela parte do continente fosse intensamente fria. Além de Lady Sansa, também a pequena Lyanna Mormont, da Ilha dos Ursos, e Sor Rodrick Cassel, mestre de armas e castelão de Winterfell, seguiam lado deles pelos corredores.

— Recebemos o corvo há alguns dias e fizemos todos os preparativos para que o casamento ocorra amanhã mesmo. — Disse Mindinho, com um sorriso torto — Supondo que ainda ocorrerá.

Daenerys franziu o cenho enquanto caminhavam para o interior do imenso castelo cinzento. Jon se mantinha ao seu lado e ela continuava segurando em seu braço, um gesto que, por si só, respondia à pergunta de Lorde Baelish.

— E por qual razão o casamento não ocorreria, milorde? — Perguntou Daenerys.

— Perdoe-me se estou sendo indiscreto, majestade. É que noivados costumam ser tão frágeis quanto a vida. — Brincou ele, mas Dany não mudou sua fria expressão — Os senhores saíram da capital há cerca de um mês, não é? Muitas coisas poderiam acontecer nesse tempo no mar.

— O casamento ocorrerá. — Respondeu Jon, com firmeza, colocando a mão sobre a de Dany para que todos vissem — Uniremos o Norte e o Sul, como deve ser, pelo bem do povo.

 Mindinho devolveu um pequeno e perigoso sorriso.

— É o que todos queremos... o bem do povo.

___

Nota: Apesar de manter certo estranhamento no encontro de Sansa e Dany, cortei o desdém da Sansa e a puxação de saco da Daenerys. Acho que nenhuma das duas atitudes fez sentido na série. Sansa sempre foi muito polida, pois acima de tudo ela é uma lady. E a Dany nunca puxou saco de ninguém, ela sempre agiu com cautela e intimidação.

Na edição que fiz nesse capítulo acrescentei um pouco mais de pulso firme da parte de Jon, no sentido de apresentar Winterfell à Daenerys como sua casa, levá-la pelo braço, desejar que ela se sentisse bem ali. Na série ele largou ela de lado como se não fosse nada.

Final alternativo para GOT (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora