101 - Os ventos do inverno (✓)

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"Quando escapamos das garras da morte, nos resta suportar as garras da vida."

Stechitti

***

A Longa Noite se desfazia, minuto a minuto, como a fria névoa da manhã com o raiar do sol, mas o povo sofrido não acreditava mais em finais felizes. Uma sombra de desconfiança seguia os humanos sobreviventes em cada um de seus passos. 

De fato não havia felicidade em ver seus lares destroçados e seus filhos mortos. Não havia felicidade em olhar para as casas desabadas, os navios afundados e a natureza morta. Eles estavam vivos para recomeçar, mas sequer sabiam por onde.

— E se os deuses realmente nos odeiam? E se nos abandonaram para sempre?

Sentindo o desamparo pesar, muitos cidadãos se juntaram às sacerdotisas vermelhas que oravam ao Deus da Luz nos montes enquanto a manhã nascia naquela terra. A Fé dos Sete dava sinais de que perderia espaço no Sul tanto quanto os Deuses Antigos haviam perdido no Norte. Uma revolução religiosa também marcaria a nova era.

Após o fim da guerra, enquanto a claridade se embrenhava no mundo, Jon tentou se aproximar de Daenerys, mas algo pareceu estranho nela e deteve seus passos. Apesar de todo o alívio pela sobrevivência um do outro, quando as linhas vermelhas nos olhos dela encontraram as linhas azuis nos olhos dele, ambos se repeliram.

— Jon? — Ela olhava, mas não conseguia reconhecê-lo. Não parecia ele. Estendeu a mão, tentando tocá-lo, mas sentiu um arrepio e logo encolheu os dedos de volta.

A mente de Jon também ficou perdida e ele não conseguiu dar um passo a mais, ainda que quisesse muito. O Gelo e o Fogo terminavam aquela canção como a lua e o sol, um obrigado a viver no céu diurno e na claridade aquecida, e o outro no céu noturno e na escuridão fria.

Algo muito estranho prosseguiu dentro deles nos seguintes dias. Jon tinha instantes de raiva em que qualquer ser humano o incomodava, além de pesadelos com todas as cenas que o Rei da Noite havia mostrado a ele. Daenerys, por sua vez, tinha momentos de completo vazio e o local em que a espada de gelo havia entrado em seu coração ficava frio e azulado como um hematoma. Nesse instante, ela perdia todo o sentido de sua existência.

Sem saber como lidar um com o outro, os dois se dividiram com os exércitos para verificar as perdas. Logo perceberam que Westeros havia se tornado um deserto. Havia cadáveres aos montes, muito fogo, muita neve e cinzas. Até mesmo os mares estavam sujos e havia muitos animais mortos. A população havia se reduzido a centésima parte do que foi um dia em todo o planeta. Os inimigos não tinham mais forças e só podiam escolher a morte ou a rendição. Apesar da distância entre os dois, Jon e Daenerys se apoiavam incondicionalmente em suas decisões.

— Se Jon quer matá-los. — Dizia Daenerys aos seus homens — Então vamos matá-los. Dizimaremos toda a terra se for necessário, mas não restará um só inimigo de dragões.

***

Os olhos de Arya se abriram para a escuridão daquela sala sinistra. Despertou com a sensação de ter dormido por dias e dias, ainda que não se lembrasse de se deitar para adormecer. Olhou para os lados e se percebeu em um cômodo escuro, úmido e abafado. Estava deitada no chão de pedra escura e havia milhares de rostos pelas paredes. Se levantou, identificando que estava de volta à casa do Preto e Branco em Braavos. Como isso havia acontecido seria sempre um mistério para ela. A última coisa da qual se lembrava era de estar diante de Jaqen H'ghar e de diversos homens sem rosto na batalha em Porto Real.

— Quem é você? — Perguntou uma voz masculina desconhecida.

Ela caminhou sem rumo, sentindo a cabeça rodar. Suas vestes eram trapos e seus cabelos escuros e lisos estavam soltos, cobrindo seus olhos claros de loba.

Final alternativo para GOT (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora