37 - Irmãos Reed

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"Nunca tema a escuridão. As árvores mais fortes estão enraizadas nos lugares mais escuros da terra. A escuridão será seu manto, seu escudo, seu leite materno. A escuridão o tornará forte."

Lorde Brynden

***

A neve caía com força e os ossos de Meera Reed doíam como se fossem se quebrar. Bran e ela estavam muito além da muralha, sob uma antiga árvore que não os protegeria de um ataque. Meera chorava pelo irmão Jojen e começava a delirar pela fome. Magra e pequena para a idade, ela estava minguando cada vez mais, afundando seus belos olhos verdes nas órbitas de seu crânio. Nem mesmo era possível ver seus cabelos castanhos ao longe, pois estavam cobertos pela neve.

— Jojen era o herdeiro da minha casa, meu único irmão. — Meera se lembrava, deixando as lágrimas quentes escorrerem e congelarem em seu rosto pálido — Era tão sério e tão sábio que a Ama dos Starks o chamava de "pequeno avô".

Ao lado dela, Bran dormia, ou fingia dormir, ela nem sabia mais. Por vezes, perguntava-se se realmente o Stark se importava com sua dor e com o fato de que ela estava morrendo como o irmão Jojen. Bran não parecia o mesmo há muitas luas.

— Sou o Corvo agora. — Ele dizia.

Enquanto Meera congelava, ele não sentia nada além dos ecos do passado e do futuro a rodear-lhe os ouvidos. Sonhava com o fogo a incendiar tudo, mas não estava queimando, pois voava acima das chamas.

— Quando voarei? — Perguntou, sendo respondido com suas visões do futuro. O que viu o encheu de esperanças.

Mergulhado em sonhos, Bran sequer se lembrava de onde seu corpo estava. Ele viajava pelo futuro, tentando descobrir o que fazer. Logo se viu em Winterfell, dentro de um lobo gigante, passando pelos corredores escuros. Um choro de criança em seus ouvidos o arrepiou. Quando se deu conta, estava correndo com as patas do lobo e abocanhando ferozmente o pescoço do bebê de olhos cinzentos. O choro parou, uma mulher gritou e o gosto do sangue quente desceu por sua garganta.

— Não! — Bran abriu os olhos de uma só vez, respirando com força. Seu coração batia forte. Ele se deu conta devagar de que estava na neve, olhando para o céu tomado de nuvens escuras. Meera Reed apertava seu braço com força, mas estava tão frio que ele mal sentia.

— Precisamos de ajuda. — Disse ela em desespero, ignorando o pesadelo de Bran — Nunca vou conseguir te levar sozinha, ainda estamos muito longe.

— Me deixe aqui. — Respondeu ele automaticamente — Atravesse a muralha e procure Jon em Winterfell.

Bran estava esperando o momento certo para pedir à Meera. Em suas visões, tinha a exata noção do tempo para interferir no presente. Tinha de deter o grande perigo que viria sobre o mundo e apenas conseguiria se voltasse para casa, mas não podia voltar com mais ninguém além de Jon. 

— Será meu glorioso começo — pensava ele — ou meu trágico fim.

Meera estava confusa, trêmula e faminta. Quase pensou estar sonhando com Bran e não falando com ele. Ela estava tão fora de si e tão exausta que começou a ver manchas escuras, como pássaros voando diante de si. Apertou os olhos com força e observou a árvore que os escondia, entendendo que ela não os protegeria da morte.

— Nunca mais vou te encontrar, não vou saber o caminho. — Sussurrou desesperada.

— Jon saberá. Agora é melhor partir. Não terei muito tempo até os Outros chegarem.

Bran a encarou com tanta certeza que ela não quis discutir. Então, ainda que relutante, Meera o deixou e se pôs a correr. O ar faltava em seus pulmões enquanto ela tentava enxergar o caminho. Era um deserto de gelo infinito.

— Os Outros... — Refletia ela. Tinha de se lembrar para contar aos que encontrasse na muralha — Eles são como demônios feitos de gelo, sem calor humano, sem emoções que nós compartilhamos. Suas armas são finas como navalhas... eles estrangulam, são venenosos... eles congelam o coração do homem...

Meera corria e ofegava, sempre com a sensação de que algum monstro a esfaquearia. Em determinado momento, tropeçou e quase caiu com o rosto na neve. Ouviu então um uivo distante e sentiu todo o corpo se arrepiar. Talvez fosse apenas um delírio, havia tido muitos nos últimos dias. Andava febril, trêmula e confusa. Nada parecia muito real desde a morte de seu irmão.

— Não posso parar agora. — Ela se pôs a correr novamente, buscando lembrar mais detalhes — Os Outros vivem nas Terras do Sempre Inverno e lutam com armaduras brancas e translúcidas que se camuflam na neve. São um enigma tão grande quanto as Crianças da Floresta. Eles podem reviver os mortos para lutar em suas guerras e por isso são tão perigosos. O Rei deles quer tomar o mundo para criar uma noite sem fim, a Longa Noite.

Horas depois, quando Meera avistou a muralha, ela ainda lhe parecia distante demais, fazendo sua alma se encher da mais terrível angústia. Teria muito que andar e suas pernas pareciam pesar dez vezes mais que o normal. Seu rosto estava ardendo, muito queimado pelo frio e ela sentia uma onda de desespero maior que tudo que já sentira, um frio tão intenso que seus pulmões doíam ao respirar.

— Os Outros estão chegando.

___

Nota: Diferente da série, Bran vai demorar mais a chegar à Winterfell. Inverti a ordem desse acontecimento e de outros para ajeitar outros pontos da história. Como veem eu fiz a morte de Jaime e Cersei bem antes, fiz a Arya ir até o Jon antes de ir até a Sansa, e também mantive o Mindinho mais tempo para que Daenerys o conhecesse. Estou dando uma reorganizada na história até certo ponto, tentando aproveitar o que os roteiristas fizeram até me desligar totalmente da história, que é meu objetivo quando estivermos chegando ao final.

Final alternativo para GOT (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora