32 - Os sonhos de Jon

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"Um beijo, afinal de contas, o que é? Um juramento feito um pouco mais de perto, uma promessa."

Edmond Rostand

***

Enquanto tomavam o café da manhã em um dia frio na capital, Davos e Jon conversavam sobre a Rainha. Não havia ninguém com eles na mesa, então podiam falar despreocupadamente.

— Se ela quer você reinando ao lado dela, só pode ser por dois motivos. — Avaliou Davos — Ou ela pensa que não pode domar o Norte sem sua ajuda, ou ela gosta de você.

— A primeira opção é a óbvia. — Respondeu Jon, analisando as coisas. — Mas ela conseguiria conquistar os nortenhos sozinha, ela tem um bom coração.

— Vejo você encarar esse bom coração dela o tempo todo. — Riu Sor Davos — Ela percebeu para onde você tem olhado, precisa disfarçar melhor.

— Eu sei. — Jon baixou a cabeça e riu.

Ainda se sentia confuso. Sabia que precisava separar o que era um acordo político do que era um casamento, mas quase nunca conseguia. Durante aqueles dias, Dany e ele sempre conversavam, faziam planos para o reino, buscando formas de manter a paz no Norte e no Sul, caso sobrevivessem à Grande Guerra, obviamente. Ele conseguia manter a conversa política, mas ela sempre acabava sorrindo uma vez ou outra e isso bastava para desconcentrá-lo. Gostava de estar com ela, de olhar para ela, de planejar ações para o reino com ela, mas principalmente gostava de imaginá-la como sua mulher, e se pegava constantemente imaginando-a nua em sua cama.

— Não vá achando que ela não sabe o que você pensa. — Davos o alertava — Algumas mulheres não são bobas, e essa obviamente não é.

— Se eu apenas me ajoelhasse, não teria ideia nenhuma passando pela minha cabeça. — Jon passou a mão pelo rosto, sentindo que precisava refrescar o espírito — Mas ela não quis, você sabe.

— Sei. — Davos se divertia com a situação — Ela preferiu se casar com você. Sei como isso mexe com a cabeça de um homem. Precisa descobrir se isso irá funcionar apenas como um acordo político ou não.

— E se não for apenas político?

Davos sorriu de lado.

— Aí acho que você saberá o que fazer, não é?

***

Naquela noite, enquanto caminhavam para as escadas da torre que levavam aos aposentos reais, Jon e Dany conversavam sobre a Grande Guerra. Jon não conseguia deixar de parecer temeroso conforme os dias se passavam. Ele imaginava o Rei da Noite e os Outros a cada dia mais perto do Norte.

— Nós vamos vencer. — Acreditava ela — Teremos todos os guerreiros de Westeros e os melhores de Essos lutando juntos.

— Você não viu com os próprios olhos, Dany. — Cada traço do rosto dele revelava a tensão em que estava mergulhado — Quem não viu, não tem o mesmo medo. Nem minha irmã Sansa, que está ao lado da morte, sente o mesmo medo.

— Medo... — Daenerys desviou o olhar, entristecida, enquanto diminuía o passo — Medo foi o que senti a vida inteira, Jon. Não pense que duvido de você, que não sei que estou caminhando para um perigo mortal com todo o meu khalasar, com os imaculados e com todas as pessoas que acreditam em mim. Medo é tudo que sinto ao pensar que estou indo com meus filhos e com meu povo para a morte depois de termos conquistado o Trono de Ferro. Medo é tudo que sinto desde que perdi Rhaegal.

Jon parou, ficou de frente para ela e pegou sua mão direita entre as dele. Estavam ao pé da escadaria. Se não tivesse ficado tão próxima dele naqueles tempos, Dany não conseguiria ver amabilidade por trás da fisionomia severa de Jon. Até mesmo os rudes calos das mãos dele lhe pareceram suaves ao segurá-la.

— Queria garantir que tudo vai ficar bem, — sua voz grave soou terna — mas sabe que não posso.

Ela respirou fundo e engoliu o medo para lhe dar um sorriso.

— Todo homem deve servir e todo homem deve morrer, Jon. Mas, antes, todo homem deve viver. Mesmo que o medo exista, mesmo que estejamos correndo na direção exata da morte, devo acreditar que vamos vencer.

Jon mergulhou no olhar dela por algum tempo, desejando-a para si, até sua mente castigá-lo duramente com a lembrança de que ele era um bastardo e não um príncipe, um protetor do reino e não um homem livre. O papel que estava desempenhando o incomodou. Precisava se colocar no lugar que era devido e parar de brincar de ser um jovem tolo que pode se dar ao luxo de sonhar.

— Você está bem? — Perguntou ela, quando Jon soltou sua mão e desviou os olhos.

— Não. — Ele deixou sair de uma só vez — Esse casamento... Estamos fazendo o certo? 

Daenerys, que não conhecia os traumas e complexos de Jon, ficou surpresa com sua dúvida. Muitos homens haviam se esforçado no passado para convencê-la a se casar e, aqueles com os quais se casou, só viam vantagens nessa união, fosse por questões políticas ou sexuais. Não conseguia entender o que se passava, mas tinha certeza de que Jon não era indiferente a ela.

— Eu cresci rodeada por homens, Jon. — Sussurrou ela, se aproximando dele — Aprendi ainda menina a notar quando algum me desejava.

Ele sentiu o coração dar uma forte batida e seu rosto queimar com a surpresa das palavras dela. Se culpou por ser tão fraco e deixar seu desejo tão evidente.

— Você me pergunta se é certo, mas sei pelos seus olhares que eu lhe agrado. — A tranquilidade nada sutil de Dany o desconcertava — Já pensou que eu posso querer ser sua mulher e não apenas sua Rainha? Passar não apenas os dias, mas também as noites com você? — Dany colocou a mão de leve em seu peito e sua boca se elevou próxima à dele — Gostaria disso?

Jon sentiu uma tensão na virilha quando os quadris dela se aproximaram dos seus. Ele não entendia, mas Dany concluíra que Varys estava certo, que Jon colaboraria melhor por amor. Mas também não era nada desagradável para ela a ideia de se envolver intimamente com o nortenho. Jon agradava os olhos dela, tinha um corpo tentador e braços que ela gostaria de sentir ao seu redor. Ele também era gentil, criado com modos de cavalheiro, um homem completamente diferente dos selvagens, mercenários e escravagistas aos quais estava habituada Além do Mar Estreito. Ela gostaria muito de saber a diferença que esses homens tinham na cama.

— Sempre lutamos sozinhos, Jon. — O ar doce que saía da boca dela tocava com suavidade os lábios dele — Por que precisamos continuar sozinhos?

Jon levou a mão ao rosto de Dany e se inclinou para ela, olhando desejoso para seus lábios entreabertos. Era tão tentadora que o fazia brigar consigo mesmo, ficando perdido entre os pensamentos racionais e a luxúria. Quando acariciou a maçã do rosto dela com o polegar e Dany sorriu, Jon não tinha mais como enxergar ou pensar em nada que não fosse a mulher à sua frente.

Ele nunca soube dizer em que momento avançou em busca de um beijo ou quando sua língua envolveu a dela, quente como um banho de sol. Quando se deu conta, já estava envolvendo fortemente a cintura daquela Rainha com os braços, tendo os seios dela pressionados contra o peito.

___

Nota: Acho legal colocar cenas em que eles realmente conversam sobre o reino, planejam e com isso também vão se conhecendo. Não tivemos nada parecido na série pelo que eu me lembro. E sobre o beijo deles, eu sempre quis que tivessem criado uma cena apenas para o primeiro beijo e não fossem logo para o sexo. Povo apressado hausahsuahs

Final alternativo para GOT (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora