96 - Os últimos caminhos (✓)

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"Todos os caminhos são os mesmos, conduzem ao nada. São caminhos que vão através do mato. A única questão é se o caminho tem um significado. Se o tiver, é um bom caminho. Se não, não tem utilidade. Se o caminho é o amor, o fim não tem importância, o processo terá coração."

Leo Buscaglia

***

O corpo de Jon foi tomado de um ódio mortal quando olhou para aquele povo faminto e furioso. Toda a sua vida havia lutado para proteger as pessoas comuns. Havia se tornado um patrulheiro para ser o escudo que protege a humanidade e agora estava sendo morto pela mesma gente que tanto jurou defender.

Quando o homem puxou a corda da forca, Jon sentiu seu pescoço se apertar e os pés saindo do chão. Sua cabeça parecia prestes a explodir com a pressão e, em um impulso, ele balançou as pernas em desespero e deu um chute certeiro no nariz de seu carrasco, que caiu para trás, soltando a corda.

Jon caiu no chão, tossindo e com ânsia de vômito. Ele mal conseguia respirar ou se erguer, pois suas mãos estavam amarradas. O homem que havia sido golpeado, se levantou e cuspiu um dente antes de meter um chute no rosto de Jon, que sentiu o nariz quebrar.

— Não adianta lutar, maldito! — Disse o homem — Você está sozinho!

A última visão que Jon teve, foi das pessoas de olhos fundos vindo em sua direção, furiosas, e dos cadáveres enforcados nos galhos acima dele. Tudo depois disso foi apenas dor. Estava sendo espancado, linchado pelo povo como se fosse um bandido.

Então ele ouviu gritos ao longe e um rugido feroz, mas não soube mais se estava dormindo ou acordado. Ficou perdido entre delírios e febre por um bom tempo.

— Eu lutei minha vida inteira... — Delirou Jon em um longo pesadelo — Abdiquei de todos os meus sonhos... Tudo pelo povo... Tudo...

Quando abriu os olhos, parecia ter se passado muito tempo e Jon se assustou por estar vivo. Seu corpo doía de um jeito quase insuportável e ele não conseguia se mexer. Havia cadáveres carbonizados sobre ele e fogo queimando em toda a parte. O cheiro de corpos queimados embrulhava seu estômago e o som do fogo estalando na madeira denunciava que algum ataque havia ocorrido. 

Seu linchamento havia sido interrompido e ele podia ver quem era o responsável. O estranho e conhecido ser caminhava pela cidade, era um ancião demoníaco de armadura translúcida e cabelos brancos.

Jon arregalou os olhos e trincou os dentes, mas não se mexeu, aproveitando que os corpos dos cidadãos o escondiam. O Rei da Noite caminhava junto dos vagantes brancos, fazendo os cadáveres ressuscitarem para se juntar a seu exército de mortos.

Jon ouviu um rugido feroz, mas notou que não era Drogon. O dragão esquelético cuspia fogo azul e estava queimando as casas da vila, arrancando os telhados com suas garras ossudas.

— Rhaegal? — Jon se perguntou. Aquilo não parecia possível.

Ele sabia que não podia fazer nada, então fechou os olhos e fingiu que estava morto, o que não foi difícil, pois se sentia praticamente assim. Deve ter desmaiado outra vez, pois quando abriu os olhos, a praça estava vazia.

Ele empurrou os cadáveres queimados que o cobriam com as últimas forças que tinha e se ergueu, andando com dificuldade. Foi até um pedaço de madeira que queimava e colocou as cordas das mãos para se dissolverem no fogo. Segurou o grito na garganta quando a pele de suas mãos foi tostada e arrebentou o resto das cordas, se libertando finalmente.

Jon respirou fundo, ainda sentindo a garganta doer pela corda que havia apertado seu pescoço. Aquela era uma sensação que jamais esqueceria.

Ele caminhou pela escuridão deserta, pegando uma espada qualquer que jazia no chão, pois não sabia mais do paradeiro de Garralonga. Mancando, solitário e exausto, ele tomou o rumo da primeira estrada que viu à frente. Encontraria o Rei da Noite para sua última batalha. Esse sempre havia sido seu destino.

Final alternativo para GOT (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora