31 - A teia da Aranha

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"Não tenho nenhum feroz mercenário para me proteger, nenhum valente irmão para me vingar, tenho apenas alguns passarinhos que segredam aos meus ouvidos. Com esses segredos tenho de comprar de novo a vida todos os dias."

Varys, A Tormenta de Espadas

***

Varys passava os dias a observar a relação de Jon e Daenerys. Era nítido que se desejavam e que estavam a cada dia mais próximos. Mas os passarinhos de Varys contavam que os dois não falavam muito do casamento de forma romântica. Quando se encontravam, era apenas para conversar sobre o futuro do reino.

Jon era o maior foco de Varys no momento. O conselheiro estava se dando conta de que os sussurros não estavam fluindo nos ouvidos de Daenerys. Dificilmente conseguia convencê-la, mas acreditava que uma mulher apaixonada ouviria sempre o homem que amava. Jon seria uma ponte para seus conselhos chegarem ao coração dela, pois via no nortenho uma imagem muito semelhante a do bondoso Ned Stark.

Varys estava sobretudo preocupado com o que encontrariam no Norte. Estando sempre um passo à frente de todos, já previa as atitudes de Sansa e de Lorde Baelish. Por isso mesmo sabia que precisava fazer Jon voltar completamente envolvido de amor e adoração por Daenerys, ou poderia ficar do lado da irmã. Se isso acontecesse, os dragões fariam de todos um belo jantar. A melhor forma de enlaçar Jon, no entanto, era convencendo a Rainha a fazer isso, introduzindo na mente dela a ideia de que o amor seria uma boa arma de guerra. 

— Petyr Baelish, o que chamam de Mindinho, está com Sansa em Winterfell, majestade. — Varys alertava Daenerys enquanto caminhavam pelos corredores do castelo — É um homem perigoso com uma menina influenciável. Precisamos estar atentos quando chegarmos.

— Cuidaremos para que nada saia do controle. — Respondeu a Rainha, com os olhos perdidos nas armaduras empoeiradas — Me mantenha informada sobre os nortenhos, Lorde Varys. Uma rebelião nesse momento poderia ser o fim de todos os planos. Devemos garantir que apoiem Jon. Para melhorar as coisas, penso em nomeá-lo Jon Stark.

— Ninguém merece mais isso do que ele, minha Rainha.

— De fato. — Ela deu um leve sorriso que entregava sua afeição por Jon.

— Não tem medo de quanto poder possa estar dando a um possível adversário, majestade?

— Do que está falando? — Ela parou e ficou olhando para o conselheiro.

— Como sabemos, o Norte é bruto e conservador, e não está muito receptivo a um governante do Sul. Em toda Westeros, na verdade, nenhuma líder é bem recepcionada. Se Jon se tornar um Stark, se deixar de ser bastardo para se tornar um Rei, pode superá-la de diversas maneiras aos olhos do povo por ser homem.

Dany estava muito calma ao ouvi-lo. Já fora subestimada antes em Essos por seu sexo, e de formas muito mais violentas. Olhares e palavras hostis não a assustavam, nem diminuíam a segurança que tinha em si mesma como mulher.

— Sabe contar, Lorde Varys? — Dany provocou, voltando a caminhar lentamente — Jon tem menos de 15 mil homens. Eu tenho por volta de 100 mil, além de dragões. Se ele quiser tomar o trono, terá de me vencer em batalha.

— Não creio que tentará, obviamente. — Admitiu Varys, acompanhando a Rainha — Mas a verdade é que bastaria um punhal em seu coração.

— Não, não bastaria. — Disse ela, firme — Os meus exércitos não são como os exércitos daqui. Eles me tem em seus corações, como eu os tenho no meu. Os dothraki, acima de tudo, tem suas tradições. Se algo me acontecer, garanto que haverá um banho de sangue tão grande que possivelmente não sobrará ninguém para se sentar no Trono de Ferro.

Apesar de aterrorizado, Varys assentiu com um sorriso. Ele tentava se distrair do medo que ela lhe causava observando como Daenerys ficava procurando detalhes em objetos de seus ancestrais na Fortaleza Vermelha. 

— Então vamos garantir que esteja segura, minha Rainha. E me perdoe o atrevimento, mas há algo mais que talvez a ajude a garantir a lealdade de Jon Snow.

Dany fez uma expressão de curiosidade. Sabia que Varys estava rodeando para chegar nesse assunto.

— Estou falando de amor, majestade... — Sugeriu ele — Um homem se torna capaz de tudo por amor.

— Seja claro, milorde.

Ele sorriu de lado.

— Como você mesma disse, majestade, seus exércitos a amam, e seriam fiéis a você mesmo depois de sua morte. O amor é uma garantia maior em qualquer jogo político. Se Jon a trouxer entranhada na alma, nada o fará traí-la. Ele morrerá por você, assim como os dothraki e imaculados que a seguem.

Daenerys não respondeu. De imediato, não pensou que fosse realmente necessário ludibriar Jon para tê-lo ao seu lado, porém, mais tarde, teve medo de sofrer mais traições. Ela sentia muita confiança em Jon, mas precisava admitir que não o conhecia há tanto tempo assim. Seria realmente melhor dominá-lo do que ser dominada.

***

Mais tarde, nos jardins já frios e opacos, Tyrion opinou a respeito enquanto conversava com Varys à sós.

— Que tipo de conselho foi esse? Se Jon começar a frequentar a cama da Rainha, teremos mais tragédias. Lembra-se do fim de Robb Stark e Talisa Maegyr? Os jovens são tolos e impetuosos, Varys. Quando começam a sonhar, eles morrem.

— Compreendo seus medos. — Varys observava o constante mau humor de Tyrion com preocupação — Mas creio que Jon possa tornar Daenerys mais fácil de lidar.

— Não acho Jon nada fácil de lidar. — Chiou Tyrion — É teimoso demais, áspero e difícil de entender.

— Mas é justo e honrado como o pai. — Varys insistia — Isso é uma garantia. Sempre saberemos o que esperar dele. Jon nunca aprovará atitudes drásticas de Daenerys. Ele tentará fazer com que ela atue de outra maneira como Rainha, talvez isso a faça nos ouvir. Ainda tenho minhas ressalvas, mas acredito no que lhe disse antes: o amor pode domar o coração das mulheres.

Tyrion balançou a cabeça em descrença.

— E eu acredito no que a Rainha vive repetindo.

— O quê?

— Que um dragão não é um escravo, Varys.

___

Nota: Varys foi bem inútil para a Dany na série. Mesmo com tantos "passarinhos", ele nunca alertava ela de nada, então vamos dar um pouco mais utilidade para ele aqui, sem tirar ele das tramoias, claro. Essa ideia do amor como uma arma é bem do machismo mesmo, da ideia de que é necessário domar uma mulher poderosa.

Final alternativo para GOT (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora