24 - A justiça dos órfãos

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"Cersei é tão gentil como o Rei Maegor, tão altruísta como Aegon, o Indigno, tão sensata como Aerys, o Louco. Nunca esquece uma afronta, real ou imaginária. Confunde cautela com covardia e divergência com desafio. E é gananciosa. Tem ânsia de poder, de honra, de amor."

Tyrion, A Dança dos Dragões

***

Daenerys estava caminhando pelos corredores ao lado de Varys quando sentiu um vento ligeiro balançar uma mecha de seu cabelo. Olhou para a janela aberta e pensou serem os primeiros ventos frios chegando à capital, o prenúncio do inverno.

— Foi uma ordem cruel. — Comentava o conselheiro, com o leve tom de censura em sua voz.

— Tyrion matou o pai e a mulher que dizia amar. — Dany rebateu, com voz dura — Matar a irmã que sempre o odiou lhe parece pior?

— Ter cometido esses atos o tornou o homem que vê hoje, melancólico e bêbado. — Varys sabia que, em realidade, era o que Tyrion havia feito com Tysha, sua primeira mulher, que o destruíra, mas Dany não precisava saber.

— Ele precisa escolher, ou está com os Lannisters ou comigo. — Daenerys estava irredutível — Quando a hora chegar, ele deverá brandir a espada e decepar a cabeça de Cersei.

—Mas, majestade.

—Basta! Não quero ouvir mais.

Daenerys estava se cansando do conselheiro, da forma como tentava ludibriá-la, como se fosse uma criança. Ela percebia suas táticas sutis e, de certa forma, tinha certeza de que ele nunca havia tratado o Rei Aerys daquele jeito, nem Tywin Lannister ou qualquer outro homem.

— Talvez Varys ainda não tenha percebido que a ele também falta um pau. — Pensava Dany, impaciente, enquanto olhava para o eunuco que caminhava ao seu lado.

— E Jaime? — Perguntou o conselheiro — O que fará com ele?

Daenerys respirou fundo, tentando não perder o último fio de paciência com Varys.

— Se Tyrion cumprir seu dever, eu darei uma chance para que Jaime se ajoelhe. Se o fizer, eu o liberto.

— Há uma última coisa que gostaria de saber.

— Diga.

— O que fará com os Starks, minha Rainha?

— Do que está falando?

— Fez uma promessa para a jovem Arya.

— E vou cumprir. — Disse ela, em tom cortante — Vingarei os crimes cometidos contra essa família. Os inimigos deles serão os meus.

— E fará isso, mesmo eles não tendo se comprometido com a coroa. — Observou Varys — Poderia usar esse desejo de vingança deles para exigir sua lealdade, não acha?

— Os Starks, pelo que vi, são honrados e justos. — Respondeu ela — Serão leais a mim quando me conhecerem, quando virem que não sou como Cersei. Não preciso manipulá-los para isso.

— Depositará sua confiança neles?

Daenerys parou e ficou de frente para o conselheiro.

— Fiz algo mais arriscado antes, não foi? Confiei em um Lannister e estou confiando em uma aranha. — Seu olhar era intenso e perigoso — Uma rainha que não confia em ninguém é tão tola quanto uma rainha que confia em todo mundo. Então sim, Varys, decidi que confiarei nos Starks.

Enquanto o conselheiro e a Rainha Dragão se afastavam, continuando a difícil conversa, Arya Stark saía de trás de uma das armaduras com um meio sorriso no rosto. Depois se afastou rapidamente, como um suave vento do inverno.

***

A execução fora marcada para ocorrer em uma manhã fresca no Fosso dos Dragões. Daenerys adentrou o recinto escuro, acompanhada por dezenas de dothraki e imaculados. Havia um local preparado especialmente para ela do lado oposto aos grandes portões. Parecia um altar, muito alto e repleto de bandeiras da casa Targaryen. Ela subiu as escadas e se posicionou em um grande assento negro, esperando os cidadãos curiosos chegarem. Varys, Missandei e Verme Cinzento se sentaram do seu lado direito, enquanto Jon e Arya de seu lado esquerdo. A maioria deles mal se atrevia a respirar.

O fosso era um espaço circular imenso, tanto que poderia caber facilmente uma centena de dragões do tamanho de Drogon. Dany observava o lugar enquanto pensava nos cinco dragões abatidos ali durante a Dança dos Dragões, quando Aegon II e sua irmã Rhaenyra brigaram até a morte pelo direito ao Trono de Ferro.

— Shrykos, Morghul, Tyraxes, Syrax e Dreamfyre. — Recitava ela — Dragões mortos pelo povo.

Naquela época, os cidadãos se revoltaram em Porto Real, e um profeta conhecido como "O Pastor" os convenceu a invadir o Fosso dos Dragões e matar as feras que estavam lá. Furiosos, os cidadãos subiram a Colina de Rhaenys e quebravam as janelas com bastões e machados. Quando conseguiram passar pelos guardas, encontraram os dragões acorrentados pelo pescoço, sem poder voar ou fugir. Ainda assim, as feras resistiram ao ataque dos humanos com suas garras e dentes, matando várias pessoas. Também conseguiram expelir fogo suficiente para transformar o fosso em um inferno flamejante, transformando-o na ruína em que Dany agora se encontrava.

— Os dragões morrem, sim, — pensou Daenerys com fúria ao ver Cersei ser trazida à sua frente — mas o mesmo acontece aos matadores de dragões.

Para onde se olhava havia olhos arregalados e lábios trêmulos a cochichar nos ouvidos de quem estava ao lado. Do alto das escadarias, o povo, milhares e milhares, assistiriam ao fim de Cersei Lannister, a que um dia fora chamada de Luz do Oeste.

De baixo, com correntes nas mãos e nos pés, e ouvindo os resmungos dos selvagens dothraki que a guiavam, Cersei encarava todas aquelas pessoas com um sorriso no rosto. Ainda se sentia muito mais alta do que todos eles. Quando olhou para Daenerys, muito distante, como um pontinho branco entre os destroços daquele recinto, voltou a sorrir com uma calma que confundia a todos.

Atrás dela, Tyrion e Jaime Lannister caminhavam com semblantes muito diferentes dos da irmã. Tyrion estava ansioso ao ver tanta gente e ouvir os rugidos dos dragões de Daenerys acima de sua cabeça. Ao mesmo tempo estava trêmulo pela abstinência do álcool. Jaime, contudo, carregava um vazio no olhar e uma ira que fazia seus lábios tremerem.

— Cersei Lannister! — A voz de Daenerys ressoou nas antigas paredes negras em um eco ensurdecedor, fazendo todos se calarem e olharem para ela — Estamos aqui para cobrar os seus crimes.

Jaime respirou fundo e olhou para Tyrion ao seu lado. O anão estava com as mãos trêmulas e o rosto pálido como leite. Estava preparado para matar a irmã, mas não preparado para que Jaime o visse fazer isso.

— Agora é chegado o tempo dos dragões retornarem à Porto Real. — Continuava Daenerys — Seu reinado acabou, Cersei! Sua tirania acabou e sua voz será calada para sempre! Aqui estão os órfãos das famílias que você destruiu! E hoje é o dia da justiça deles.

Cersei ergueu o queixo e abriu um grande sorriso para ela. No mesmo instante, do meio do povo, várias pessoas se ergueram com gritos de insulto contra Daenerys e começaram a atirar frascos com fogovivo na arena, dando início ao caos.

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Nota: O Fosso dos Dragões continua sendo descrito como nos livros e não como na série. Eu acho bem mais legal. Tirei informações de pesquisas na internet e nos livros para contar um pouco sobre o Assalto ao Fosso dos Dragões, mas qualquer erro me corrijam. Contei um pouquinho sobre a Dança dos Dragões, e foquei na ira do povo, que outra vez se volta contra os Targaryens.

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