"Sentavam-se em cadeirões de pedra, com lobos de pedra aos pés. Era para lá que iam quando o calor se escoava de seu corpo; aquele era o escuro salão dos mortos, onde os vivos temiam entrar."
Bran Stark
***
Antes do banquete, oferecido para recepcionar a Rainha Targaryen, Sansa e Mindinho procuraram por Arya nas criptas, que era o único lugar que lhes restava olhar. A garota não havia cumprimentado ninguém desde que chegou, sendo apenas uma sombra veloz e passageira vagando entre a multidão.
As criptas ficavam por baixo de Winterfell e eram muito maiores que o próprio castelo. Era um lugar gelado e escuro, de teto abobadado, onde as crianças Stark brincavam no passado. Para chegar lá, era preciso descer os degraus de pedra em espiral, estreitos e sinuosos, que levavam a vários níveis. Um dos andares continha uma longa linha de pilares de granito, dois a dois, entre os quais estavam sepultados os mortos da Casa Stark.
Enquanto descia, Sansa ignorava Mindinho. Estava se lembrando do Testemunho de Cogumelo, algo que tinha ouvido na infância. Septã Mordane havia contado à ela esse controverso relato de um antigo bobo da corte. Nele, Cogumelo, um homem considerado débil por muita gente, alegava que, quando o príncipe Jacaerys Velaryon veio à Winterfell, no início da Dança dos dragões, o dragão Vermax colocara ovos nas profundezas das criptas, onde nascentes de água quente estavam perto das paredes.
— Será que Daenerys infestará o Norte de dragões também? — Pensava Sansa, enquanto Mindinho tagarelava.
— Milady, está me ouvindo?
Sansa se virou para ele.
— Perdão, o que disse?
O que tanto pensa, minha querida?
— Estava pensando no que vestir essa noite. — Disfarçou ela — Tenho um belo vestido, feitos de rendas de Myr... Será que estarei bem nele?
— Está bem em qualquer veste, milady. — Ele sorriu, mas sua vontade era de estapeá-la. — Eu estava dizendo que, segundo os boatos, Arya está sempre conversando com a Daenerys e que se deu muito bem com os selvagens dothraki. Não sabemos que tipo de pessoa se tornou, mas podemos imaginar. É só lembrar o que ela fez com os Frey...
— E o que imagina? — Sansa continuou andando sem olhar para ele.
— Diga você. Como era a Arya que conhecia?
— Inconsequente. — Admitiu ela — Era despreocupada com o dever e com o destino do nome Stark.
— Talvez não tenha mudado.
Uma sombra de riso desgostoso passou pelo rosto de Sansa.
— Nada seria mais irônico do que eu julgar alguém por suas atitudes na infância.
Mindinho notou a dor dela e sabia que não podia deixar que isso a tornasse conivente com as atitudes da irmã caçula. Ele via Sansa como uma jovenzinha tola, egoísta e invejosa. Era seu tipo preferido de garota, mas apenas se pudesse mantê-la sob controle.
— Arya não passou pelas mesmas coisas que você, Sansa. Ela esteve livre, se criou pelo mundo, sendo selvagem e indomável. O mesmo aconteceu com Jon, ele foi para a muralha e abandonou a ideia de família. Há chances de algum deles ter voltado preocupado com o nome Stark?
— Não. — Respondeu Sansa, com voz comedida — Se tornaram selvagens.
— Você é a única que se preocupa, milady, mas eles deveriam saber como é importante todos vocês se unirem nesse momento.
Sansa parou e olhou para ele como se Lorde Baelish tivesse acendido uma luz diante de seus olhos.
— Tem razão. Talvez eu deva mostrar a eles.
Mindinho concordou, satisfeito por poder guiar tão perfeitamente os pensamentos de Sansa. Ele prosseguiu ao lado dela em sua procura por Arya. Caminharam pela escuridão, observando os rostos de pedra, até que encontraram a mais jovem Stark imóvel, olhando para a cripta do pai.
De costas, a irmã menor ainda parecia a mesma menina travessa de que Sansa se recordava. Estava pouco maior e conservava os cabelos curtos e despenteados, além de se vestir com roupas masculinas.
— Ele sempre disse que chegaria, não é? — Disse Arya, ao ver Sansa se aproximar — O inverno.
As duas ficaram se encarando por um longo tempo sob a figura de Ned. As memórias da infância ainda desolavam, mas era reconfortante ver uma a outra de novo depois de tantos anos. O queixo de Sansa tremeu e uma lágrima desceu por seu rosto, surpreendendo Arya. Quando se deram conta, já estavam se abraçando com todas as forças.
Quando Sansa se afastou, havia mais lágrimas que tentava disfarçar. Ela ajeitou a mecha de cabelo ruivo atrás da orelha e uma covinha infantil se formou em sua bochecha ao sorrir para a irmã. Arya não era mais uma menina e isso era assustador. Quanto tempo havia se passado? Parecia uma vida inteira.
— O que fez todo esse tempo? — Perguntou Sansa, sorrindo para ela.
— Estive aprendendo — Arya manteve um sorriso esperto no rosto — e acho que você também. Conseguiu o que desejava, não é? É uma lady.
— Um título pequeno para tudo que sua irmã merece. — Mindinho se aproximou delas — E você também.
— Lorde Baelish. — Arya se lembrou dele com desconfiança.
— É bom vê-la de novo. Ficamos todos felizes quando soubemos que estava viva.
— Ah, sim?
O sarcasmo e a segurança no tom de voz dela irritavam Mindinho. Entretanto, meninas eram apenas meninas para ele. Não havia lobos para proteger aquele castelo, apenas filhotes de uma matilha que fora quase inteiramente aniquilada.
— Esteve muito tempo com Daenerys e Jon na capital. — Sansa interrompeu, apreensiva — Diga... O que você viu, Arya?
— Vi um Rei e uma Rainha. — Respondeu ela com altivez — O que mais eu veria?
— Esse casamento lhe agrada, não é? — Deduziu Mindinho — Entendo. Daenerys é uma poderosa domadora de dragões e Jon é o seu irmão guerreiro. Dois heróis das histórias das amas...
Arya riu. Era impressionante como as pessoas a subestimavam por sua idade e sua estatura. Sabia que parecia uma criança e era divertido se passar por uma.
— Você é tão perspicaz, Lorde Baelish. — Zombou ela, vendo a maneira infantil como lhe falava — Devo pensar que não concorda comigo?
— Em partes.
— Em partes?
— Você e sua irmã são as últimas Starks. — Ele lançou a ela um olhar astuto — A garota Targaryen é uma estrangeira enquanto Jon, bem... mesmo sendo alguém que merece toda nossa devoção, não é filho de Catelyn como vocês duas. Jon é um bastardo.
Arya se virou para Sansa, esperando que a irmã falasse algo, mas ela não falou. Então começou a se questionar se Sansa ainda era tola e ambiciosa, e se desprezava Jon como quando eram crianças.
— Nosso pai disse que deveríamos cuidar uns dos outros quando o inverno chegasse, Arya. — Sansa olhou para ela de um jeito estranho, como se quisesse dizer mais do que dizia — Nós duas precisamos nos cuidar e cuidar de Jon. Há traidores entre nós.
Arya olhou de um para outro.
— Certamente há.
___
Nota: Outra cena editada da série. O encontro de Arya e Sansa aconteceu dessa forma nas criptas, mas Mindinho não estava junto e o contexto era outro. Pesquisei sobre as criptas de Winterfell e acrescentei o que achei na internet nesse capítulo. As descrições sempre são fiéis as do livro e não da série.
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Final alternativo para GOT (concluída)
FanfictionVocê também odiou o final de GOT? Então venha aliviar seu coração com esse final alternativo. Essa história é sobretudo para os fãs de Daenerys Targaryen, mas todos os personagens tiveram seus destinos reformulados. Busquei ser o mais coerente e fi...