9 - Dragão e Lobo

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"Você não sabe de nada, Jon Snow."

Ygritte

***

Davos ficou olhando apreensivo para o rosto do Rei do Norte, que estava ainda mais sombrio e mal-humorado do que nunca. Sabia que Jon era rápido em detectar uma desfeita.

Jon, por sua vez não tirava os olhos da Rainha Dragão. Estava se dando conta de que ela estava se divertindo às suas custas. Não parecia preocupada com nada, enquanto ele nadava em desespero pelo que se aproximava do Norte.

— Se quer discutir quem se deita com quem, não é a Rainha que eu imaginava. — Disse Jon, tomado de raiva — Enquanto discutimos, a grande guerra se aproxima. O exército dos mortos está cada vez mais perto. É disso que vim falar!

— O exército... dos mortos? — Tyrion interrompeu e todo o salão pareceu silencioso demais de repente. Até mesmo Davos pareceu envergonhado.

— Há criaturas do outro lado da muralha, milhares delas... — Explicou Jon, farto de toda aquela pompa — Há quase uma década que estão se multiplicando e se preparando para atacar Westeros. Eles têm um líder poderoso. Se não os determos, nosso continente se tornará um cemitério.

Tyrion estava pasmo e incrédulo, mas Daenerys permaneceu séria. Ela pensava em Melisandre. A Mulher Vermelha havia lhe falado sobre a Longa Noite e Dany já havia visto muita coisa na vida para desacreditar do que estava ouvindo. Talvez houvesse outros perigos que ela não estava se atentando.

— Você disse que o conhece, Tyrion. — Disse ela — Acha que é louco?

— Não. — Respondeu o conselheiro prontamente, se virando para Jon. — Acho que é um homem corajoso e que viu muitas coisas.

— Mais do que vocês imaginam. — Rugiu ele, impaciente.

— Mas se está em busca de ajuda para derrotar... bem, seja lá o que for... a aliança é sim um assunto importante a se discutir. — Alertou o pequeno conselheiro.

Jon olhou para Daenerys, que continuava a analisá-lo com frieza. Ficou pensando nesse casamento e dezenas de perguntas inundaram seu cérebro. Como isso funcionaria? Como sua família reagiria? E os nortenhos? Ela seria sua esposa de verdade ou apenas seria um acordo? Jon teria que se deitar com ela e gerar herdeiros? Que tipo de homem se tornaria? Um mero servo dela? Alguém que teria de ficar parado em um palácio apenas ostentando o título de Rei sem realmente ser útil? Ele não queria pertencer a ninguém.

— Eu não a conheço, já disse. — Repetiu Jon — Não entregarei o Norte a um Targaryen depois do que fizeram à minha família! Alguns foram queimados vivos pelo Rei Louco e talvez eu mesmo seja queimado vivo aqui hoje simplesmente por ser sincero.

Dany o observou por alguns instantes, então se levantou, descendo as escadas do trono em direção a ele. Apesar de pequena e aparentemente frágil, seu rosto impassível, seus olhos brilhantes e postura firme, faziam dela uma mulher assustadora.

— Você tem motivos para pensar que sou uma tirana, milorde. — Sua voz soou doce e amigável.

— Sim, eu tenho. — Foi o que conseguiu dizer. Jon não estava habituado a negociar com mulheres, quase não viu mulheres por anos e as que viu não se pareciam com Daenerys.

— Eu o entendo. — Ela manteve um leve sorriso no rosto, pois havia simpatizado com Jon por alguma razão que ainda desconhecia. Era teimoso e taciturno, mas também concentrado e atento a tudo. Conseguia ver que era um homem orgulhoso e muito rígido — Diante de todos eu peço perdão pelos crimes cometidos contra sua família e peço também que não julgue uma filha pelos erros de seu pai.

A surpresa nas palavras dela o fez baixar um pouco a guarda. Ela era a mulher mais poderosa daquele mundo e estava pedindo perdão a um bastardo. 

— Não. — Pensou Jon, com raiva de sua mania de autodepreciação — Sou um Rei agora, não um simples bastardo.

Enquanto a Rainha o olhava, Jon começava a procurar algo de familiar nela. Por mais que ela parecesse querer irritá-lo e ele quisesse se manter distante do perigo que ela representava, Daenerys tinha alguma coisa que o fazia lembrar alguém.

— Jon? — Tyrion tentou despertá-lo.

— Perdão. — Ele olhou para Daenerys e respirou fundo — Você tem razão. Não devo julgá-la pelos crimes dos seus antepassados, mas não muda os fatos de que não a conheço. Não vim aqui para outra coisa a não ser alertá-la sobre esse perigo, para pedir que lutemos juntos para salvar Westeros, pois sei que você é maior esperança para o meu povo. Eu preciso de você, mas você também precisa de mim, pois eu sou o único que sabe o real perigo que se aproxima. 

Dany estudou o olhar carrancudo dele, vendo que havia ansiedade por trás de sua face nublada. Mas Jon não a impressionava com aquelas palavras. Ainda precisava entender quem era aquele misterioso homem antes de dar a ele um voto de confiança.

— Bom, creio que os senhores estejam cansados da longa travessia. — Prosseguiu a Rainha com cordialidade ensaiada — Talvez uma boa noite de descanso faça com que pensamentos sensatos surjam. Podem tomar banho e comer em seus aposentos. Continuamos amanhã.

Ela se virou para o dothraki à sua direita e lhe deu algumas ordens no idioma mais estranho que Jon já ouvira. Quando ela estava de saída, Jon a chamou de volta.

— Sou seu prisioneiro?

Dany sorriu com malícia ao se virar.

— De maneira alguma, milorde. Mas garanto que até o fim de sua estadia, você terá se tornado meu vassalo, meu marido ou a comida dos meus filhos.

___

Nota: Prossegui com o clima mais descontraído e com alguma familiaridade entre eles, pois os dois tem uma ligação forte, muitos paralelos. Esse encontro deveria mexer um pouco com os sentimentos deles. Eu odeio a frase inicial da Ygritte, mas acho que combinou com esse capítulo hahaha.

Final alternativo para GOT (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora