65 - Valar Morghulis (✓)

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"Todos os homens devem morrer!"

Jaqen H'ghar

***

A cada nome que sua mente trazia, Arya atirava uma faca certeira no alvo:

— O Montanha, Cersei, Ilyn Payne, Melisandre, Beric, Joffrey, Meryn, Polliver, Thoros, Rorge, Tywin Lannister, Walder Frey...

Então levantou a adaga de Mindinho, mas ao perceber que era ela, não a atirou. Se assustou, pois sequer se lembrava de tê-la misturado com as demais naquele cesto. Era como se a arma a procurasse a todo instante.

— Há algo para você fazer ainda, não é? — Ela olhou para a adaga e pensou em Sansa. Não entendeu o motivo do rosto dela ter surgido em sua mente, mas daria a arma para a irmã antes de Winterfell ser atacada. Algo lhe dizia para fazer isso.

Algumas crianças estavam observando de olhos arregalados e bocas escancaradas. As histórias sobre a mais jovem das irmãs Starks já circulavam entre os nortenhos e as crianças eram as que mais gostavam de ouvi-las.

— Quando meu filho tiver idade, quero que ensine algumas habilidades a ele. — Arya se lembrou da voz de Daenerys lhe dizendo isso dias atrás naquele mesmo pátio enquanto conversavam sobre dragões. Esse era um assunto que sempre unia as duas.

— E se for uma menina? — Havia perguntado com desconfiança. Lembrou-se de quando era criança e todos diziam que Bran precisava aprender a lutar, enquanto ela precisava aprender a bordar toalhas.

— Se for uma menina, então vou querer que ensine todas. — Respondeu Daenerys — Quero que minha criança cresça perto de você.

Arya não demonstrou, mas a emoção a tomou de surpresa. Estava desacostumada a ter pessoas a tratando daquela forma. Ela era subestimada quando criança e durante seu crescimento apenas foi desafiada por outros bem maiores e mais fortes que ela. Mas agora seu irmão mais velho, Jon, ele a admirava, enquanto Sansa, que tanto a criticava antes, a respeitava e agora até mesmo Daenerys parecia dar a ela um grande valor. A Rainha não era da família, não tinha seu sangue, mas Arya gostava dela.

— Eu sempre gostei de ouvir histórias sobre as mulheres que montavam dragões. — Confessou Arya — Sempre quis ser como elas, mas meus pais preferiam que eu fosse uma lady.

— Como Sansa.

— E eu não suportava Sansa quando éramos crianças. — Arya se permitia conversar casualmente com ela — Nós não conseguíamos nos entender.

— Hoje as coisas parecem mudadas.

Arya pensou sobre isso com satisfação. Era verdade. Tudo estava mudado. Ela tinha voltado para o castelo em que cresceu e recuperado pessoas que amava. Essas pessoas agora não a viam mais como uma menininha teimosa, mas como uma assassina letal. Ela sempre havia buscado um lugar de destaque, porém, além disso, sempre havia tentado vingar os Starks e unir sua família outra vez. 

— Eu adoraria treinar um sobrinho, mais ainda uma sobrinha. — Disse ela, séria, escondendo o entusiasmo — Também poderia ensinar as meninas do reino que não desejam ser ladys, ou que apenas querem aprender a se proteger.

O rosto da Rainha ficou preocupado.

— Esse não é um mundo seguro para as meninas, não é?

— Pode fazer algo assim em seu reinado? Um exército de garotas? Eu gostaria disso.

Daenerys pareceu avaliar com prazer a sugestão de Arya.

— Acho que podemos começar a planejar isso juntas.

Arya espantou as lembranças dessa conversa, ainda olhando para a adaga em sua mão. O aço valiriano brilhava com a luz das tochas de fogo. Ela olhou para o alto, depois para os lados e viu toda a movimentação no castelo. Daenerys provavelmente ainda estava com Drogon na caverna, mas Jon estava na vigília sobre os muros e Sansa observava tudo do alto. Arya era a única nas sombras, a única a se esgueirar silenciosamente sem ser vista. Por mais que quisesse estar com outras pessoas, não sabia mais o que era ter companhia.

Ela observou Gendry ao longe, retirando as espadas de vidro de dragão recém fabricadas de dentro de uma caixa de madeira. Muitos novos rostos haviam chegado a Winterfell e todos, adultos e jovens, precisariam ser armados para o que viria. Quando via Gendry, sua alma guerreira dava lugar à alma de garota que desejava um pouco do que as garotas de sua idade tinham, talvez o que Sansa um dia havia desejado. Não sabia realmente como chegar devagar ou trocar olhares com ele. Tudo isso era bobagem. Esperaria um momento em que ninguém estivesse olhando e lhe lascaria um beijo na boca.

— Quando os mortos devem chegar a Winterfell? — Ela foi até ele, observando seu rosto moreno com alguns fios de barba crescendo desordenados em seu queixo jovem.

— Pode ser a qualquer momento ou pode demorar algumas luas. — Gendry respondeu, assustado com como os olhos da loba estavam tranquilos. Eram como um lago parado, repleto de perigos em suas profundezas. 

— Como sabe o passar das luas se não vemos o céu, apenas a neblina e a escuridão? — Arya questionou tranquila — Eu sinto que eles se aproximam, você não? Está mais frio, mais denso e difícil para respirar. Foi assim nas últimas batalhas, quando estávamos perto deles.

— Nós estaremos prontos.

Arya semicerrou os olhos. Sabia que ele dizia isso mais para se tranquilizar do que para tranquilizá-la.

— É verdade que a Mulher Vermelha queria seu sangue por ser bastardo de Robert Baratheon?

Ele se espantou, mas não fugiu da resposta.

— Eu não sabia até ela me dizer. Ela me amarrou, tirou minhas roupas e colocou sanguessugas em mim.

— Pelo menos não te deixou pra morrer. — Respondeu uma voz grave e violenta do outro lado do pátio.

Arya se virou com o coração batendo forte, reconhecendo a voz de Sandor Clegane, o Cão de Caça. Ainda que jamais fosse demonstrar, estava desesperadamente feliz ao vê-lo.

— Foi o que essa daí fez comigo. — Completou ele, olhando-a com o mesmo rosto odioso de sempre enquanto se aproximava.

— Na verdade eu te roubei primeiro. — Respondeu Arya, observando que dois outros o acompanhavam, eram Beric e Thoros. Os três pareciam exaustos da caminhada.

— Você é uma putinha cruel, não é? — Sorriu Sandor, ao se aproximar de Arya — Deve ser por isso que ainda tá viva.

— Onde estiveram? — Perguntou Gendry — Pensamos que estivessem morrido quando a Muralha caiu.

— Ainda não era nossa hora de morrer. — O Cão passou por eles rosnando, junto dos outros homens — Mas essa hora não tardará a chegar.

___

Nota: Essa última parte, no finalzinho, foi baseada em cenas da série, apenas mudei o contexto e misturei os personagens. Esse capítulo era pra ficar menor, mas quis mostrar o Gendry e também onde estavam Sandor Clegane e os demais, porque diferente da série, eles não foram com Jon caçar um "morto-vivo" pra Cersei (isso não aconteceu na fanfic). Eles só continuaram a vagar por aqueles lados e agora encontraram Winterfell (só pra lembrar mesmo, não quero deixar essa ponta solta).

Final alternativo para GOT (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora