# Capitulo 126 #

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<Pensamento Harry*On>

Não sei quanta vezes já recusei as chamadas da Emma. Porquê que ela simplesmente não para de tentar?

Precisamos de um tempo, ou talvez de algo mais. Eu não sei.

Milhares de coisas já passaram pela minha cabeça desde que estou sentado na berma desta ponte com o rio bem debaixo dos meus pés. A cor verde da vegetação que me rodeia faz-me sentir em casa, não que eu tenha estado aqui antes.

Sinto uma enorme vontade de voltar ao passado, às minhas origens. Sitio esse onde eu era feliz e livre. Não sabia o peso da responsabilidade nem a dor da maldade, era só eu, a minha família ainda completa, o meu gato e a minha casa de jardim grande no meio daquela vila. Londres é a minha vida mas Holmes Chapel é a minha casa, o início de tudo que conheço.

Tenho saudades daquele menino que acordava cedo para ver a mãe a sair de casa para ir trabalhar. Tenho saudades de cortar a relva, sentado no pequeno trator, ao lado do meu pai. Tenho saudades daquele rapaz que queria imitar a irmã mais velha em tudo, a Gemma era como que uma heroína para mim e eu queria crescer e ser igual a ela e aos seus amigos fixes. Quase que me esqueci disso. Quase me esqueci da minha infância e de tudo de bom que vivi.

Lembro-me que todas as sextas era a minha mãe que me ia buscar à escola e me levava a comer um gelado ou beber um chocolate quente, o que eu escolhesse. Lembro-me que eu esperava a semana toda por esse dia porque sentia que ela era só minha. Como eu amo a minha mãe e eu não lhe digo isso vezes suficientes.

O meu pai trabalhava muito pelo país e isso fazia com que eu o visse menos vezes. Sabia que a minha mãe sentia a falta dele e eu queria que ela sorrisse. Fazia-lhe inúmeros desenhos, cheguei a vestir as suas roupas e fazer umas quantas coisas inexplicáveis para a ver sorrir e eu senti-a me tão feliz por isso. Eu era um miúdo mas entendia as coisas.

Todos os domingos à tarde íamos ao cinema. Eu e a Gemma sempre discutíamos para ver quem escolhia o filme e até eram inúmeras as vezes que ficávamos sem falar. Isso durava sempre só o tempo do filme, eramos inseparáveis.

Lembro-me que naquelas noites de chuva torrencial e até trovoada era com ela que eu gostava de dormir. Quando lhe pedia para ficar na cama dela, ela somente sorria e abria-me os seus braços. Uma vez deitado, ela agarrava-me fortemente e eu sentia-me em paz. Engraçado que hoje quero ser eu a proteger a minha irmã, mas nem para isso sirvo.

Gostava quando o meu pai me levava até ao rio para pescar. Tínhamos um pequeno barco e passávamos o dia todo naquilo. Confesso que adorava, não pescar, mas sentir que tinha uma ligação com o meu pai.

Tudo desmoronou quando os meus pais resolveram separar-se e a minha mãe quis mudar-se para londres.

Os meus sonhos de meninos foram destruídos por uma simples conversa familiar que deixaria de ser algo de família.

As breves ausências dele passaram a ser mais duradouras e os telefonemas já não chegavam para eu sentir a presença do meu pai na minha vida. Mas eu tinha de ser forte, tinha de seguir desse por onde desse porque a vida não era um mar de rosas e eu não sabia como a dominar.

Talvez não tenha aceitado bem a separação deles, talvez tudo tenha perdido significado para mim e isso fez-me resguardar os meus sentimentos.

Percebi que não posso querer mudar as coisas sem perceber o que se passa comigo e só hoje, quando resolvi ponderar sobre tudo na minha vida, é que percebi que tudo começou muito antes do Austin. Não posso estar bem com o mundo quando eu não estou bem comigo mesmo.

E ai entrou a Emma. Bastou uma noite para me apaixonar por ela.

Não sei o que chamou tanto a minha atenção para aquela miúda que dançava com as amigas e se ria que nem uma tolinha, mas eu tinha gostado dela.

* Sweet Trouble *  (Acabada)Onde histórias criam vida. Descubra agora