Toque

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 Isso era uma loucura.

Ela não faria isso.

Ela não seria tão tola.

Ele estava em negação até que o cheiro dela o alcançou.

Sim. Sim, ela era tão tola.

E ele foi tolo o suficiente para ficar lá. Fraco o suficiente. Ele deveria ter se afastado, mas o calor dela o congelou mais do que o frio ao redor dele. Ele estava grato que esta área em particular não era visível do castelo graças à grande linha de árvores.

"O que quer que tenha acontecido... Por favor, deixe-me ir com você." Ele sentiu a voz dela contra suas costas enquanto ela falava. O estrondo suave e gentil enviou um calafrio e calma por ele.

Ele não queria se acalmar. Ele queria se perder em sua raiva. Ele queria afastá-la. Amaldiçoá-la. Ele queria... queria... Ele queria parar de mentir para si mesmo.

"Saia de perto de mim", ele retrucou.

Ela não se moveu de sua intrusão maciça e ousada de seu espaço pessoal. Ao contrário. Ela o apertou com mais força.

"Eu disse para você se afastar, Granger."

"Não! Não me importo com o que você tente fazer contra mim, não vou deixá-lo aqui."

Ele tentou se forçar a se mover, mas se se afastasse rápido demais, ela cairia, ficaria molhada e possivelmente se machucaria no solo rochoso.

Sim, ele disse a si mesmo que esse era o motivo. Não que suas razões fossem porque ele realmente queria seu conforto. Que ele realmente desejava a paz e a tranquilidade que ela dava com sua presença.

"Menina tola! Você não sabe o que está acontecendo, então volte para o castelo e..."

"Posso não saber, mas sei que você está chateado. Diga-me, seu homem teimoso!"

Essa garota. Essa estúpida... amaldiçoada amizade e aquela lealdade Grifinória. Lealdade que ele admirava. E se alguém era um idiota aqui, era ela por não ter desistido dele.

"Eu poderia te machucar desta vez se..." Sua voz saiu mais suave, tentando convencê-la a ir.

"Você não vai. Eu tenho fé em você. Eu confio em você e vou ajudá-lo."

Ele poderia dizer pela voz dela que ela não carregava uma pitada de dúvida, mas ele tinha. Ele não entendia essa bruxa. Ela o desafiava constantemente, surpreendendo-o com experiências novas ou raras. Este abraço foi um deles. Esse apoio foi um deles.

Ele ergueu a mão trêmula e colocou-a sobre uma das dela. Ela era tão teimosa quanto ele.

"Muito bem," ele disse e aparatou com ela.

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Eles chegaram em sua casa. Apenas uma casa, pois isso nunca foi um lar. Hogwarts era sua casa agora. Mais tarde, ele não tinha certeza.

Tudo estava igual a quando ele saiu. Suas estantes empoeiradas e sua sala de estar bagunçada os saudaram.
Ele respirou fundo, soltou as mãos dela e se desvencilhou dela. Em vez de voltar, ele deu um passo à frente, evitando-a e focando em sua estante. Esses livros eram as únicas coisas que ele poderia considerar seus. Estar neste lugar era quase tão repugnante quanto se curvar diante do Lorde das Trevas.

"Esta é a sua casa?" Ele ergueu a mão para tocar um dos muitos livros. Ele faria questão de legá-los a ela em seu testamento.

"The Rogue Alchemist," ele murmurou enquanto pegava o livro com um movimento lento. "Era meu livro favorito quando eu era criança." Ele respirou fundo e fechou os olhos; a raiva flamejante havia diminuído, substituída por uma leve raiva e melancolia. "Foi a única coisa que minha mãe poderia me comprar."

"Sev-Professor..." O cuidado que sua voz carregava quase o fez cair de joelhos como um homem desesperado que tem sede de afeto tanto quanto de água. "Estou aqui por você. Você... você me falaria sobre este lugar? Sem penseira."

Ele não a merecia, mas a necessidade de mantê-la em sua vida tornou-se intensa. Ele sabia que não era um homem fácil de entender, mas ela tinha a capacidade milagrosa de fazer isso.

Ela se jogou no caminho de sua raiva consumidora e a derreteu.

Ele não se sentia mais sozinho. Ele percebeu isso no momento em que os braços dela se moveram ao redor dele e ela se recusou a ir apesar de sua raiva.

Seu medo de mostrar sua humanidade a ela havia desaparecido, as poucas dúvidas que ele tinha sobre ela se foram.

"Sou um homem difícil, sem muitas palavras para oferecer."

Com um pequeno pedaço de bravura, ele se virou para encará-la. Sua postura estava relaxada. Ela não tinha raiva, nem medo, nem repulsa no rosto. Apenas aceitação.

"Eu só me importo se elas têm a verdade por trás delas. Somos pessoas caladas, mas isso não significa que não sentimos."

Ele foi até ela e ofereceu-lhe o livro. Com mãos cuidadosas, ela o pegou.

"Quero que fique com este e o resto desses livros quando eu me for", disse ele, com a voz mais gentil que já se ouvira falar.

"Eu..."

"Por enquanto, vou mantê-los em minhas prateleiras em meus aposentos."

"Por que não mantê-los aqui?"

Ele respirou fundo. "Eu... eu quero destruir este lugar. Não, eu preciso fazer isso. "

Granger abraçou o livro contra o peito.

"Ninguém vai se importar se este lugar pegar fogo. Provavelmente será feito quando eu morrer de qualquer maneira. Estou surpreso que ainda não tenha sido feito, considerando a maneira como todos me odeiam."

"Eu não", disse ela, expressando algo que ele já sabia, mas apreciava ouvir de qualquer maneira. "Eu nunca te odiei."

"Como eu disse, você não é capaz de odiar, mas fico grato por ouvir isso."

"Mas por que você tem que destruí-la agora? Aconteceu alguma coisa?"

Ela havia demonstrado que ele não tinha nada a temer, mas ainda assim, agora ele estava com medo do quanto precisava do apoio e da amizade dela. Essa jovem bruxa, essa alma gentil... Merlin, o destino era tão cruel. Ele sabia que algum dia ele a machucaria quando morresse.

Ele caminhou até um dos sofás velhos e esfarrapados e se sentou.

Abaixando a cabeça para esconder o rosto atrás do cabelo escuro, ele enredou as mãos uma na outra e começou a ordenar seus pensamentos.

Ela o assustou quando sua palma tocou suas mãos. Ele fechou os olhos e se concentrou em sua pele contra a dele, como se pudesse ganhar força com ela.

"Você viu a coruja que recebi hoje."

"Sim, você foi muito gentil com ela."

"Trouxe novidades", disse ele, como se ela já não pudesse adivinhar. Ele respirou fundo. "Meu pai está morto."

When All Is Lost One Is Found by Rinoaebastel - TraduçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora