Outro de muitos - Parte 2

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Ele esperou com a respiração suspensa enquanto ela se concentrava na penseira. Ela estava finalmente aprendendo sobre o que Dumbledore o estava forçando a se tornar. Em pouco tempo, ela descobriria que seu amigo iria morrer, mesmo depois de todos os problemas que eles passaram e todos os problemas futuros que enfrentariam.

Ele deu alguns passos para trás e encostou-se à mesa, ponderando qual seria a reação dela. Ele estava preparado para raiva, lágrimas e gritos.

Granger se mexeu e ergueu a cabeça. Ela olhou para frente, com os olhos arregalados. Ele podia ver uma leve agitação em seu corpo. Suas mãos ainda estavam segurando a penseira.

Ele deu a ela alguns minutos para processar o que tinha visto, então ao invés de esperar que ela falasse ou reagisse, ele falou, "Agora você sabe o que é esperado de mim, e o que você precisa dizer ao Potter se eu falhar." Ele se certificou de que sua voz fosse o mais firme possível, mas quase vacilou nas últimas palavras.

"Eu..."

"Vá embora agora, Srta. Granger. Espero que sua curiosidade sobre minha situação esteja totalmente satisfeita."

Ela deixou suas mãos caírem da penseira e olhou para ele. O choque se desvaneceu e seu rosto formou outra expressão. Não ódio, não choque, mas pura determinação estampada em suas feições.

"Não pense por um segundo que vou deixá-lo sozinho quando você tiver que passar por algo assim. O que ele pediu de você é completamente... é tão... Não é justo!"

"Como você aprendeu, a vida nunca é justa, Srta. Granger."

"Eu... eu vou te ajudar." Sua voz ficava mais irritada quanto mais ela falava. Ele ficou tentado a se aproximar dela, mas sabia que não era sábio. A tentação de aceitar a oferta que ela fez era forte, mas ele não aceitou. Ele não poderia torná-la cúmplice mais do que já tinha.

"Não. A forma como as coisas estão agora é para melhor."

"Isso é mentira e você sabe disso." A bruxa deu os passos que ele não se permitiu dar, removendo a distância entre eles. "Eu quero ficar com você. Eu me preocupo com você. Não seja estúpido e admita que sabe como me sinto desde a Amortentia!"

Ele não queria se sentir satisfeito por ter sua suspeita confirmada, mas estava. Ele estava surpreso que ela pudesse sentir isso por ele, apesar de saber que tipo de homem ele era. Houve um tempo em que ele era uma pessoa melhor, antes do Lorde das Trevas, mas ninguém o amava naquela época.

E por causa da forma como essa bruxa brilhante se sentia, ele percebeu ainda mais que não poderia deixar isso crescer e se transformar em nada mais. Nem mesmo se seus desejos gritassem para retribuir os sentimentos.

O fato de que ele não faria isso confirmou que ele se importava tanto. Ele não queria que ela ficasse ainda mais miserável. Ele não conseguia pensar em nada pior do que saber de sua miséria antes de sua morte.

"Você estava apenas me usando?" Sua voz inquieta, mais suave e próxima, o fez olhar para ela.

"Eu não sou um manipulador," ele retrucou, quase se sentindo insultado por ela perguntar algo assim, mas não a culpando por questionar.

"Nós dois sabemos que você é um mestre com palavras. Talvez você seja como o diretor."

Ele rosnou. "Nunca me compare com ele. Não quero jogá-los no meio de uma guerra sem saber de nada e usando apenas enigmas como guia. Não passei todo esse tempo treinando você para fazer algo tão estúpido." Ele se moveu para encará-la, seus olhos se estreitaram. "Aquele idiota e muitos de seus outros professores preciosos descartaram sua depressão como algo que você superaria sozinha. Então, quando eles viram que você não estava, você quer saber o que eles fizeram?"

"S-sim."

"Disseram que todos vocês tinham que resolver sozinhos. Eles o ignoraram. Eu estava preocupado com você e a tirei de sua miséria. Te ensinei duelos e feitiços para que você tivesse uma chance de lutar. Eu desperdiçaria meu maldito tempo se quisesse manipular você?"

"Não, claro que não," ela disse em um sussurro suave. Seu corpo se curvou. "Eu sinto muito."

"Nunca me compare com Dumbledore novamente. Eu disse que confiava em você. Admito que não queria ficar sozinho, mas também não queria que você ficasse sozinha. Eu sei como é isso muito bem."

As palavras que ele falou vieram antes que ele pudesse parar para pensar sobre elas.

Seus olhos castanhos encontraram os dele e, com movimentos lentos, suas mãos se moveram para descansar em seu peito, acariciando suas roupas e tentando envolvê-la em seus braços. Ele queria deixar de lado todos os seus pensamentos racionais e apenas relaxar. Ele queria deixar essa jovem bruxa fazer o que ela queria e malditos Potter e Albus fossem para o inferno.

Mas isso significava arriscar sua vida, porque se ele fizesse isso, havia uma boa chance de o Lorde das Trevas vencer. Ela era uma nascida trouxa e se o Lorde das Trevas ganhasse, ela seria torturada e morta. Ele poderia carregar o fardo de qualquer outra pessoa, mas esta jovem bruxa se tornou tão preciosa em seu coração que ele não seria capaz de viver com a vida dela em sua consciência.

"Severus..." Seu sussurro enviou um arrepio por ele.

"É Professor Snape."

"Não faça isso..." Ele odiava o quanto o tom de voz dela o afetava. Ele não queria rejeitar seu apoio e calor, mas sabia que precisava.

Ele deu um passo para trás. As mãos apoiadas em seu peito caíram para os lados.

"Você domina Oclumência e aprendeu o máximo que pode sobre as Artes das Trevas. Você tem seus amigos de volta e seu trabalho comigo está feito." Ele quase retirou suas palavras quando viu os lábios dela tremerem.

"Não!" Ela respondeu teimosamente. "Eu não vou deixar você fazer isso! Você está me afastando deliberadamente."

Ela era admirável, mas isso não tirava sua capacidade de ser cruel.

"Vá embora. Eu fui claro, Srta. Granger? Não volte." Sua voz se transformou em um rosnado.

Ele fechou os olhos quando ouviu um grito abafado. Mas ele não tinha certeza se era de raiva ou causado por seu coração partido. Era melhor que acontecesse agora do que mais tarde.

Ela era uma mulher maravilhosa com uma inteligência notável. Ela ficaria bem.

A porta de seu escritório se abriu e depois se fechou, suas garrafas chacoalhando tanto quanto quando ele bateu a porta antes.

Ele respirou fundo e abriu os olhos. Pegando sua varinha, ele se preparou para limpar o quarto. Quando ele olhou para o chão, ele parou quando avistou um dos livros que ele derrubou de sua mesa. Era seu antigo livro de poções avançadas. As páginas estavam muito mais desgastadas do que quando ele o possuía, mas a tonalidade amarela era familiar. Ele sabia que veria seus antigos rabiscos.

Seu corpo ficou tenso e ele sentiu uma dor no peito junto com um certo aperto.

Ele percebeu que havia cometido um erro terrível.

Outro de muitos.

When All Is Lost One Is Found by Rinoaebastel - TraduçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora