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Luana.

Olhei para aquele teste marcado positivo em minha mãe e o meu desespero só aumentou. Joguei o teste no lixo do banheiro da loja e voltei para o atendimento.

Eu vinha vomitando, sentindo dores na parte da vagina a um tempinho, e meu instinto me dizia que eu estava grávida, mas eu me negava a aceitar isso. Eu não podia ter um filho agora.

E não estava errado. O uso de drogas diminuiu a eficácia do meu anticoncepcional e agora eu me encontro grávida do meu pior pesadelo.

- Eu não posso te ter, não posso te deixar crescer e te deixar nascer, me perdoa por isso, mas eu não quero que você presencie o que eu estou passando. Você seria mais um motivo para eu ficar presa aqui e eu não estou mais aguentando essa vida. Eu juro que se fosse em outra oportunidade eu te teria, eu estaria alegre em saber da notícia, eu já estaria planejando muitas coisas inclusive me questionando se você é um menino ou uma menina.

Solucei de chorar.

- Eu não estou fazendo isso pensando só em mim, estou pensando em você também, você não pode crescer vendo sua mãe apanhando e sofrendo, isso não será bom para você, você vai crescer traumatizado e eu não quero isso. Eu temo que ela faça o mesmo com você quando você crescer também. Eu espero que você e Deus me perdoem pelo que vou fazer, eu estou te dando um livramento, o livramento que eu não tive, que você escolha outra mãe para você, você merece tudo de bom. Eu jamais seria capaz de te colocar no mundo para você sofrer, então eu prefiro não te ter.

Sim, eu iria abortar essa criança, pelas contas eu tô com um mês ainda, descobri muito cedo, pelo que pesquisei ainda não tem o coração formado, é só o saco gestacional.

Eu não tenho condições de gerar e criar um filho, eu me sinto culpada, eu me julgo por ter recaído, venho me julgado desde o ocorrido.

Mas eu não posso deixar essa criança nascer nesse ambiente que não é nada familiar.

Essa criança não vai mudar o Luís, se eu não fui capaz, eu que dei todo o amor e demonstrei.  Essa criança só vai me prender mais a ele, fazer com que as chantagens sejam maiores.

Ele pode ser maluco ao ponto de bater em um filho e eu não quero pagar para ver, se for para sofrer que eu sofra só.

Antes mesmo de confirmar eu mandei um bilhete com dinheiro para a Nayane comprar o Cytotec para mim, a menina daqui da loja que foi entregar, não podia mandar mensagem, porque com certeza o meu celular estava clonado e eu não poderia marcar essa bobeira.

Se ele descobrir isso, é capaz de ele me obrigar a ter.

Na hora que eu estava quase fechando a loja ela chegou, enrolou, ficou conversando comigo e colocou o remédio dentro da minha bolsa disfarçadamente.

- Amiga, boa sorte, eu te amo viu, que você consiga sair dessa logo, tô contigo.

Tá aí uma pessoa que nunca me abandonou apesar de tudo, sempre quando estavas nos bailes ficava comigo.

Todo dia mandava mensagem para saber como eu estava, apesar de estarmos afastadas o sentimento, a amizade, nunca diminuiu e nunca vai.

Passei na farmácia, comprei absorventes e remédio para cólica, com certeza o capanga estava de olho no que eu estava fazendo.

Cheguei em casa, nem comi mais nada. Eu teria que ficar 12 horas de jejum, já fui direto banhar e dormir, Luis quase não estava parando em casa e eu agradecia por isso.

Acho que deu alguma coisa pra ele lá na boca, um dia veio uns caras aqui e estavam metendo maior bronca nele, porque faltou um dinheiro e ele ia ter que assumir o b.o, papo de mancada mesmo que ele tava dando na gerência e eu me alegrei com isso.

Nesse dia ele ficou puto, quebrou as coisas da sala quase tudo e eu no quarto morrendo de rir da cara dele.

No outro dia acordei e ele não estava, já tinha dado doze horas de jejum, peguei o remédio, engoli dois e introduzi dois na vagina coloquei o absorvente e me deitei na cama.

- Espero que um dia eu seja perdoada por isso, me perdoa bebê, me perdoa Deus. - Falei sentindo um aperto muito grande no coração.

Eu não me orgulhava da atitude que eu estava tomando, mas era necessária. Coloquei as pernas para cima apoiando na parede, agora era só esperar...

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DO MEL AO FÉU. Onde histórias criam vida. Descubra agora