Luís Filipe - Bárbaro.
Dar o papo na moral mermo, neguin que acha que crescer no crime é moleza, que o crime é mamão com açúcar, é não parceiro.
Que vai chegar e já vai ter cargo alto ganhar dinheiro pra ostentar e viver no luxo no bagulho, quebra a cara na hora, porque é ralado pra caralho.
Tô a papo de um ano nessa de avião e não saio do lugar pô, os manos são muito cabreiros, te testa de todo o jeito, tu é visado em qualquer passo e se tu tiver uma falha que seja mermão, já era parceiro, manos esculacham sem leme.
- Se liga lá pô, sem dar mancada porra, atividade no bagulho. - Me entregou a mercadoria.
- Tô ligado pô, pode considerar a meta concluída - Falei pegando e guardando.
- Isso aí pô, disciplina, quero só ver.
Me mandaram hoje pra pista de novo pô, entregar os bagulhos para os playboys, arrombados pagam uma meta a mais só pra não dar as caras no morro pra não dar k.o pra eles e aí a gente fica botando a cara e correndo risco de ser grampeado, bando de viciado do caralho.
Meti uma blusa social, uma calça jeans, um sapatênis, currículo na mochila, as drogas bem embaladas e escondidas em um bolso que dá como fake, mais não é desci o morro para pegar o ônibus e entregar os bagulhos.
Tenho nem condição ainda de ter um carro ou uma moto, mas fé que logo tô conquistando minhas coisas.
Fui o caminho todo em pé só observando, uns 20 minutos e eu desci na parada, fui até onde eu entregava os bagulhos para os caras.
Entreguei e recebi a grana, já repassando pra um menor da favela que tava de moto levar, porque dinheiro trocado gera suspeita, tinha nem como voltar com ele, menor se disfarçava de entregador.
Voltei pro ponto, mochila vazia, meta concluída, já era, tava só esperando o busão de boa, quando uma viatura passou e os cana me encarando bolado.
Pensei que iam passar direto mas eles fizeram o retorno e vieram me abordar já apontando a arma na minha direção.
- Bota a mochila no chão e levanta as mãos encostando na parede, bora. - Fiz o que eles pediram e esperei eles fazerem o baculejo, calado enquanto um mexia na minha mochila.
Ele pegou meu documento no bolso e foi checar, me virei pra frente e fiquei com as mãos nas costas.
- Tava fazendo o que por aqui? - O policial perguntou me analisando.
- Entregando currículo - Falei.
- E esse cheiro de maconha na bolsa? É do currículo é? - Falou e os outros gargalharam.
- Sei disso aí não, tava entregando currículo só.
- Não sabe né, não sabe - Deu um tapa na minha cabeça e eu respirei fundo marcando bem a cara do filha da puta, desgraçado, um dia as pedras se encontram - Tá achando que tu engana quem em vacilão? Tu mora aonde?
- Morro da fé.
- Ih, é envolvido. Agora bora ver se tu vale alguma coisa, se não valer é vala rasa - Já sabia que coisa boa não ia acontecer, recebi uma coronhada e apaguei na hora.
(...)
Já acordei sentindo o gosto amargo na boca, filhas da puta, o ódio que eu tava sentindo desses caras não tem tamanho pô, sem necessidade um bagulho desses.
Tava em uma rua deserta, não tinha uma alma por aqui, deve ser de lei trazer eles gente aqui.
Corrupção grita na polícia, de 100, 20 se salvam e olhe lá meu parceiro, a maioria da polícia do RJ vive a base da propina que pega dos morros.
Ficaram tonteando minha mente, querendo nome e vulgo dos caras do movimento e não falava nada, nem podia, se abrir a boca saio vivo aqui e chego lá já levando bala.
Me bateram pra caralho mermo, desceram o cassetete, chute, murro, coronhada, tudo na covardia e eu calado na minha só alimentando meu ódio. Na covardia qualquer um vence. Teve uma hora que eu apaguei e eles jogaram água na minha cara.
- Fala um número pra gente ver se tu sai vivo dessa menor - O mais abusado falou, vontade de furar ele todinho.
Fiquei batendo neurose se dava algum número ou não, não podia dar o número da minha avó que era perigoso ela dar um treco e cair no chão dura.
Não podia dar o de ninguém do movimento, fora que nem sabia né, manos não pagam pra vacilar vivem trocando de número.
Não queria prejudicar minha preta e nem colocar ela na reta, mas também não podia morrer sem tentar nada né cara, fora que era o único número que eu tinha gravado em mente.
Acabou que eu dei meu número dela, eles meteram medo nela, deram o preço e eu só ouvindo gravando a voz na cabeça, terminou a ligação eles me algemaram e me levaram para o porta malas do carro.
Ficaram rodando comigo dentro, calor do caralho e ainda freavam só para eu me bater, oh ódio rapaz, tá maluco.
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DO MEL AO FÉU.
Teen FictionPor dentro aos prantos, a alma sangrando, agindo como nunca quis, arrependida da escolha que fiz.