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Luis Filipe - Bárbaro.

Tava bom não parceiro, ódio só aumentava dentro de mim, o caminho todo dentro dessa van pensando que minha coroa tinha partido dessa, que eu perdi ela porque cai nessa porra, tenho culpa mermo e tô ciente.

Indignação porque não pude nem me despedir.

Fui andando pelo pavilhão de cela de cabeça baixa, quando tiraram minhas algemas e me jogaram na cela só fui pra um canto vago na minha sem olhar pra fuça de ninguém, calado tava, calado fiquei e já era.

Cela cheia pra caralho, parecendo uma latinha de sardinha, quase não tem espaço pra andar. O vaso é um buraco no chão, se cair já era, cela úmida, suja.

Tratamento igual de bicho mermo pô, isso não é lugar pra gente não, nós entramos e saímos pior ainda. É raro ver um que sai e se concerta.

- Colfoi da tua bronca parceiro? - Encarei ele  que tava me encarando enquanto fumava um cigarro e jogava baralho com uns caras.

- Assalto ao carro forte - Respondi sem dar muita confiança e ele assentiu com a cabeça.

Bagulho é que aqui é um querendo ser melhor que o outro, se pegar guerra aqui com um ronca, não sai vivo. Tem que ser cabreiro, quero ficar na minha só observando.

– Primeira vez que caiu? - Perguntou de novo e eu assenti.  - Logo tu acostuma - Falou e a galera da cela sorriu - Eu já perdi as contas de quantas vezes saí e voltei, virou foi minha casa, daqui a pouco o rango chega aí.

- Beleza – Falei e ele voltou a concentração no jogo.

Passou pouco tempo e as quentinhas chegaram com um copo de suco e outro de água, tive que botar pra dentro, tava numa larica da porra.

A comida não era ruim não, mas a da coroa da Luana era aulas, altos caras reclamando da comida, foda é quem não tem nem pão seco pra comer. Tá no lucro que tá comendo de graça.

Acabou que no desenrolar do dia eu fui conhecendo os caras da cela, o que eles fizeram pra estar aqui e fiquei sabendo como funcionava os bagulhos aqui dentro.

Se eu quisesse dormir tinha que pagar uma cama, bagulho por mês, roupa tinha que descolar com o advogado pra visita ou ele trazer e tinha alguns bagulhos que entravam aqui pra eu comer.

Será como que tá minha donzela, mal pra caralho segurando uma pica dessa, espero que ela organize logo os bagulhos pra vir me visitar, mó saudade dela, minha de fé mermo. Do nada um sinal tocou e a galera já foi levantando.

- Banho de sol parceiro, bora  – Falou e eu levantei, fomos caminhando e chegamos no espaço, tinha uns caras jogando futebol, outros sentado, outros conversando, maioria formada em grupo.

Encostei na parede e fiquei lá só observando, logo o cara chegou do meu lado fumando um baseado, cismou comigo legal.

- Qual teu nome pô? - Perguntou e eu encarei ele, querendo puxar minha ficha esse maluco.

- Luis e o teu? - Perguntei enquanto observava os caras jogando bola.

- Lobo - Deu o vulgo e eu assenti com a cabeça.

- Essa é da boa, quer? – Me ofereceu uma dolinha de maconha e uma ceda. Cara é esperto, se aproxima pra vender os bagulhos dele.

Nego tá achando que aqui não entra dessas coisas, aqui entra às vezes até pelos próprios canas do presídio. Fingem que nem tão vendo a gente usando aqui.

- Quanto que é?  – Perguntei, tava querendo fumar um pra vê se a mente dava uma relaxada, muita neurose na cabeça ainda.

- 20 pô, aqui é tudo mais caro, porque pra entrar é difícil.

- Te pago na visita beleza? - Ele assentiu e eu peguei, bolei meu baseado e logo acendi.

Quando acabou voltamos tudo pra cela, depois foi a hora do banho, passamos pela revista e já era, me emprestaram um par de sandália e uma muda de roupa.

Os dias aqui foram se passando e eu me acostumando, dormindo no chão, usava uma roupa e lavava a outra pra usar no outro dia, os caras ainda tinha arrumado uma rede para eu dormir.

Fica em cima da beliche, essa semana quase caio e vou direto pro buraco da cela parceiro, ainda bem que meu pé ficou preso.

Perrengue pô, mas é isso aí mermo, uma hora esse bagulho acabar, foi marcada a audiência pra eu ver a pena que vou pegar.

Advogado me deu altos papos e ainda disse que Luana ia trazer os bagulhos que eu ia precisar.

- Ih, caiu também parceiro - Falei vendo o mano VT entrando na cela, lá do favelão, conhecia mais de vista mermo, era segurança do Gordinho.

- Porra, me fudi legal - Falou e se sentou do meu lado me contando como ele caiu. - Tenho que descolar uma dona pra sustentar essa cadeia comigo. - Falou depois de uma cota.

- Ih, tinha nenhuma no porte não?

- Nenhuma parceiro, só gostava de dar uns pegas nas novinhas mermo e já era. - Sorriu e eu neguei com a cabeça.

- Paga uma garota pô.

- E tú, tem alguém pra te visitar já? - Perguntou e eu assenti com a cabeça. - Aí sim pô, maneiro.

- Essa semana já tem visita em, podem ficar animados - Lobo falou e eu sorri de lado.

Tomare que chegue logo esse dia, matar saudade da minha donzela rapá, tá maluco. Viver preso, rodeado de macho, dá certo não parceiro.

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DO MEL AO FÉU. Onde histórias criam vida. Descubra agora