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Luís Filipe - Bárbaro

Missão braba que me colocaram, assalto ao carro forte pô, bagulho foi sinistro, foi intenso, mas o caras tinham se ligado antes e já tinham acionado a polícia.

Ainda conseguimos pegar a grana e matar amarrar os filhas da puta, mas alguém tinha que despistar os canas que chegaram no bagulho, bem na hora que terminamos pô, e eu decidi ir, peguei a moto e saí em fuga enquanto os manos picavam o pé na van.

Estava achando que tinha ganho quando levei uma topada na moto e voei longe, já era porra, caí no bagulho, só não me ralei todo por conta da roupa, queda foi feia já levantei algemado levando esculacho.

Tô aqui na delegacia ainda, amanhã eu desço para o presídio, já tô imaginando o inferno que vai ser viver na tranca.

Tentaram de todas as formas fazer com que eu falasse quem tava junto, porém calado estava, calado permaneci.

Filho da puta do juiz negou minha saída na audiência de custódia, era réu, mas levei nas costas o porte e o roubo, me fudi nessa porra. Pelo menos dessa vez os caras mandaram alguém pra me defender.

Esqueci do que fizeram daquela vez comigo não. Passa batido mas não despercebido.

Tava sentado no chão quando o advogado chega com o policial, me levantei e fui até a grade.

- Colfoi pô? - Perguntei estranhando, ele já tinha vindo aqui hoje, algum bagulho aconteceu.

- Luis, a sua namorada ligou - Falou e pausou, passei a mão no rosto respirando fundo. Já vi que tinha dado ruim em algum bagulho.

- Sim pô, da o papo logo, sem enrolação - Falei e ele assentiu.

- Ela foi dar a notícia da sua prisão pra sua avó, sua avó passou mal, levaram ela pro hospital e ela infartou, infelizmente não resistiu.

- Colfoi cara? Papo de maluco pô - Falei já sentindo uma dor cabulosa no peito, tá maluco porra - Minha coroa morreu? - Ele assentiu com a cabeça e eu não consegui mais raciocinar direito.

Senti até falta de ar no bagulho. Que merda é essa parceiro.

Minha coroa porra, não caralho, minha vó que fez o papel de mãe, acabou pra mim na moral, tenho ninguém mais cara, nenhum familiar,  minha coroa era meu tudo parceiro.

Me criou quando me abandonaram, da melhor forma, sempre esteve ali por mim, querendo o melhor pra minha vida, caralho parceiro. É não pô, pode ser não um bagulho desse, minha coroa velho.

- Eu vou poder me despedir dela? - Perguntei já sentindo minha voz fraquejar.

- Infelizmente não, até tentei, mas não consegui liberação.

- Pode meter o pé então - Falei e assim que ele saiu me sentei no chão e coloquei a mão sobre o rosto.

A culpa foi minha, se eu não tivesse caído ela não ia passar mal com a notícia, agora não posso nem me despedir da minha coroa,  caralho, que dor cabulosa no meu peito mermão, bagulho ruim demais, tô só pô, tô sem ninguém mais, só queria que fosse mentira tá ligado, um pesadelo. 

Quando vi já tava chorando igual moleque. Como vou viver sem ela, chegar em casa e ela não estar lá fazendo café ou assistindo, porra. Tô botando fé num bagulho desse não.

Minha coroa se foi e eu não vou ver ela pela última vez. Só restou as memórias dela, todas boas, metia mó bronca, brigava pra caralho pra eu ir pra escola, era preguiçoso pra caralho nisso.

Mas pelo menos o orgulho de ter me formado na escola a ela eu dei. Mas dei o desgosto de entrar nessa vida.

Dona Josa, minha coroa eternizada no coração e na memória.

Luana.

No outro dia.

Estava aqui no enterro da vozinha, eu chorava enquanto olhava ela ali dentro do caixão, minha mãe e minha irmã estavam do meu lado.

Minha mãe me acalentou muito e diminuiu um pouco a culpa que eu sentia, mas ainda me questiono que se eu não tivesse contado seria diferente.

Mas agora não tinha mais nada o que fazer,  ela já tinha partido.

Dona Josa era muito querida pelos moradores do favelão, muita gente chorando pela perda dela vindo dar o último adeus.

O pior de tudo é que Luis perdeu o direito de se despedir da própria avó por ter sido preso, nem gosto de imaginar como ele deve estar e o que se passa na cabeça dele nesse momento. Uma hora dessa já está sendo transferido para o presídio.

- Senhora, já deu o horário - Um rapaz que trabalha no cemitério avisou a minha mãe, ela que estava responsável por tudo.

Os caras da boca arcaram com tudo.

- Tudo bem - Ele assentiu e foi fechar o caixão, nos acompanhamos até a cova e enquanto o caixão descia.

- Segura, na mão de Deus, segura, na mão de Deus, pois ela, ela te sustentará - O pessoal cantava e o coração doía mais, ali era a certeza de que não iríamos mais ver ela, que a passagem dela nessa terra acabou.

Joguei as flores que tinha em mão em cima da onde ela foi sepultada e me abaixei colocando a mão.

- O seu neto não pôde se despedir, mas a senhora sabe, que ele a amou e ama demais e que a senhora foi tudo na vida dele. Que a senhora descanse em paz.

Me levantei e fui saindo do cemitério na companhia de minha mãe e Louise, cheguei em casa, tomei um banho e me joguei na cama pra ver se eu conseguia descansar um pouco, não havia pregado o olho durante a noite.

DO MEL AO FÉU. Onde histórias criam vida. Descubra agora