Agradecimento mais sincero

625 103 30
                                    


Rafaella pós a toalha na frente da sua boca, para o caso da sua ânsia de vômito se concretizar.

- O que acho que aconteceu foi o seguinte – Francis entrelaçou os dedos e parecia estar com a atenção concentrada nas pessoas fazendo exercícios lá embaixo. – Bicalho dispensou você e começou a sair com a Luiza. Isso teve dois efeitos: acalmou Luiza por um tempo e a deixou mais vulnerável e eliminou a conexão de Gizelly com o crime. Por que mataria alguém por causa de uma mulher com quem não tinha mais relação? Ela armou tudo muito bem, não contou nem para você. E você reforçou a mentira com seu sofrimento genuíno.

Francis começou a batucar com os pés e com os dedos. Seu corpo esguio exalava energia nervosa.

- Bicalho não encomendou o serviço. Seria muita burrice. Ela não queria que o dinheiro fosse rastreado ou que o pistoleiro acabasse confessando tudo se fosse preso. Além disso, era questão pessoal. Envolvia você. Ela queria que a ameaça desaparecesse de uma vez por todas. Organizou um evento publicitário de última hora. E assim conseguiu seu álibi. A imprensa estava lá e fotografou tudo. E ela sabia que você também teria um álibi incontestável.

Os dedos de Rafaella se cravaram na toalha.

Meu Deus...

As pancadas dos corpos contra o tatame, os gritos das instruções que eram dadas e os gritos de triunfo dos alunos se misturavam ao zumbido constante em seus ouvidos. Havia um monte de coisas acontecendo diante de Rafaella e seu cérebro não era capaz de processar nada. Parecia que ela estava sendo sugada para um túnel sem fim, e a realidade ia se encolhendo cada vez mais até se tornar apenas um pontinho preto distante.

Francis abriu a garrafa d'água e bebeu grandes goles, depois limpou a boca com as costas da mão.

- Sou obrigada a admitir, o lance da festa me deu trabalho. Como desmontar um álibi como esse? Tive que voltar a escola três vezes antes de descobrir que havia acontecido um incêndio na cozinha naquele dia. Nada de grave, mas tiveram que evacuar o prédio inteiro durante uma hora. Os convidados ficaram esperando na calçada. Bicalho ficou entrando e saindo do prédio, tomando as providencias que uma dona precisa tomar nessas circunstancias. Falei com um monte de funcionários e convidados, e eles afirmaram que ela estava por perto, mas ninguém sabia precisamente o horário. Todos disseram que a situação era caótica. Quem fica olhando no relógio no meio de uma confusão dessas?

Rafaella sentiu que estava sacudindo a cabeça, como se Francis estivesse lhe fazendo uma pergunta.

Francis jogou os ombros para trás.

- Cronometrei o tempo da entrada de serviços, onde Bicalho foi vista conversando com os bombeiros, até o hotel onde Luiza Maurilio foi encontrada sem vida. Quinze minutos a pé. Meia hora no total. Maurilio foi morta com uma única facada no peito. Bem no coração. A coisa toda não deve ter demorado mais de um minuto. Não foi encontrado nenhum sinal de luta corporal, e o corpo estava diante da porta. Meu palpite? Maurilio abriu a porta para Bicalho e não teve tempo nem de pensar. E adivinha só... O hotel não possuía sistema de câmeras, assim como o sistema de câmeras do edifício da escola estava sendo trocado por um equipamento mais moderno, então naquele dia estava desligado.

- A grande descoberta aconteceu dois dias depois, quando descobrirmos uma caixa escondida quando voltamos ao hotel. Encontramos fotos que ligavam Maurilio a um caso em aberto, dado como morte suspeita. O homem foi deixado em um hospital após dar entrada por um suposto mal estar, mas depois dos exames descobriram que sua morte foi induzida. Quando fomos procurar a esposa da vítima, ela simplesmente havia desaparecido um dia antes. Informando apenas que passaria um tempo longe, mandando o filho para a casa da avó materna, dias após receber uma visita, visita esta que a sua mãe não soube explica quem seria.

Era vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora